Selecção Nacional: Estratégia certa e opções erradas ou estratégia errada e opções certas?
Playoff, essa palavra que durante anos criou calafrios e constantes preocupações nos adeptos portugueses muito devido à forma atabalhoada como se chegava às fases-finais de Europeus e Mundiais, tendo conseguido evitar essa eliminatória de nervos e stress tanto no apuramento para o Campeonato da Europa (2016) e Mundo (2018), e, ao que tudo indica, evitará novamente para o Europeu de 2020.
Só um cenário dantesco poderá forçar os comandados de Fernando Santos a caírem para uma eliminatória de apuramento, já que para isso tinham de se registar derrotas com a Lituânia (casa) e Luxemburgo (fora). Ou seja, e ao contrário do que alguns comentadores desportivos e meios de comunicação social veicularam, Portugal depende só de si para chegar ao Europeu, segurando o figurativo “faca e queijo na mão” na corrida para o Campeonato da Europa de 2020, competição que se irá desenrolar em 12 cidades diferentes espalhadas pelo Velho Continente.
Com o destino controlado, a Selecção das Quinas só tem de garantir vitórias frente a duas formações extremamente acessíveis, que merecem respeito mas que de forma alguma podem ser colocadas no mesmo ou próximo do patamar que Portugal consta. É normal que exista da parte de alguns adeptos uma dose de dúvida em relação ao equilíbrio estrutural da estratégia de Fernando Santos, pairando no ar a questão da esquizofrenia ofensiva e a displicência defensiva, dois factores vislumbrados na derrota em Kiev.
Terá sido a melhor solução optar por João Moutinho e João Mário no meio-campo? A falta de harmonia no ataque entre Cristiano Ronaldo, Bernardo Silva, Gonçalo Guedes e/ou João Félix (nos últimos 4 encontros tem sido a matriz do ataque português) tem solução à vista? Quem está a conceder demasiado espaço na defesa, os centrais ou laterais? E Fernando Santos tem decidido bem na escolha dos suplentes?
Existe mais uma série de outras questões (válidas), mas é natural que a maior dificuldade denotada no desaire frente à Ucrânia deve-se à falta de fluidez e/ou assertividade no ataque, com João Mário e João Moutinho a revelarem algumas dificuldades no aproximar junto à área para darem outra linha de passe. Mesmo que se tenham notado algumas melhorias com a entrada de Bruno Fernandes, não foi o suficiente para dar velocidade na criação de linhas e de combinações que colocassem em xeque a defesa da Ucrânia.
Não é mentira dizer que Pyatov teve uma noite perfeita, tendo afastado 8 remates do fundo das redes, sendo que 90% destes lances nasceram sempre mais do individualismo de jogadores como Cristiano Ronaldo, Bernardo Silva ou Danilo Pereira (o remate à barra) ou de lances de bola parada, ficando de fora aquele trabalho colectivo que tinha sido bem trabalhado entre Setembro e Novembro de 2018 ou durante a Liga das Nações em Junho passado.
FELIX UMA FALHA A CURTO-PRAZO OU UMA GARANTIA A LONGO?
O maior problema reside então numa estratégia que não serve perante os protagonistas de Portugal ou está no facto das opções escolhidas não serem as melhores perante uma esquema de jogo bem idealizado e que já deu frutos no passado? Ambos os cenários têm os seus factos e argumentos, e é necessário observarmos algumas das mudanças operadas que podem estar a influenciar o rendimento instável das Quinas a começar pela inclusão de João Félix no 11 titular ou como solução de banco.
O avançado de 19 anos, que já soma 4 internacionalizações por Portugal, ainda não realizou um jogo minimamente satisfatório e facilmente se vislumbram amplas dificuldades do jogador do Atlético Madrid em encaixar na estratégia de jogo de Fernando Santos, estando constantemente perdido dentro de campo, apostado sempre em atacar os adversários com dribles mas sem ter noção na maioria das ocasiões o que fazer ou com quem combinar nas fases mais avançadas do jogo.
Mas não é só no excesso de “liberdade” que está o problema de Félix, uma vez que a falta de eficácia junto à baliza tem sido uma constante e a queda de intensidade à medida que o jogo vai prosseguindo é notória e revela que o jovem avançado não está pronto para assumir um papel de protagonista.
