Ledman Liga Pro e a questão do momento: São úteis as equipas B’s?
A 1 de Fevereiro de 2017, um conclave de clubes da Ledman Liga Pro (encabeçada pelo União da Madeira) avançou com projecto de alteração ao formato competitivo da segunda-liga com “ataque” directo sobre as equipas B. De acordo com a Comunicação Social portuguesa, o objectivo era garantir que a Ledman Liga Pro defendesse os interesses dos clubes não-secundários, sem qualquer desmérito para as formações B.
Vejamos rapidamente as propostas:
- Reduzir o número de Equipas B na Ledman Liga Pro de 5 para 4 já em 2019/2020. Proposta baseada no facto de que quando foram introduzidas existiam 24 clubes a participar na Segunda Liga e não nos futuros 18 que vão participar em 2018/2019;
- Clubes com orçamentos superior a 25M€ passam a dar no valor de inscrição cerca de 250 mil euros, ou seja, o equivalente a 10% do orçamento. Proposta baseada no facto dos clubes no qual as equipas B pertencem, terem um orçamento vastamente superior ao das suas congéneres;
- Possibilidade dos jogos frente às equipas B passarem a ser nos estádios oficiais dos clubes. Proposta baseada no facto de dar outra magnitude a estes jogos;
A estas propostas acresce à idealização de uma Liga sub-23 da Federação Portuguesa de Futebol:
- Criação de uma Liga Sub-23. Proposta baseada no facto de existir uma alta tacha de abandono de atletas jovens, garantindo assim uma liga estável para quem sobe dos campeonatos juniores.
Todas estas propostas foram recebidas com algum desagrado e apreensão por parte dos clubes que detêm equipas B tanto na Segunda Liga como no CNS, com motivos também eles viáveis. Uma breve análise às propostas e podemos perceber quais são as implicações directas destas reformulações na segunda principal divisão de futebol profissional em Portugal.
A proposta 1 vem na lógica de existir um número adequado de equipas que podem realmente subir à Liga NOS e a formações B que existem para lançar novos atletas numa liga mais “complicada” e que porá os seus jovens da formação à prova. Não existindo um princípio de “maldade” neste ponto, o único problema seria que equipa B relegar para o CNS. Como na temporada actual o SC Braga “B” está em posição de descida (em penúltimo e a 6 pontos da linha-de-água), poderá ser mais fácil aprovar esta medida.
Mas, num cenário hipotético, como funcionaria em caso que nenhuma das equipas B na temporada seguinte descesse de divisão? Seria pela equipa com a pior classificação? Então como funcionaria (mais uma vez, cenário hipótetico no futuro) se o FC Porto B terminasse em 3º, Sporting B em 5º, SL Benfica B em 6º e Vitória SC B em 9º? Desciam os vimaranenses que fizeram uma boa temporada em detrimento de um clube que acabou em antepenúltimo e que fez pouco por merecer a manutenção?
Os problemas começam na proposta 2 já que tem alguns contornos mais delicados. Porquê? O aumento do pagamento do valor de inscrição pode fazer com que os clubes detentores de equipas B não queiram apostar nestas formações secundárias, já que aumentam exponencialmente de custos passando de 50 mil euros para quíntuplo. Outro pormenor curioso é que há equipas B que gastam menos em salários e contratações do que várias das suas congéneres.
Casos do SC Leixões, Académico de Viseu ou Penafiel são casos claros que fazem um grande investimento a nível de plantel para voltar à Liga NOS, o que é perceptível… mas nem por isso devem ter que contribuir mais que outros clubes que lutam para garantir a manutenção.
A proposta 3 apresenta grandes problemas de logística já que garantir um Dragão, Luz, Alvalade ou Pedreira não é muito viável. Mais uma vez o leitor poderá pensar o porquê. Os custos destes quatro estádios são muito superiores aos que são agora utilizados pelas equipas B. E que custos serão esses?
