O Mercado de Inverno adaptado do Sporting CP

Ricardo LopesDezembro 28, 20236min0

O Mercado de Inverno adaptado do Sporting CP

Ricardo LopesDezembro 28, 20236min0
Ricardo Lopes faz uma análise sóbria aos desafios do mercado de inverno de 2023 do Sporting CP e como podem lucrar desportivamente com ele

O Sporting CP concretizou o mercado de verão praticamente prefeito. Vendeu os excedentários, realizou uma venda que encheu os cofres e contratou elementos de real valia. Em termos de entradas, podemos garantir que o trabalho realizado foi, até ao momento, o magnum opus de Hugo Viana, devidamente acompanhado pelo scout e por Rúben Amorim a ter clara influência nas movimentações dos leões. Chegaram três nomes, dois deles para serem mais valias no imediato e uma promessa na sua posição (provavelmente a maior, ao nível europeu).

Viktor Gyokeres está a ser o elemento diferenciador de 2023/24, estando referenciado por tubarões europeus. São 17 golos e seis assistências, em somente 20 jogos, números que até nos colocam a pensar na dependência de o Sporting tem em relação ao sueco. Morten Hjulmand já tinha experiência em uma Big 5, mas vinha com a dura incumbência de esquecer Manuel Ugarte, missão complexa para qualquer um que aceitasse tal desafio. A verdade é que tem sido o “6” perfeito, dando sempre confiança aos adeptos e ao colega de posição (Morita, Daniel Bragança ou até mesmo Pedro Gonçalves). Por fim, Iván Fresneda tem sido o atleta que tem somado menos minutos (está inclusivamente lesionado), mas pelo potencial que mostrou no Real Valladolid CF, o espanhol deverá ser destaque no futebol europeu em pouco tempo.

Olhando à balança de transferências, o Sporting terminou por lucrar 69,5 milhões de euros, investindo 54 (valor de Francisco Trincão está incluído). Conseguir ficar com um plantel melhor e ainda gerar um resultado positivo não é um desafio aos dias de hoje. No entanto, a equipa não está perfeita e continua a ter as suas falhas. Se os verde e brancos quiserem vencer a Liga Portugal e chegar longe da Liga Europa, é necessária ação em janeiro.

O problema é que o mercado de inverno tem caraterísticas muito específicas. As equipas não estão dispostas a vender os seus melhores jogadores a um preço razoável e os saldos que existem são de atletas que não encaixam no Sporting: elementos sem ritmo competitivo e com um alto ordenado. Ou seja, a maioria dos emblemas apontam para as cláusulas de rescisão das suas joias ou então o preço inflaciona a níveis brutais. Hoje em dia Ousmane Diomandé é um nome perfeitamente consolidado no futebol português, mas quem não criticou o valor da sua compra? A missão do Sporting é encontrar mais elementos deste estilo, sendo algo muito complicado de se fazer.

Ao olharmos para o plantel da equipa do José de Alvalade, encontramos algumas falhas. Falta um defesa central, com a ida de Diomande para a CAN e as lesões constantes de St. Juste e no meio-campo há uma vaga que poderia ser preenchida, problema adensado pela ida de Morita para a Taça Asiática. Por fim, a ala esquerda ficaria a ganhar um novo fôlego com alguém capaz de desempenhar várias funções, um pouco como Nuno Santos.

Há ainda o tema Antonio Adán, que tem estado a um nível abaixo do esperado. De acordo com a FootyStats, o espanhol sofre 0,93 golos por partida, valor elevado em consideração com a comparação com Trubin (0,5), ou até mesmo com Diogo Costa (0,79), que conta com uma defesa à sua frente que está constantemente a sofrer alterações. Segundo o SofaScore, Adán sofreu mais 3,38 golos do que era devido e isso acaba por influenciar os resultados do Sporting. Ainda assim, é saudável trocar de guarda-redes a meio da época? Na minha opinião não, por dois motivos muito simples. Provocar uma mudança na posição em janeiro afetará igualmente a defesa, que pode levar a que o reforço não entre bem ou que os elementos à sua frente falhem em alguns lances, até que haja o entrosamento total.

A outra razão é o ordenado do jogador formado no Real Madrid CF. Ter um elemento que aufere uma grande percentagem da massa salarial no banco não faria grande sentido, muito menos quando está longe de ser um ativo “tóxico” ou de ter um suplente muito superior a ele. O Sporting neste caso deveria entrar em campo, mas para agir no verão. Há nomes interessantes a cumprir o último meio ano de contrato (Stole Dimitrievski “grita” Sporting) e que podem suceder a Adán no verão, permitindo a saída do jogador nessa ocasião e pela “porta grande”.

O Sporting tem o tema do defesa central minimamente resolvido. Rafael Silva está fechado com o Leixões SC e parece ter a qualidade para ser uma das alternativas (Ousmane Diao teria sido um bom investimento de igual forma, podendo-se deixar o senegalês cedido ao CD Mafra) e poder crescer de leão ao peito. Contudo, no caso dos outros dois postos, não deverão existir estas oportunidades de negócio. Não terão que ser investidos os milhões do verão, mas chegar perto dos dois dígitos nas duas ocasiões parece ser algo obrigatório, caso se queira um elemento que seja uma real mais valia desde o dia em que aterre em Lisboa. Isto não é um facto somente para o Sporting, ma sim para SL Benfica e FC Porto, que terão que ir ao mercado. No entanto, é 100% uma excelente ideia repetir o processo da última janela: contratar pouco, mas bem, nem que para isso se tenha que gastar um pouco mais. Vejamos o exemplo de Gyokeres. Custou 20 milhões de euros (preço deverá aumentar devido a bónus), mas a sua saída poderá render mesmo a cláusula de rescisão, que são 100 milhões de euros. Obviamente que não se acerta 100% das vezes, mas o bom estudo de mercado evita grandes falhanços. Os sportinguistas cansaram-se de compras como Eduardo Henrique, Arthur Gomes ou Rochinha, que vinham para “encher plantel”. Querem jogadores que se estabeleçam como mais valias, mesmo que sejam um pouco caros. Para alternativas podem servir bem os atletas da formação (em certas posições), ou jogadores com idade para crescer (Rafael Silva).

Janeiro será fundamental para a segunda metade da época dos Três Grandes, mas o Sporting tem a receita certa na mão. Apenas terá que a seguir, adaptando-se à realidade do mês em que não existem saldos, pelo menos no futebol.


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