O caos do Benfica e o paraíso do Sporting, a uma distância de 3 pontos

Ricardo João LopesNovembro 30, 20257min0

O caos do Benfica e o paraíso do Sporting, a uma distância de 3 pontos

Ricardo João LopesNovembro 30, 20257min0
Realidades e momentos diferentes, mas com a possibilidade de inversão... como conta Ricardo Lopes nesta dualidade entre Sporting e Benfica

A Segunda Circular conta com dois lados, um vermelho e outro verde, inevitavelmente rivais. Benfica e Sporting não se suportam e é raro quando os dois emblemas vivem um bom período ao mesmo tempo. Uma força sobrenatural quer que um esteja por cima e outro em baixo. Entre 2005 e 2018 assistimos ao reerguer dos encarnados do período designado de Vietname, que se pode inserir entre os anos de 1994 e 2005, acabando por se transformar novamente na grande referência ao nível nacional, ultrapassando o FC Porto de um Pinto da Costa na fase final do seu mandato. Precisamente neste período de tempo, os leões assistiram a resultados horrendos, humilhações históricas, contratações surreais. Tirando os honrosos segundos lugares de Paulo Bento (e Leonardo Jardim), pouco houve de positivo pelos lados de Alvalade. Se o Benfica contou com um Vietname, o Sporting teve o seu Afeganistão, que em nada lhe fica atrás e que será analisado pelos historiadores com mais profundidade dentro de uns anos, especialmente pelos protagonistas dos verde e brancos neste período de tempo (um ex-presidente em particular).

Olhamos para a atualidade e há novamente uma aura diferente nas duas instituições. Ainda que a tabela separe Sporting e Benfica com apenas três pontos, parece que há um mundo inteiro a separá-los, ainda que somente exista uma estrada. A estrutura liderada por Frederico Varandas encontra-se no seu apogeu, com um bicampeonato conquistado, em plenos direitos de lutar pelo tri. No banco, Rui Borges já não é questionado no panorama nacional e há quem ouse dizer que é o melhor treinador da Primeira Liga ou, pelo menos, o que coloca a equipa a jogar o melhor futebol. O plantel conta com craques. A seleção nacional voltou a ter mais valias oriundas de Alvalade e a equipa conta com um onze titular de qualidade, além de alternativas no banco que dão rendimento, quando postas em campo.

Já a formação do reeleito Rui Costa, que não regressou ao Benfica durante o período do Vietname, é condenada diariamente a críticas. As águias conquistaram apenas um campeonato em quatro anos, perderam a hegemonia que detinham, ainda que gastando milhões de euros a cada mercado de transferências. Os encarnados ‘dão-se ao luxo’ de trocar de treinador nas primeiras jornadas de liga, fazendo regressar José Mourinho, mas nada funciona. No Estádio da Luz ouvem-se mais assobios que aplausos e até o setubalense já é criticado apesar de ter chegado apenas em setembro. Alguns aficionados perceberam que José Mourinho já não é o mesmo de 2010 e vive a fase do ‘normal one’.

Estes dois cenários estão somente separados por três pontos. A drama, a tragédia, o horror, e o paraíso, estão à distância de uma vitória e de uma derrota na mesma jornada. Isto dá-nos a entender dois pontos fundamentais: o futebol é momento e um clube é muito mais do que o seu plantel principal e o treinador.

O primeiro explica-se com a tabela classificativa. O Benfica, em termos pontuais, está próximo do Sporting e o título encontra-se longe de ser uma miragem. O FC Porto, que começou a época a jogar um bom futebol, mas que está decadência nesse aspeto, situa-se somente seis pontos, o que em novembro não é nada. José Mourinho tem mais do que opções para colocar a equipa a vencer os jogos em que é por imposição o favorito, ainda que o plantel não esteja ao seu agrado. Tal como o emblema de Alvalade pode ser surpreendido e tropeçar duas ou três vezes para se ver em terceiro lugar.

Porém, sabemos que o segundo ponto é o mais importante. Os adeptos do Sporting naturalmente não estão felizes por estarem em segundo lugar, estão é satisfeitos com o projeto que lhes está a ser apresentado. Frederico Varandas tem uma linha de raciocínio e não a abandona, por muito que perca peças fundamentais. As pessoas, apesar de serem importantes, não passam de roldanas para os leões chegarem ao seu objetivo: vencer tudo ao nível interno e fazer uma boa prestação na Champions League.

Pelos lados de Alvalade, não há grande receio em ver os jogadores mais importantes serem vendidos no mercado de verão. Sabe-se que o scout trabalha bem e a família do balneário trata do resto. Neste momento, não há alto investimento que falhe no Sporting. Os aficionados dos leões ficariam tristes por falharem o tricampeonato, mas têm a plena consciência de que o seu projeto permite-os pensar já em 2026/27, analisando tudo o que falharia em 2025/26.

No Benfica, é tudo o contrário. Ainda que Rui Costa tenha vencido de goleada João Noronha Lopes, a união é nula, apenas quando é para criticar. Contrata-se às dezenas de milhões e o plantel nunca ‘presta’. Fecha-se a aquisição de um dos treinadores históricos do futebol mundial e ‘está ultrapassado’. A águias são de exigência máxima, querem vencer todos os jogos, mas não nos podemos esquecer que do outro lado do campo estão 11 jogadores e que às vezes há surpresas. Atualmente, o Benfica está à deriva e vivemos simplesmente os primeiros dias do segundo mandato desta direção.

Os aficionados têm que ser críticos, naturalmente. Porém, a paciência é uma virtude. Há que dar margem aos reforços para se poderem adaptar. Por muito que os adeptos gostem de números, Richard Ríos não é o tipo de médio que faça golos ou dê assistências. Franjo Ivanovic não é um avançado para atuar no estilo de José Mourinho. Aqui as palavras duras são para a estrutura, que curiosamente os sócios trataram de manter.

O Benfica vende a ideia de que quer voltar a ganhar e todos os mercados traz nomes de renome. Porém, qual é o projeto? José Mourinho é um bom treinador, mas o plantel foi construído para Bruno Lage. São estilos dispares. Isto tem arranjo? Claro que tem, investir mais umas dezenas de milhões no mercado de janeiro. José Mourinho não é um treinador de se adaptar à equipa que tem, muito menos de apostar na formação.

Ao contrário do que acontece no Sporting, no Benfica não há uma linha. João Neves saiu em 2024 e ainda não existe um digno sucessor do internacional português. Do outro lado da Segunda Circular, isto jamais teria acontecido. Porque aí as peças são facilmente substituíveis. Saiu Ugarte, entrou Hjulmand, saiu Pedro Porro, já estava Iván Fresneda (a custo) para o substituir. Viktor Gyokeres rumou a Inglaterra, Luis Suárez e Fotis Ioannidis têm todo o potencial para lhe suceder.

No Benfica isto não está a ser bem feito. Parece que se contratam nomes pelo peso que têm e a montagem de um plantel não funciona assim. A crise encarnada é global, não é culpa das arbitragens, por muito que essa seja a imagem que se queira passar depois da grande penalidade mal assinalada por braço na bola de António Silva.

Olhamos para 2025/26 e o Benfica é a única portuguesa com um título no palmarés, mas isso não significa nada em novembro. O Sporting assumiu-se como o rei de Lisboa e promete ser complicado tirar-lhe a coroa. Não pelo que a tabela classificativa nos é exibida, mas sim por todo um universo que separa os dois projetos.


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