Logísticos (o policiamento e segurança sairá mais caro numa Luz ou Dragão do que um Caixa Futebol Campus ou Estádio Jorge Sampaio em Pedroso), relvado (deterioramento do relvado, maiores custos de manutenção e desgaste no final da temporada) e calendário (os clubes terão que fazer um cruzamento ainda mais cuidado e estranho entre ligas para não terem no mesmo fim-de-semana dois jogos em casa).
Olhando para o resultado final destas três propostas, há uma notória tentativa de regular a presença das equipas B na Ledman Liga Pro, de forma a que as mesmas tenham menor poder dentro desta divisão mas ao mesmo tempo continuem a trazer a sua visibilidade em termos de imagem e marketing. A nível de adeptos as equipas B só trazem uma média de 1000 adeptos por jogo, registando uma baixa presença nos seus campos.
Será que trazer estas equipas B para os estádios principais vai aumentar ou manter o nível de afluência? E se não aumentar e mesmo assim mudarem de campo não será isto um problema a nível de contas para os clubes?
A participação das equipas B causa alguma apreensão a vários clubes, já que olhando para um argumento cínico, proposto por nós, não estarão os clubes a tentar forçar a saída destas equipas para tentar ficar com os seus atletas através de empréstimos como acontecia até há uns anos?
E isto não implica voltar a trabalhar mais em proveito próprio do que garantir a evolução e crescimento correcto dos atletas nacionais que beneficiam mais de estarem junto do clube-mãe do que serem emprestados e não serem opção principal desses clubes (normal que a aposta passe pelos atletas da casa e não pelos emprestados)?
Na realidade, a introdução das equipas B trouxe alguma vantagem para a Ledman Liga Pro? Há argumentos a favor e contra. A favor:
- Maior interesse da Comunicação Social, agentes de futebol, imprensa no geral, investidores mais reticentes em estar numa liga com as equipas B dos ditos “Três Grandes” e outros clubes de maior dimensão;
- Desenvolvimento de jovens atletas com 17 a 20 anos, dando outra profundidade e qualidade às selecções jovens. O disputar campeonatos mais difíceis, a um nível sénior, dentro de plantéis que apostem realmente no seu valor, garantem esse crescimento mais acelerado;
- Aumento da competitividade da Segunda Liga, com a introdução de plantéis de qualidade e com projectos competentes e bem trabalhados;
E contra:
- Problema de calendário-plantel em certos momentos da temporada. Isto é, há momentos que uma das equipas B apresenta o seu melhor onze, mas nada garante que na jornada seguinte perca alguns desses jogadores para a equipa “A” e fiquem desfalcados para o jogo que se segue. Alguns clubes podem encarar como beneficio/prejudicar;
- Deslocações excessivas durante a temporada, sendo que a inclusão das equipas B em 2012/2013 aumentou em 5/6 viagens extra para os clubes da Ledman Liga Pro. Este aumento de números de equipas causou alguns problemas extras para as equipas das ilhas (Santa Clara, União da Madeira e, desde esta época, Nacional da Madeira);
Há mais pontos para além destes, mas estas são os apontamentos principais da avaliação da presença das equipas B na Ledman Liga Pro. Não têm contribuído estas formações para um aumentar de qualidade nos jogos desta divisão?
Não foram as mesmas responsáveis pelo aparecimento de jovens que estão a despontar nas selecções nacionais de formação e principal (André Silva, Dalot, Renato Sanches, Gelson Martins, Podence, Rúben Semedo), sendo que parte do sucesso tem de ser atribuído às equipas adversárias por terem garantido um ambiente competitivo estável e ideal para o crescimento?
E a participação destas formações secundárias não trouxe mais mediatismo à Ledman Liga Pro, beneficiando todos os seus intervenientes? É positivo que os clubes que estão a participar na Liga Pro tenham a preocupação de criar uma liga estável, equilibrada e segura, com o protagonismo dividido para todos os envolvidos. Mas será que esta tentativa de “controlar” a entrada e saída das equipas B não será um passo muito complicado para o futuro da Segunda Liga?
O clássico reeditado em 2018 entre FC Porto B e SL Benfica B não dá outra visibilidade?