O sub-rendimento na Seleção Nacional

Pedro AfonsoMarço 31, 20187min0

O sub-rendimento na Seleção Nacional

Pedro AfonsoMarço 31, 20187min0
O Campeão da Europa tem uma reputação a manter! Após a campanha menos bem conseguida na Taça das Confederações, é de suma importância uma preparação adequada e a escolha dos jogadores mais comprometidos com a Seleção, de forma a podermos sonhar com o "caneco" Mundial!

Espremidos pela Laranja (muito pouco) Mecânica, a Seleção Nacional deixou bem patentes as suas fragilidades a pouco mais de dois mês e poucos dias de começar o Mundial na Rússia. 3-0 contra uma Seleção incapaz de se apurar para a Fase Final do Mundial e cujas figuras de proa são hoje Virgil van Dijk e Wijnaldum não podem ser analisados como sendo apenas um acidente de percurso.

Findado o jogo, será fácil apontar agulhas para o Engenheiro Fernando Santos, afirmando que as suas escolhas não foram as adequadas e apontando erros à abordagem tática ao jogo. Na verdade, estas afirmações são, em parte, acertadas, uma vez que pareceu claro ao longo do jogo que a opção de jogar com Cristiano Ronaldo como único ponta-de-lança contribuiu de sobremaneira para a incapacidade de criar perigo na área adversária, tendo ficado também patente a inoperância do meio-campo em manter a bola.

Mas se é verdade que o jogo coletivo de Portugal se apresentou fraco, também é verdade que esse mesmo fio de jogo/modelo sempre se aproximou do medíocre, desde que Fernando Santos assumiu o leme da Seleção Nacional. Portugal é hoje uma seleção com uma quantidade razoável de talento à sua disposição, estabelecida sobre uma matriz de princípios táticos datados e muito pouco atrativos. Dirão, com razão, que chegou para ganhar um Europeu (e que bem que soube!), mas esquecer-se-ão que é agora o momento de lançar as bases de uma transição suave para as próximas gerações, alavancando novas conquistas sobre uma base de sucesso.

Analisando os golos sofridos por Portugal contra a Holanda, bem como a exibição contra o Egipto, é fácil verificar que, neste momento, vários jogadores de enorme craveira não estão em sintonia com os ideais pretendidos pelo Selecionador Nacional e não rendem de igual forma ao serviço da Seleção das Quinas. Foram 4 golos em dois jogos de preparação, onde a maior mudança foi a não-utilização de Pepe.

Não seria Paulo Oliveira uma escolha mais segura que dois jogadores em final de carreira? (Fonte: Mais Futebol)

Parece claro (apesar de já o parecer há algum tempo) que existem vários jogadores cuja carreira internacional teima em estender-se para além das suas capacidades futebolísticas. É impensável que jogadores como José Fonte, Bruno Alves, Beto e João Moutinho continuem a ter lugar por defeito nas convocatórias da Seleção Portuguesa. Se a sua importância pode ser atribuída a outros tempos, tempos esses já idos, e à sua presença no balneário, não parece justo que jogadores a fazerem épocas de alto nível, como Paulo Oliveira, Manuel Fernandes, Cláudio Ramos, entre outros, não sejam merecedores de uma chamada à Seleção A ou uma aposta mais continuada. Comparando o rendimento de jogadores como Bruno Alves e Luís Neto, passa a ser muito difícil explicar porque razão Paulo Oliveira e Ricardo Ferreira, apenas para mencionar dois, não possam merecer a confiança do Selecionador Nacional.

Contudo, olhando para a média de idades desta convocatória de Fernando Santos (27,80 anos), e tendo em conta que existem 4 jogadores com mais de 34 anos na mesma, ficou patente uma certa preocupação por parte do Selecionador Nacional em trazer “sangue novo” para o jogo de Portugal.

