Roberto Martínez convocou os melhores para o Euro 2024?

Francisco IsaacMaio 26, 20245min0

Roberto Martínez convocou os melhores para o Euro 2024?

Francisco IsaacMaio 26, 20245min0
Roberto Martínez não "arriscou" e convocou uma selecção que foi longe de ser consensual... mas até que ponto?

26 jogadores estão convocados para o Campeonato da Europa 2024 e… mesmo assim, com a possibilidade de chamar mais três nomes, Roberto Martínez foi incapaz de elaborar uma lista correcta, lúcida e justa, caindo em total “desgraça” quando foi incapaz de responder às questões dos jornalistas de forma competente, abrindo o flanco para que o tom das críticas subisse de nível. Mas onde estão os pontos da discórdia? E o porquê de Roberto Martínez ter optado por este grupo de trabalho? Comecemos pela primeira questão.

SEM POTE, TOTI OU TRINCÃO

O primeiro pecado do seleccionador nacional passou pelo facto de ter deixado Pedro Gonçalves de fora da lista de convocados, optando por chamar uma série de outros nomes que, de uma forma ou outra, não têm o mesmo andamento, números e capacidade para transcender que o atleta do Sporting CP possui. Se Francisco Trincão é aceitável em certos moldes em ter ficado de fora, “Pote” é um erro claríssimo e que fica entravado na garganta da maioria dos adeptos portugueses. Porquê levar Pedro Neto (época largamente abaixo do normal, muito fruto das lesões e falta de forma)?

Até João Félix merecia menos estar na lista final que Pedro Gonçalves, olhando não só pelos parcos números ao serviço do FC Barcelona, mas também pela atitude arrogante que foi tendo durante a época, chegando mesmo a ficar renegado para uma situação de reserva num determinado período da temporada. Diogo Jota esteve lesionado em três períodos diferentes e acabou por só somar 15 golos e 4 assistências ao serviço do FC Liverpool, tendo jogado apenas 128 minutos nos últimos 21 jogos, um ponto crítico e que deverá causar pesadas dúvidas em relação ao se vai ter capacidade física para ser uma solução credível no ataque das Quinas.

Acima de tudo “Pote” é um jogador diferenciado, alguém que tem não só aquela chama criativa que desbloqueia o caminho para a área, como sabe ocupar diversas posições no terreno, podendo oferecer outra universalidade ao ataque de Portugal que com Roberto Martínez ganhou outro timbre após um período mais acinzentado com Fernando Santos. Acima de tudo, a forma como o agora seleccionador nacional foi incapaz de placar o tema, oferecendo respostas frágeis e de pouco sentido, ruminando entre o “azar” e o facto de não ter vindo jogar pela selecção em Março, não ajudou a dissipar as dúvidas.

Por outro lado, Toti Gomes que foi constantemente chamado à selecção nacional numa altura em que mal jogava pelo Wolves, agora ficou de fora quando é titular assumido e um dos melhores na sua posição fora o top-6 da Premier League. Pepe mal tem conseguido jogar e somar minutos ao serviço do FC Porto, ficando mesmo de fora da convocatória para o final da Taça de Portugal, enquanto António Silva teve uma época em que revelou excessivos erros na abordagem em profundidade ou na saída com bola controlada. Porém, Pepe goza de um certo estatuto que permite que passe incólume apesar de não estar em condições, quando Toti Gomes é, neste momento, um jogador em melhor forma e que podia oferecer um tónico físico e táctico mais positivo que o central do FC Porto – importante acrescentar que Pepe é uma voz do balneário forte, podendo ser importante em momentos críticos, mas será isso suficiente para merecer uma convocatória para o Euro 2024?

A situação de Rúben Neves é algo que também cria um certo dissabor, já que a sua forma física tem caído a pique ando é chamado às Quinas, para além que a carreira na Arábia Saudita tem sido parca em jogos de qualidade. Não podia Matheus Nunes ter oferecido outra semântica à gestão de bola, munindo de Portugal de um jogo de passe intenso e coeso, para além de parecer estar em melhor forma? Podia, mas a verdade é que o médio mal jogou pelo Manchester City nos últimos 20 jogos, chegando a este momento de final de época. Contudo, o nível da Premier League está a milhares de kms acima da liga da Arábia Saudita e entre Nunes e Neves, o primeiro realmente podia ter imposto algo diferente às Quinas.

O SUPER COMUNICADOR… DEIXOU DE SÊ-LO

Há uma questão que a maioria dos adeptos portugueses não se aperceberam ou, em caso que tenham se apercebido, não aceitam: Roberto Martínez não treina uma selecção, mas sim um “clube”. O antigo seleccionador da Bélgica vê as selecções nacionais como um clube mais alargado, optando por chamar os jogadores que ele vê como os mais úteis para a sua fórmula de jogo, em oposição de dar oportunidades a certos atletas que surpreenderam durante a temporada ou que têm sido estrelas nas suas equipas, mas que não entram nos seus planos.

É uma forma diferente de entender o que é uma selecção nacional, contudo, não é novidade, e é algo que como pode criar problemas entre diversas entidades. É importante que não se embarquem nas teorias da conspiração, porque de certa forma inocentam Roberto Martínez de responsabilidade, quando efectivamente isto é o seu grupo. O problema de Martínez esteve também na forma desonesta como atacou as várias perguntas e críticas, tentando dar uma de intelectual carregado de humildade, quando acabou a soar como alguém que estava inseguro da sua própria convocatória.

Quando parecia que os tempos de convocatórias dúbias e respostas parcas em argumentos sólidos estavam ultrapassados, Roberto Martínez foi pelo caminho do seu antecessor e criou um certo desconforto quando a mensagem deveria ser positivismo e justiça.


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