A Triste Assembleia Geral do Sporting Clube de Portugal

José Nuno QueirósSetembro 29, 202011min0

A Triste Assembleia Geral do Sporting Clube de Portugal

José Nuno QueirósSetembro 29, 202011min0
As contas não foram aprovadas e José Nuno Queirós indagou-se sobre o porquê desta recusa da maior parte dos sócios em votar a favor do Orçamento e Relatório e Contas. Poderá isto forçar uma mudança na direcção?

Foi sem grande surpresa que se soube que a Assembleia Geral do Sporting terminou com o chumbo do Orçamento do Clube para 2020/2021 e do Relatório de Contas relativo à época 2019/2020. E digo sem surpresa não por os documentos não serem válidos para aprovação mas porque não foi sobre isso que a grande maioria foi votar.

Dos 3115 votantes que se deslocaram até à capital para exercer o seu direito de voto, ficou bastante percetível que a grande maioria nem sequer sabia o que estava em causa na votação, muito menos tem as qualificações necessárias para perceber sobre o que está a votar.

Vamos começar pelo ponto 1: Orçamento dos Rendimentos, Gastos e Investimentos do Sporting Clube de Portugal, para o exercício de 1 de Julho de 2020 a 30 de Junho de 2021.

Neste ponto a grande crítica dos sócios leoninos vai para o facto de o orçamento para as modalidades ter sido reduzido. Ora isto é algo que é 100% obrigatório. Num ano atípico em que os pavilhões ficaram despidos de público, em que as competições não foram concluídas, em que os patrocinadores viram as suas empresas ficarem com menos receita, seria impossível pensar em aumentar ou manter o orçamento.

Em segundo lugar é importante para qualquer clube conseguir poupar, aumentando a qualidade do plantel, algo que por mais contraditório que possa parecer é perfeitamente exequível. Basta ver o exemplo do Hóquei em Patins onde Caio e Raul Marín (dois jogadores caros e com rendimento abaixo do exigido) foram vendidos tendo regressado dos empréstimos o Alvarinho e o Gonçalo Nunes (dois jovens com enorme qualidade e potencial e que não recebem o mesmo que os outros 2 em ordenados).

Quanto a tudo o resto que está no orçamento, apenas alguém com conhecimentos na área das finanças e da economia pode conseguir avaliar com 100% de conhecimento de causa, não valendo, no entanto, de nada a opinião de candidatos assumidos nos seus blogues pessoais uma vez que existe uma agenda eleitoralista por trás.

Olhando para o ponto 2: Relatório de Gestão e as Contas do Sporting Clube de Portugal, respeitantes ao exercício de 1 de Julho de 2019 a 30 de Junho de 2020

O Chumbo de um orçamento é pura e simplesmente inaceitável e incompreensível. Um R&C não é nada mais do que uma amostra das receitas e das despesas da época transata. Ora o que está ganho está ganho e o que está perdido está perdido. Chumbar o relatório não faz o clube ganhar mais ou perder menos.

É precisamente por este ponto que se percebe que não foi por culpa dos documentos que se chumbou mas sim porque os sócios confundiram uma Assembleia Geral ordinária com uma Assembleia Geral eleitoral. Só este lapso de leitura dos sócios na convocatória pode explicar o que se passou em Alvalade.

A campanha contra o presidente.

Desde que foi eleito que o presidente Frederico Varandas tem sido alvo de críticas por parte de uma minoria ruidosa que tenta a todo o custo denegrir a sua imagem apesar de todos estes feitos em apenas 2 anos.

No Futebol o atual presidente conquistou 2 troféus na mesma época (algo que não acontecia desde 2008, ou seja há 11 anos!!), é certo que esteve uma época sem ganhar qualquer troféu, mas isso não é nem nunca foi motivo para despedimento porque o mesmo aconteceu em 2009,2010,2011,2012,2013,2014 e 2017, ou seja em 7 dos últimos 12 anos…

No Andebol o clube não conseguiu revalidar o título nacional, mas conseguiu a melhor campanha europeia da história do clube e do andebol nacional.

No Hóquei em Patins foi conquistada a Taça dos clubes campeões europeus pela primeira vez desde 1977! E a primeira Taça Continental da história do clube!

