Rúben Amorim: entre o amor e o ódio dos “justos” do futebol…

Francisco IsaacNovembro 3, 20244min0

Rúben Amorim: entre o amor e o ódio dos “justos” do futebol…

Francisco IsaacNovembro 3, 20244min0
Saiu como um dos treinadores com mais títulos no futebol masculino leonino, Rúben Amorim acabou por sofrer certas críticas desnecessárias

Rúben Amorim. Herói para uns, reformador decisivo no Sporting CP para outros, talento nato junto à linha lateral para mais uns quantos e… traidor para umas quantas almas penadas. Rúben Amorim é o novo rosto da campanha do “futebol moderno é lixo e está a estragar o verdadeiro espírito do futebol”, isto de acordo com aqueles que que etiquetaram o ainda treinador dos Leões como um judas. Comecemos pelo essencial. O Manchester United chegou a Lisboa, apresentou uma proposta de 11M€ e ofereceu um contrato de trabalho a Rúben Amorim, garantindo uma possibilidade ao treinador de poder reformular a equipa a seu bel-prazer. O treinador tentou amparar o golpe, negociando uma cessão de ligação ao Sporting CP no próximo Verão, ideia prontamente recusada pelos Red Devils. No meio disto seguiram-se cinco dias de negociações em que, normalmente, há que manter sigilo em certas partes das conversas. O mundo funciona assim, e Rúben Amorim tentando não oferecer grandes informações, mas não mentindo, deixou escapar algumas coisas.

O treinador ofereceu o corpo às balas, e acabou por ser intitulado de um problema para o Sporting CP, com algumas vozes a estriparem a humanidade do treinador, apelidando-o de todos os insultos possíveis e prováveis. “Ingrato”, “sai pela porta pequena”, “não será relembrado com carinho” ou “vai e não voltes” fizeram-se soar, mostrando novamente que o pior lado dos adeptos surge nas situações de maior pressão. O culpado não foi só Rúben Amorim, foi também o futebol moderno, o dinheiro.

O futebol moderno tem os seus problemas, sem dúvida alguma. Porém, a maioria não se lembra do que eram os tempos passados ao desenvolvimento do futebol como uma economia própria com capacidade para pagar salários, garantir carreiras e criar um ecossistema que efectivamente protegesse todos. Durante largas décadas uma percentagem considerável de jogadores e treinadores acabavam as carreiras esquecidos por todos, forçados a procurar empregos mal pagos, carregando consigo lesões do passado que criavam sérias dificuldades a todos os níveis. O passar de “besta a bestial” e vice-versa é algo que assiste a todos, com a massa associativa a ser capaz de tratar mal aqueles que se dedicaram de corpo e alma ao clube, querendo à força que A ou B sigam caminho quando as coisas não correm bem. Lendas são só aquelas que morreram por clube, especialmente os que foram enterrados com problemas de alcoolismo, depressão ou com outra doença, esquecidos pela maioria, e a viver de esmola… só em 2024 foram 10 antigos jogadores da LaLiga à Serie A a irem por este caminho. No passado foram ainda mais. Posto isto, o futebol moderno pode ser algo sinistro em certos momentos, mas, felizmente, hoje em dia é símbolo de carreira profissional decente para uma boa parte daqueles que optaram por se dedicar a esta modalidade.

Rúben Amorim tem todo o direito seguir caminho e ir em busca de novos prados, encontrar novos objectivos e arriscar num passo fresco. A saída não foi no melhor momento? O destino não escolhe hora e dia, e Rúben Amorim ainda fez o esforço para tentar forçar o Manchester United a aceitar um acordo que só se cumprisse em Junho de 2025, demonstrando um carinho extremamente especial pelo Sporting Clube de Portugal.

Não estou a dizer que os adeptos não têm direito a se sentirem tristes e desiludidos. Estou a dizer que não podem se sentir revoltados e chamar de traidor a alguém que depositou toda a sua alma no clube. Há uma linha que separa estas emoções e será importante que percebam que a direcção de Frederico Varandas não é um bando de incapazes ou incompetentes sem noção do que fazer a seguir. Mais noção, menos agressividade. Melhor capacidade analítica, menos ódio desprovido de razão. Nenhum clube, modalidade ou sociedade pode prosperar quando nos entregamos ao pior dos nossos instintos.

E termino por dizer… quantos adeptos do Sporting CP sabem por onde anda László Bölöni, treinador que guiou os leões a uma dobradinha e Supertaça? Ou César Prates? Ou Toñito? Clayton? Poderia continuar, mas a verdade é que estes acabaram empurrados para fora quando já não conseguiam dar o seu melhor, e são agora uma memória apenas na cabeça de uns quantos. Mas o problema é Rúben Amorim, a ambição e o futebol moderno.


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS