O regresso às derrotas no clássico – ilações a tirar

José DuarteJaneiro 6, 20205min0

O regresso às derrotas no clássico – ilações a tirar

José DuarteJaneiro 6, 20205min0
Os comandados de Silas escorregaram em casa na recepção ao FC Porto, mas há pontos positivos a tirar do encontro. Contudo, o retorno às derrotas no clássico com os "dragões" é um sinal negativo para o clube?

O que certamente a história vai guardar no seu arquivo relativamente ao clássico Sporting CP – FC Porto da época 2019-2020 será pouco mais do que o resultado final. Resultado esse que também significa o fim da invencibilidade do Sporting em casa ante o rival de ontem, pondo fim a uma dúzia de anos sem perder.

O que certamente a história esquecerá é que este clássico foi talvez o mais desequilibrado em nosso favor nos tempos mais recentes e se o termo de comparação for, por exemplo, o jogo do ano passado é quase cruel comparar resultados e exibições. Mas há sempre mérito dos vencedores porque tal representa terem logrado obter aquilo que faz toda a diferença no futebol: mais 1 golo (pelo menos…) que o adversário.

Entre ganhar um pontito como no ano transacto (de que nada serviu) e não ganhar nenhum como sucedeu agora, parece-me claro que há mais caminho no resultado totalmente negativo de ontem. O Sporting adaptou-se às circunstâncias (mesmo que adversas praticamente a partir do apito inicial), os jogadores deram tudo o que podiam dar e a equipa podia ter dado a volta ao resultado, exibindo uma superioridade raramente vista recentemente.

E se ganhar não aconteceu é em si mesma que a equipa deve procurar explicações. Quer na forma como falha em cascata no golo inicial (Ristowski deixa escapar Marega, Coates demora muito a pôr o carro a trabalhar e Max hesita fatalmente) quer como deixa sozinho, de forma infantil (Doumbia, Bolasie) um jogador (Soares) que nem se pode dizer que se desconheça a apetência para nos fazer golos. Tratando-se de uma bola parada a inadmissibilidade de um lance deste género numa equipa com a nossa ambição diz muito de onde estamos e o que precisamos de fazer. Perdemos por culpa das nossas falhas, não soubemos aproveitar o que construímos e foram elas que puseram 3 pontos na bandeja para o adversário.

AS NOTAS INDIVIDUAIS

Max: é ainda cedo para ele, não está ainda preparado para este nível, apesar do potencial que encerra. Numa época como a actual faz sentido dar-lhe minutos para crescer. Não ficou bem no golo inicial.

Coates: Inadmissível o comportamento e falta de reacção no golo inicial, com a agravante de ser um veterano e conhecer de cor este tipo de acção de Marega.

Mathieu: imperial. Recolham-se as células estaminais e clone-se ASAP.

Acuña: são conhecidas as suas limitações que, mais uma vez, foram ultrapassadas com uma entrega e empenho inexcedível que, quando sucede, faz dele um jogador imprescindível.

Doumbia: cresceu mais com estes meses com Silas que todo o outro tempo que teve desde que chegou. 

Wendel: ainda lhe falta o finalmente para se afirmar em definitivo. Falta-lhe aplicação e capacidade de sofrimento para correr e pressionar para se concluir a sua adaptação ao futebol europeu e se tornar num jogador que justifique o que custou.

Vietto: Se é verdade que a sua falta de eficácia contribuiu para a definição do resultado, não o é menos que é um jogador que sabe o que tem de fazer com bola e sem ela. Falta conseguir mais tempo de presença no jogo.

Bruno Fernandes: obviamente que Sérgio Conceição iria fazer os possíveis para o retirar do jogo, o que de certa forma foi conseguido. E Bruno Fernandes também não esteve feliz a tentar contrariar a intenção do técnico.

Luiz Philyppe: é o único mas não é único. Já provou que pode ser útil em determinados contextos mas nestes jogos desaparece. Devia ser mais acutilante, não tem velocidade, não explora a profundidade, não se oferece para apoio, não desestabiliza a ligação dos centrais com movimentos de arrastamento.

Silas: o melhor elogio que lhe podia ser feito recebeu-o de Sérgio Conceição: “o Sporting foi o adversário mais difícil da época“. Sagaz, o treinador portista sabe que o título não vai para Alvalade mas a sua atribuição passa por lá e até muito em breve. E, ao contrário do que afirmou Conceição, não foi a o acerto na substituição de Nakajima que fez virar o clássico, mas sim o golo “contra a corrente do jogo” de Soares. Não tendo as armas que dispunha o seu congénere, Silas soube ler bem onde e como provocar danos à armada portista. Prometeu regressar ao terceiro lugar e ficamos todos à espera que cumpra a promessa, apesar de se reconhecer os desequilíbrios do plantel que lhe entregaram em mãos.

PROBLEMAS DE BANCADA DEMONSTRADOS NO LOCAL ERRADO?

Uma nota final para as claques e o respectivo e estridente silêncio na primeira parte do jogo. As claques servem para apoiar o Sporting Clube de Portugal, não este ou aquele presidente ou pretendente(s). Não deveriam servir por isso para fazer “política”. Se calados demonstram a sua necessidade relativamente à inoperância do resto das bancadas, também espelham a sua inutilidade calados, especialmente em jogos como o de ontem.

Obviamente que isto é apenas uma ínfima parte do que há dizer sobre esta matéria, o que terá suceder oportunamente num post a propósito. Mas ontem quem puxou foi a equipa pelo público, especialmente na segunda parte. Quando mais foi preciso, após o 2º golo forasteiro, voltou o silencio que apenas viria a ser interrompido pelos pedidos de demissão.

Casa cheia… mas com o sentimento errado (Foto: Isabel Silva Fotografia)

Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS