Quo Vadis, Sérgio Conceição?
Contrariamente às restantes três anteriores temporadas sob a liderança de Sérgio Conceição, o FC Porto encontra-se já arredado da luta pelos principais troféus nacionais. Apesar de matematicamente ser ainda possível, dificilmente algum portista acredita veemente na revalidação do título de campeão nacional, paralelamente, as eliminações precoces nas meias-finais da Taça da Liga e nas meias-finais da Taça de Portugal assinalam aquela que está a ser a pior época do emblema azul e branca sob os comandos de Sérgio Conceição.
A conquista da Supertaça Cândido de Oliveira e a atual brilhante campanha na Liga dos Campeões podem disfarçar parte da mediocridade competitiva do FC Porto na presente temporada, contudo, os aficionados mais exigentes certamente não estarão contentes com o atual momento do clube. Por mais que o sonho seja “uma constante da vida tão concreta e definida como outra coisa qualquer”*, o enorme fosso competitivo que existe entre o FC Porto e alguns emblemas europeus ainda em competição na Liga dos Campeões, acabam por ofuscar a quimera de se repetir 2004. Independentemente das manobras de distração de alguns dirigentes portistas, 2020/2021 não trará certamente saudades.
À parca existência de títulos a contabilizar, associa-se também uma esterilidade desesperante na filosofia de jogo azul e branca, cada vez mais refém de rasgos individuais e da genialidade de alguns executantes. Porém, há algo que deve verdadeiramente incomodar uma franja significativa de adeptos portistas, o crescente descontrolo emocional de Sérgio Conceição no banco de suplentes.
Não existe um clube que aprecie tanto os desígnios do “amor à camisola”, do espírito de sacrifício, da raça, da crença até ao último segundo ou da ambição desmedida pela vitória como o FC Porto, nesse sentido, o Dragão aceita confortavelmente que se viva com os nervos à flor da pele e com o coração muito perto da boca, todavia, Sérgio Conceição parece ter transgredido vários limites da boa educação, do Fair Play e da cultura desportiva de que tanto nos queixamos em Portugal.
Certamente há momentos em que a razão está do lado de Sérgio Conceição, no entanto, como líder e supremo comandante da sua formação, o conimbricense não pode repetir semanalmente a mesma cruzada nem se comportar de forma tão reprovável e infantil como em Portimão. A qualidade de Sérgio Conceição como jogador e a competência técnica de Sérgio Conceição como treinador merecem mais respeito, caso contrário, o conimbricense corre o risco de denegrir irremediavelmente uma imagem construída ao longo dos últimos 25 anos que requereram sacrifício, dedicação, paixão e respeito pela profissão.
Adicionalmente, parte do descontrolo emocional do técnico portista tem sido replicado pelos seus pupilos, plasmado tanto nas entradas mais ríspidas, como nas discussões mais acesas e, sobretudo, nas inúmeras expulsões ao longo da temporada que têm deixado a equipa azul e branca descompensada. O melhor exemplo do impacto negativo deste descontrolo emocional deu-se em Braga num curto espaço de tempo: primeiramente a expulsão de Jesús Corona no jogo do campeonato frente ao SC Braga que terminaria com um empate a dois após o FC Porto ter estado a vencer por 0-2, posteriormente, a 1ª mão da Taça de Portugal onde as duas equipas voltariam a empatar e que fica igualmente marcado pela expulsão (polémica) de Luis Díaz e pela agressão de Mateus Uribe que deixou a formação azul e branca reduzida a 9 elementos, pouco antes do FC Porto sofrer o golo do empate.
O técnico portista tem lutado com bravura ao longo dos últimos anos, inclusive sob fortíssimas restrições desportivas e financeiras, nesse sentido, o mérito pelos títulos conquistados anteriormente são da sua exclusiva responsabilidade, porém, o plantel azul e branco parece apresentar várias lacunas importantes que nem a raça incutida por Sérgio Conceição são capazes de as debelar. A falta de solução em setores nevrálgicos e os sucessivos desaires têm gerado um desconforto e uma frustração impossíveis de esconder em Sérgio Conceição, reagindo muito mais com o coração do que com a cabeça, o conimbricense é cada vez mais um homem sozinho e isolado pelas suas próprias ações.
Que adepto não gosta de ver o seu treinador chorar pelo clube? Que adepto não gosta de ver o seu treinador beijar o emblema do clube? Que adepto não gosta de ver o seu treinador vencer na adversidade? Que adepto não gostar de ver o seu treinador perder com dignidade?
*Pedra Filosofal de António Gedeão