No Futsal foi conquistada também pela primeira vez a principal prova europeia de clubes, bem como uma Supertaça e uma Taça de Portugal.

No Basquetebol toda a secção sénior masculina foi uma obra desta direção.

No Judo foram conquistados de forma consecutiva os dois únicos troféus europeus da história do clube!

No Voleibol a equipa estava numa meia final europeia que foi cancelada devido à pandemia, algo que também sucedeu no Ténis de Mesa.

Em todas as modalidades aquando da interrupção pela pandemia a equipa estava a lutar pelo título de campeão nacional estando mesmo em 1º classificado em algumas das mesmas e inserido em várias das taças ainda em disputa.

Ao todo e para se ter uma noção o Sporting tem 37 troféus europeus e Frederico Varandas foi presidente em 8 deles (21,6%). É o segundo presidente da história do clube com mais troféus europeus, apenas superado por João Rocha.

Para termos noção fica em baixo a tabela com o número de títulos e os anos à frente do clube.

João Rocha – 12 troféus europeus em 13 anos de presidência (0,92 títulos por ano)
Frederico Varandas – 8 troféus europeus em 2 anos de presidência (4 por ano)
Bruno de Carvalho – 7 troféus europeus em 5 anos de presidência (1,4 por ano)
 José Sousa Cintra – 6 troféus europeus em 6 anos de presidência (1 por ano)
Bettencourt, Vasco Rebelo, Roquette, Jorge Gonçalves- 1 troféu europeu cada um

Com a particularidade de que João Rocha o fez em apenas duas modalidades (Hóquei em Patins e Atletismo) ao passo que Frederico Varandas o fez em 5 das 7 modalidades que conquistaram troféus (Futsal, Goalball, Hóquei em Patins, Atletismo e Judo), duas delas nunca tinham ganho até à presidência de Frederico Varandas! Ninguém ganhou em tantas modalidades em toda a história do clube, nem em tão pouco tempo de liderança!

Com isto não se quer menosprezar o trabalho realizado por antigas direções. É óbvio que a direção de Bruno de Carvalho criou bases para que fosse possível a direção de Frederico Varandas continuar a conquistar troféus. No entanto, isto não pode retirar o mérito à atual direção, uma vez que ter boas bases não é garantia total de sucesso, sendo necessário trabalhar na mesma no limite para estar entre os melhores da Europa, mais ainda em revalidações de títulos no ano seguinte.

A nível financeiro o Sporting realizou a segunda maior venda do futebol português com Bruno Fernandes (entretanto ultrapassado no negócio Ruben Dias com a particularidade de este negócio só ter sido realizado mediante a transferência de um outro ativo). O passivo está em queda pelo 4º trimestre consecutivo conseguindo também amortizar a dívida bancária, já se conseguiu poupar quase 9M em salários, atingiu-se um volume de negócios record na história do clube e apresentam-se resultados positivos nas contas na ordem dos 12M.

Isto tudo numa das piores fases do ponto de vista financeiro na história do clube. O Clube tinha visto saírem a custo zero os melhores jogadores do plantel (pelo meio a comissão de gestão conseguiu reaver 3 jogadores), não havendo certezas de quando ou até se ganhariam os processos em tribunal, muito menos de quando é que receberiam o hipotético dinheiro. Sem ativos valiosos e com necessidades de tesouraria superiores a 200M, é fácil de concluir que parceiros, investidores e acionistas não confiavam na Sporting SAD, nem viam o clube como um potencial parceiro estratégico para as suas áreas de negócios.

Olhar para isto tudo e dizer que o trabalho realizado é assim tão mau por uma má época no futebol é incompreensível. O presidente foi democraticamente eleito como todos os antecessores para um mandato de 4 anos, mas os sócios que não aceitam a democracia, pura e simplesmente porque não ganhou o candidato que queriam, pensam que podem atropelar os estatutos e marcar já eleições ao fim de 2 anos de mandato.

A Vergonhosa atuação de alguns núcleos do Sporting.

A juntar a tudo isto os sportinguistas ainda são brindados com um movimento designado de #AcordaSporting. Uma inédita atuação de alguns núcleos que de forma escandalosa querem ser eles a decidir os caminhos tomados pela direção. Algo absolutamente surreal.