Como explicar, então, estes resultados de Portugal contra equipas manifestamente mais fracas? A grande dificuldade sentida no jogo da Seleção prendeu-se, exatamente, com a falta de rendimento aceitável por elementos que seriam, por esta altura, os esteios da equipa. Ronaldo deu a vitória caída do céu contra o Egipto e não teve oportunidades para o fazer diante da Holanda pelo que, ao contrário do que muitos gostam de defender, não foi pelo capitão que o jogo da Seleção se empobreceu.

A sua infelicidade transpira para o seu futebol (Fonte: Mirror)

Façamos um exercício de memória para relembrar as exibições dos seguintes jogadores:

  • Bernardo Silva
  • João Mário
  • João Moutinho
  • Adrien Silva
  • José Fonte
  • Cédric Soares
  • André Gomes

Destes 7 jogadores, 6 foram campeões da Europa e Bernardo Silva não foi convocado apenas devido a lesão. O que une todos estes jogadores é que, nesta fase, são jogadores de grande craveira, que militam nas maiores ligas do Mundo (com excepção de José Fonte que se transferiu há pouco mais de um mês para a China) e que representam as primeiras opções para Fernando Santos. É impensável pensar no 11 da Seleção Nacional sem João Mário, Cédric Soares e Bernardo Silva, por exemplo. Se João Mário e Cédric se transcendem quando estão ao serviço da Seleção das Quinas, basta olhar para André Gomes, Adrien Silva ou Bernardo Silva para perceber que nem todos os jogadores parecem encarar esta responsabilidade da mesma forma.

Uma exibição absolutamente vergonhosa (Fonte: Record)

Jogadores como André Gomes, Bernardo Silva, Nélson Semedo, João Cancelo e Anthony Lopes são exemplos de jogadores cujo papel que desempenham no clube e cujo valor não se mantém quando vestem a camisola da Seleção. Bernardo Silva parece sempre longe de ser o virtuoso que Guardiola vê como indispensável no City, Nélson Semedo deixa patentes todas as suas dificuldades defensivas, Cancelo não teve um único jogo positivo ao serviço da Seleção contra adversários relevantes (3 golos contra Andorra, Ilhas Faroé e Gibraltar, apesar da posição, não justificam exibições miseráveis como a que vimos contra a Holanda) e praticamente todos os jogos em que Anthony Lopes participou acabaram em derrota.

Olhando para jogadores como João Mário, Quaresma, Cédric, André Silva e Gelson Martins, parece claro que existe algum elemento extraordinário que aumenta os seus níveis de rendimento e que os torna opções viáveis, muitas vezes em detrimento de jogadores mais talentosos! Quaresma resolveu mais jogos da Seleção Nacional do que Bernardo Silva alguma vez o fez, João Mário continua a deslumbrar apesar da péssima temporada a nível de clubes, Cédric aparenta ser melhor jogador que Semedo quando joga por Portugal, quando é o inverso da realidade, e André Silva continua a marcar golos atrás de golos, apesar de ainda recentemente ter chegado à Seleção.

Um exemplo de compromisso, vontade e amor à Seleção (Fonte: Aletransfer)

Qual a solução? Infelizmente, não existe nenhuma solução óbvia e imediata. Ao contrário de seleções como Espanha, Alemanha e França, que apresentam primeiras, segundas e terceiras opções válidas para o 11 inicial, Portugal pode contar com cerca de 16 a 17 jogadores de craveira, restando apenas 8 a 9 lugares para jogadores que estejam numa forma excepcional. A pouco mais de 75 dias  para começar o Mundial da Rússia, não é altura de reinventar a roda e lançar jogadores desligados da realidade da Seleção. Não sendo o sistema de jogo o melhor, será de suma importância garantir que os jogadores que serão convocados terão níveis máximos de empenho e motivação. Nestas competições, não ganha a melhor equipa, mas aquela que é capaz de se superar a cada jogo, como fez a Grécia em 2004 e Portugal em 2016.


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