FPF e o desenvolvimento do futebol feminino: – investimento sério ou apenas “show-off”? pt.2

Margarida BartolomeuJulho 13, 20256min0

FPF e o desenvolvimento do futebol feminino: – investimento sério ou apenas “show-off”? pt.2

Margarida BartolomeuJulho 13, 20256min0
Segunda parte da análise ao desenvolvimento do futebol feminino levado a cabo pela FPF pela mão de Margarida Bartolomeu

Voltamos para fechar o tema do desenvolvimento do futebol feminino em Portugal sob a alçada da FPF com o tema das competições nacionais a ser o principal ponto de debate nesta segunda parte.

Estruturação dos calendários competitivos:

Olhando para as competições nacionais femininas, deparamo-nos com um problema que é transversal a todas as competições, sejam elas de carácter nacional ou distrital – as paragens competitivas.

Provas com início em outubro, com constantes interrupções (2 semanas sem competir, chega a ser um mês sem competição), provas cujos sorteios são efetuados à quarta-feira, para ter início no sábado (formação) ou domingo imediatamente seguintes (sim, porque todas as equipas têm capacidade logística para organizar transportes, estadias, o que seja necessário, em 2 dias). Equipas séniores cujas épocas terminam em março/abril, após serem eliminadas das curtas competições em que competem – nada disto promove o futebol no feminino, nada disto é indicador de crescimento!

Dou dois exemplos muito semelhantes. As equipas sub-19 e sénior femininas, que se encontrem em competições nacionais (campeonato nacional da II divisão feminina sub-19 e III, agora IV, divisão nacional), quando terminado o campeonato em que se inserem, e caso não compitam na fase de subida ou descida (quando existe), podem integrar as respetivas taças nacionais (taça nacional sub-19 feminina, e taça nacional de promoção). Ora o formato competitivo destas taças inclui uma fase de grupos, a uma mão, de onde passam os 2 primeiros classificados, seguindo-se fases a eliminar. Se uma equipa disputa 3/4 jogos na fase de campeonato, e não passa à fase a eliminar, termina a sua época em março/abril. E depois?! Terminam também os treinos, quando faltam quase 3 meses para terminar oficialmente a época?! Como se promove o desenvolvimento das jogadoras, se estas passam mais tempo sem competir, do que em competição, durante a época?! Como se mantêm filiadas, e a treinar, atletas que já não estão em competição?!

Não é difícil de encontrar uma solução para este problema – a criação de ligas de prata nas taças nacionais mencionadas, que permitam que as equipas eliminadas compitam entre si, e continuem o seu processo evolutivo até uma fase mais tardia (e normal) da época.

Para contrastar, as equipas de formação dos escalões inferiores (e disto falo na primeira pessoa, pois foi a situação onde estive inserida na época desportiva transata), têm um calendário desportivo também ele recheado de interrupções (acima de tudo, causadas pelas competições das seleções distritais). Contudo, o maior problema é o começo tardio das competições a nível distrital (outubro), e o prolongamento exagerado das competições nacionais, até final do mês de junho.

Dando o exemplo concreto da de escalão sub-13 equipa que treinei, o nosso campeonato distrital teve início a 12 de outubro de 2024 – um campeonato constituído por 10 equipas, o que representa 18 jogos para cada equipa. O campeonato terminou a 15 de março de 2025, tendo a taça distrital tido início a 30 de março de 2025. Uma continuidade de jogos interessante, mas que se complica daqui para a frente.

A equipa que se sagre campeã do campeonato distrital, fica apurada para competir na taça nacional do escalão, o que foi o nosso caso. Esta competição, tutelada pela FPF, consiste em 2 fases de grupos, a uma mão, que implica a realização de um total de cerca de 7/8 jogos, a realizar de março/abril a junho. Por outro lado, além desta competição, a associação de futebol distrital organiza também uma taça distrital, competição onde estiveram integradas as mesmas 10 equipas que competiram no campeonato. Formato? Idêntico ao campeonato, mas apenas a 1 mão, sendo que as primeiras e segunda classificadas de cada escalão, são as equipas que disputam a final. Ora, mais uma vez, a nossa equipa conseguiu disputar (e conquistar) a final, mas a que custo?! Chegámos a ter semanas com 5 jogos, para crianças de 10 – 13 anos, com longas deslocações, onde a associação de futebol pouco ou nada fez para defender a sua representante a nível nacional (muitos clubes dificultaram os nossos pedidos de alteração de jogos, por exemplo), dado que agendou a final da taça para um domingo, sendo que uma das finalistas também jogava no sábado.

Posto isto, uma equipa sub-13 compete de 12 de outubro de 2024, até 22 de junho de 2025, enquanto que uma equipa sénior compete de 22 de setembro de 2024 a 29 de março de 2025 – 35 jogos vs 10 jogos – e se disserem “mas isso aconteceu porque a equipa sénior foi eliminada cedo da competição”, eu dou-vos razão.

No entanto, compete ao órgão máximo que tutela o futebol no feminino garantir igual oportunidade de desenvolvimento para todas as equipas e escalões, garantindo constantes momentos competitivos ao longo de toda a época desportiva, tendo noção das cargas físicas apropriadas para cada etapa do desenvolvimento das atletas – se é verdade que é a competir que uma atleta se desenvolve, se essa competição for fisicamente excessiva, o seu desenvolvimento pode ficar afetado. Por outro lado, se uma atleta sénior, amadora, que estuda, tem que fazer mais de 100km por semana para treinar e jogar, vê a sua época terminar ao fim de 10 jogos, que motivação tem para continuar, quando sente que a própria FPF não está preocupada com a jogadora amadora, que compete nas divisões inferiores?!

Por fim, as equipas de arbitragem. Sim, este tema delicado, mas que tem mesmo que ser abordado!

As equipas de arbitragem presentes em jogos femininos são, na sua maioria, largamente inexperientes, o que leva à ocorrência constante de erros que, muitas vezes, influenciam o resultado final dos jogos. Além disso, acontece também que, equipas de arbitragem mais experientes, quando designadas para arbitrar um jogo feminino (no caso de equipas masculinas), ou um jogo de uma divisão inferior, tendem a adotar uma atitude arrogante de quem está ali a “fazer um favor”, optando, muitas vezes, por prejudicar a equipa mais “pequena”, ou que se encontra sediada numa zona do país mais interior ou menos desenvolvida. Poderia aqui descrever várias situações que presenciei ao longo dos anos, mas creio que todos os que leem este artigo sabem do que falo.

Se queremos ser competitivos, não precisamos apenas de quantidade. Acima de tudo, precisamos de competitividade interna, que potencie a qualidade existente, que por si, levará à quantidade. De que interessa ter 10 competições femininas a nível nacional, se a competitividade é reduzida, e apenas existem 2 ou 3 jogos realmente disputados por época?! Não há crescimento sem dificuldades, não há crescimento se competitividade.

Está na hora de deixar de fazer para mostrar trabalho, mas sim de fazer, de criar, de concretizar, para evoluir, para desenvolver, e para cimentar o que de bem se faz! É falar menos, e fazer mais e melhor!

Pede-se mais, FPF, muito mais! E tem de vir de baixo para cima, mas garantindo sempre que em cima, a profissionalização já existe, e funciona!


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