Este movimento surge ainda sem qualquer aval por parte dos associados dos núcleos que são completamente esquecidos para que as personalidades que os dirigem possam usar o nome do núcleo e as suas plataformas sociais com vários seguidores para denegrir ainda mais a direção usurpando tudo aquilo que os núcleos representam e abusando dos poderes que os núcleos têm.

Comunicado do Movimento #AcordaSporting (1)
Comunicado do Movimento #AcordaSporting (2)

No comunicado lançado pelos núcleos é possível ver os mesmos a quererem decidir quem pode ser vendido por parte da direção:

Assim devem ser inegociáveis os poucos atletas com estas características que ainda têm contrato com o clube e já têm alguma alma clubística – Acuna, Vietto, Wendel e Coates.

Um comunicado que se pode considerar inédito no futebol, nunca antes de viu tal abuso de poder, algo talvez apenas comparável com o triste dia em que uma minoria de sócios do Sporting impediu a entrada de José Mourinho no clube apenas para o deixar, eventualmente, conquistar tudo no clube rival e catapultá-lo para uma hegemonia no futebol português.

No mesmo comunicado é possível verificar que os núcleos insinuam que a direção está a colocar à venda por baixo preço os jovens valores da formação, no entanto, estamos no final do mercado e até ver não saiu nenhum jovem talento, não há notícias de nenhuma saída iminente, e as poucas abordagens foram remetidas para os valores das cláusulas de rescisão segundo noticiaram os diários desportivos. Sendo assim é mentira a seguinte afirmação do comunicado:

Tem algum fundamento que todos estes jogadores (jovens jogadores) estão indiscriminadamente no mercado, dependendo a sua venda tão somente de valores a oferecer por putativos interessados?

Como se não fosse suficiente os núcleos e alguns associados ainda se manifestam contra a existência do voto digital que permitiria aos sócios do Sporting CP votar nas assembleias gerais do clube sem terem que se deslocar a Lisboa, cimentando ideias conspiracionistas de que o voto digital serviria para manipular resultados.

Não se consegue perceber qual o fundamento desta decisão. A única justificação que parece existir é quererem que seja obrigatório a deslocação aos núcleos, sim os mesmos núcleos que já provaram a sua enorme parcialidade e dos quais já se sabe o desejo que têm para futuras assembleias gerais.

Isto não só mantêm complicado o exercício do voto como não facilita a votação porque obriga na mesma a deslocação aos núcleos quando é sabido que existem cidades que não os possuem e que alguns emigrantes teriam, imagine só, que sair do seu país caso quisessem votar porque não podem faze-lo no seu telemóvel.

A não inclusão do voto digital vai continuar a proporcionar momentos como os vividos nesta assembleia geral. Quem quer votar a favor terá medo porque são constantes as notícias de agressões por parte de membros que, alegadamente, pertencem a claques leoninas e quem vive longe não pode muitas vezes votar por motivos financeiros. E assim temos apenas 3115 votantes dos 120.435 votantes que existem, ou seja 2,58%. O mesmo exercício diz-nos que para o orçamento votaram contra 2377 sócios (1,97% dos sócios do clube) e no relatório de contas votaram contra 2262 sócios (1,88% dos sócios do clube).

Enquanto forem menos de 2% dos associados a terem o poder de decidir o futuro de um clube tão desunido, o Sporting não irá ter estabilidade nem credibilidade nas suas eleições. Ainda para mais quando se sabe que nestes casos de descontentamento os opositores, como as claques organizadas e direções de núcleos, se organizam muito mais facilmente para irem votar do que quem apoia.

Por fim gostava de terminar perguntando a todos os críticos de que forma é que esta atuação demonstra paixão pelo clube? O Clube consegue melhores resultados desportivos à custa da instabilidade? Parece-me que não. Para além da natural incompatibilidade que são os dois desejos, não sendo possível desejar o insucesso e o fim de Frederico Varandas desejando o sucesso desportivo e financeiro do clube. Parece-me então evidente que apenas o apoio e o respeito pelos resultados eleitorais podem conduzir o Sporting Clube de Portugal a um caminho de sucesso e vitórias, tudo o resto é apenas o desejo de quem quer ver o Sporting a perder, característica que achava que pertencia apenas aos rivais do clube…


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