Decisões que prejudicam e o Futebol Feminino: o impacto dos detalhes

Margarida BartolomeuMarço 27, 20223min0

Decisões que prejudicam e o Futebol Feminino: o impacto dos detalhes

Margarida BartolomeuMarço 27, 20223min0
Erros de agendamentos dos jogos, pouca preocupação com os detalhes e não só, têm criado problemas ao futebol feminino nacional que são explicados neste artigo

Verificamos que, em países como Inglaterra, França, Holanda, Espanha, Suíça, entre outros (referindo-me apenas à Europa), existem cada vez mais clubes a apostar na profissionalização das suas equipas de Futebol Feminino, dando-lhes condições que, pouco a pouco, se vão aproximando das condições dadas às equipas masculinas (claramente ainda existe um grande caminho a percorrer), cada vez mais ligas profissionais, geridas de uma forma cada vez mais séria e profissional. E por cá?

Ano 2022, 4 equipas totalmente profissionais a participar na principal Liga Feminina de Futebol em Portugal, muitas conversas sobre hipotéticas profissionalizações da liga. Mas tudo bem analisado, continuamos praticamente na mesma posição. Sim, é verdade que temos cada vez mais clubes a apostar na formação de jogadoras (algo necessário para atingir determinados níveis na sua certificação, logo, não se pode considerar uma aposta totalmente inocente e não forçada), cada vez mais jogadoras federadas, e que a jogadora portuguesa vai sendo cada vez mais valorizada, tendo maior visibilidade não só a nível interno, mas também “lá fora”.

No entanto, mesmo com todo este crescimento tão publicitado, mesmo com toda a evolução que é visível para o comum adepto de Futebol Feminino, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) continua a gerir as competições femininas nacionais com uma grande displicência e aparente falta de planeamento. A calendarização dos jogos das meias finais da Taça de Portugal são o mais recente exemplo disso. Ambos os jogos estão agendados para o dia 30/03 (quarta-feira), e ambos para horário laboral/escolar (15:30h e 16:00h).

Ora numa competição onde entraram perto de 100 equipas, das quais apenas 4 (!) são totalmente profissionais, seria assim tão descabido que competisse, nesta fase da Taça, uma equipa não profissional? É que se era, deixou de ser, pois o Amora FC eliminou a equipa do Clube Albergaria, e encontra-se prestes a disputar o acesso à Final da Taça de Portugal, com o FC Famalicão.

Ora para se poder apresentar neste jogo, e lutar pelo acesso à Final, muitas das jogadoras do plantel do Amora terão que faltar a aulas ou ao trabalho, sendo que, nesta última situação, lhes pode trazer algumas complicações profissionais, pois nem todas as entidades patronais compreenderão a necessidade de tirar um dia de férias para ir jogar futebol. Numa fase em que está prevista pausa para jogos das Seleções, não deveria ter existido um maior cuidado na calendarização destes jogos?

Não poderiam os mesmos ter sido agendados para sábado, 02/04 por exemplo? Tal agendamento seria benéfico, não só para as jogadoras não profissionais, como também para incrementar o número de espectadores presentes em ambos os estádios, e a acompanhar a transmissão televisiva. Como é suposto promover o Futebol Feminino, se as calendarizações feitas pela FPF são o primeiro entrave a essa promoção? Não será este o momento de assentar os pés no chão e perceber que a evolução depende dos pequenos detalhes, dos pequenos acertos?

O crescimento e evolução do Futebol Feminino (das Mulheres e das Raparigas, como diz o Professor Nuno Cristóvão) tem sido notório em Portugal, isso ninguém pode negar. Mas a verdade é que estes pequenos detalhes evidenciam ainda uma grande falta de profissionalismo na gestão das competições femininas, que tem que ser combatida.

Cabe a todos os intervenientes – clubes, jogadoras, adeptos, comunicação social – detetar estes problemas, para que não passem despercebidos, e possam ser abordados e corrigidos pela Federação Portuguesa de Futebol. Só assim podemos garantir a continuidade deste crescimento, e uma crescente equidade face ao Futebol Masculino.

#DÁMAISVALORAOFUTEBOLFEMININO


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