Mas para este problema há solução? Fernando Santos poderia ter experimentado colocar um avançado de área com experiência como André Silva, que depois de uma fase negativa no Sevilha (depois de ter feito 12 golos no início da época anterior acabou por desaparecer das convocatórias da equipa espanhola) tem conseguido afirmar-se ao serviço do Frankfurt, apresentando-se fisicamente em boa forma e mais confiante. Ou seja, porque é que o seleccionador português não optou por lançar o avançado ex-AC Milan em campo quando está num bom momento, podendo dar outra liberdade quer a Bernardo Silva ou Cristiano Ronaldo, para além de ser um bom alvo para os centros a partir dos flancos.
Seria minimamente importante apostar no ponta-de-lança do Frankfurt até para voltar a dar a Cristiano Ronaldo o companheiro ideal para a frente de ataque, não esquecendo o registo de 15 golos em 33 jogos do jovem avançado português e a forma inteligente como trabalha nas combinações entre-linhas.
“MIOLO” POUCO DINÂMICO EM KIEV… COMO PODERIA TER SIDO RESOLVIDO?
Contudo, os problemas da falta de volatilidade, opções e eficácia do ataque de Portugal não começam e acabam no trio da frente, uma vez que o meio-campo de construção tem revelado alguns problemas em jogos contra equipas como Ucrânia, isto é, de bloco defensivo baixo, meio-campo de retranca de dupla pressão (aproximação de um dos médios, com outro a limitar a zona de passe para o jogo exterior junto de si) e com cadência para recuperar não só bem a bola como lançá-la rapidamente.
Fernando Santos optou por ter um médio-defensivo mais físico como Danilo Pereira, combinando a experiência e capacidade de gestão de bola de João Moutinho e o virtuosismo táctico de João Mário… infelizmente, a falta de intensidade e capacidade de resposta rápida foram erros comuns ao duo Moutinho-Mário e talvez teria sido melhor incluir Rúben Neves, na tentativa de procurar a profundidade de jogo, algo que a Ucrânia se deu mal quando aconteceu (mas que raramente foi uma opção de Portugal).
William Carvalho fez mais falta do que alguma vez se pôde pensar, uma vez que tanto apresenta melhor capacidade de contra-reacção ao ganho de bola do adversário, assim como tem o capricho de se agigantar junto de médio-centros mais físicos.
A questão da defesa vai residir durante algum tempo, pois tanto Rúben Dias e Pepe têm pontos a favor e contra, mas valerá a pena pensar se a estabilidade defensiva de Portugal pode melhorar no imediato com a titularidade de José Fonte. É fundamental para o futuro das Quinas que Rúben Dias se afirme como o novo “patrão” do eixo-defensivo, mas na busca de resultados no próximo Campeonato da Europa, era importante procurar a melhor dupla possível tanto do ponto de vista táctico, comunicativo e de apoio.
Rúben Dias tem uma capacidade física melhor em termos de poder de explosão, resistência e durabilidade, mas a percepção dos mecanismos e movimentações dos adversários são faculdades que ainda não estão limadas pelo central do SL Benfica ao contrário do que se passa com os seus colegas de posição.
Pedro Mendes (Montpellier), Ferro (SL Benfica), Rúben Semedo (Rio Ave FC), Paulo Oliveira (SD Éibar), Diogo Queirós (Mouscron) são outras opções para o centro do eixo-defensivo, mas com menos 10 meses para o início de mais uma prova máxima da UEFA, dificilmente serão considerados para o elenco a convocar para o Europeu. Nas laterais as dúvidas estão praticamente silenciadas, com Nelson Semedo e Raphäel Guerreiro reis e senhores, restando a dúvida de quem vai aparecer como 2ª solução para a faixa direita… João Cancelo ou Ricardo Pereira?
São várias dúvidas e questões para Fernando Santos resolver em pouco menos de um mês, com dois jogos essenciais para o apuramento das Quinas para o Europeu, sendo que neste momento as possibilidades de atingir esse objectivo são bastante boas.