Onde pára a Estrutura? – SL Benfica

Pedro AfonsoSetembro 3, 201713min1

Onde pára a Estrutura? – SL Benfica

Pedro AfonsoSetembro 3, 201713min1
Três meses penosos para o adepto encarnado. Reforços duvidosos, saídas catastróficas... Será que a Estrutura se desleixou?

Três meses penosos para o adepto Benfiquista. Com a saída de 3 dos 5 elementos titulares da defesa encarnada, do único “bombardeiro” do ataque benfiquista e a entrada de reforços pouco credíveis, o clube encarnado parece agora partir atrás dos seus rivais para a conquista do campeonato. Apesar de ter sido este o panorama nos dois últimos anos, Rui Vitória foi sempre capaz de criar uma equipa competitiva e competente. Será este o ano da mudança? Será este o ano em que a estrutura irá “cortar as pernas” ao técnico ribatejano?


Já no final do mercado de Inverno da época transacta, o FairPlay havia alertado para uma tendência mercantilista por parte da SAD encarnada que se acentuara fortemente de há uns anos para cá (ver SL Benfica – O Mercador da Luz). Todo o adepto encarnado sabia, ou pelo menos suspeitava, que três das suas coqueluches seriam transferidas no final da época 2016/2017, sendo prioritário o acautelar destas situações. Com mais ou menos confiança, as hostes encarnadas acreditaramque a tão badalada Estrutura se havia precavido para a saída de Lindelof, Ederson e Nélson Semedo.

Muito talento numa só foto [Fonte: Record]

O Início do Pesadelo

Ainda antes do final da temporada do Tetra, dois reforços se adivinhavam para o clube da Luz: Haris Seferovic e André Moreira. O primeiro, uma total incógnita para os adeptos, esquecido num Eintracht Frankfurt a marcar 4 ou 5 golos por época; o segundo, um jogador da carteira do super-empresário Jorge Mendes, com 20 jogos como Sénior e perdido num Atlético de Madrid B. Os indícios não eram nada animadores, mas havia tempo e ainda a esperança descabida de que a Estrutura iria deixar de vender os seus jogadores, como aliás havia prometido o Presidente em 2013, afirmando que “É o último ano em que precisamos de vender“.

Chega o mês de Junho e os reforços começam a aparecer:

  • Seferovic é confirmado na Luz a custo zero
  • André Moreira faz testes médicos no Seixal
  • Krovinovic, uma das revelações da Liga NOS transacta, é anunciado num negócio cifrado em 3,00M€
  • Martin Chrien é contratado ao Viktoria Plzen após um excelente Europeu de Sub-21
  • Bruno Varela regressa à casa-mãe
  • Chris Willock, aposta de futuro dos gunners, é anunciado a custo 0
  • Patrick e Salvador Agra são contratados para rotação nos clubes da Liga NOS

O não-reforço da época [Fonte: Record]
Paralelamente, a sangria do plantel encarnado começa:

  • Ederson é vendido por 40,00M€ ao Man City de Pep Guardiola
  • Victor Lindelof reforça o Man Utd de Mourinho por 35,00M€
  • Nélson Semedo assina pelo Barcelona a troco de 30,50M€
  • Marçal é vendido ao Lyon após uma enorme época no Guinamp por 4,50M€

 

Não poderia ser uma melhor opção que Eliseu? [Fonte: OL]

O plantel estava, definitivamente, mais fraco. Apesar da ideia de que todas as contratações seriam mais valias e que a Estrutura estaria a preparar novos reforços, sonantes, com recurso aos 130,00M€ que arrecadara até ao fim do mês de Junho/início do mês de Julho, as bases estavam lançadas para o adensar do nervosismo encarnado.

A esperança é a última a morrer

A pré-época encarnada foi, mais uma vez, desastrosa. Dos 6 jogos de preparação, contam-se 4 derrotas e 2 vitórias, com 14 golos sofridos e 6 golos marcados. Nova humilhação contra o Arsenal, pelo segundo ano consecutivo, e um desastre na Suíça contra o Young Boys com uma derrota por 5-1(!).

Começava a ser patente que a equipa necessitava de reforços. Seferovic, contra todas as expectativas, inclusivamente do FairPlay, assume a titularidade e faz com Jonas uma dupla temível. Mas as lacunas na defesa permaneciam, com agravantes:

  • André Moreira, plano A para a baliza encarnada, não é anunciado como reforço e é desviado para Braga por empréstimo
  • Pedro Pereira, o substituto natural de Nélson Semedo, contratado à Sampdoria em Janeiro, prova não estar à altura da posição, apesar de 6 meses de avaliação não terem sido para chegar a essa conclusão
  • Aurélio Buta surge como o novo Nélson Semedo para as hostes encarnadas, assemelhando-se mais a Clésio Bauque
  • Júlio César lesiona-se, novamente, e Bruno Varela assume o seu lugar
  • Bruno Varela mostra ser competente na baliza encarnada, mas curto para uma equipa que se quer “grande”
  • Jardel acusa o ano de paragem por lesão e mostra estar a milhas do mínimo exigido para um clube grande
  • Krovinovic, seguindo a sina do futebolista do Benfica, lesiona-se e é sujeito a intervenção cirúrgica e tempo de paragem de 2 a 3 meses
Desastre Helvético [Fonte: OJogo]

Mas a Estrutura estava a trabalhar nos bastidores e surgiam diariamente notícias de potenciais reforços encarnados que faziam os benfiquistas sonhar.

Nada preparou os adeptos para as seguintes afirmações do líder benfiquista, Luís Filipe Vieira: “Enquanto não tivermos controlo da dívida, não vamos parar de vender”.

O benfiquista mais astuto compreendeu: não seria de esperar mais reforços convincentes, mas sim mais saídas. O passivo é para abater, apesar dos últimos 8 anos de vendas exorbitantes terem apenas contribuído para a duplicação desses mesmo passivo.

Um início animador

Chega o primeiro jogo oficial, a Supertaça Cândido de Oliveira, e Rui Vitória volta a fazer omeletes sem ovos: uma vitória por 3-1 frente ao Vitória SC e o primeiro título da época. O resultado parece demonstrar um claro domínio dos encarnados, mas quem viu o jogo sentiu que esteve muito mais perto o Vitória SC de fazer o 2-2 do que o Benfica fazer o 3-1. Mas quem é que se pode queixar de uma vitória?

 

O Primeiro Título da Época [Fonte: SAPO Desporto]

Três primeiros jogos para a Liga NOS e 3 vitórias, duas delas categóricas, em casa, contra Braga (3-1) e Belenenses (5-0). Seferovic carburava e fazia as delícias dos adeptos, enquanto a defesa ia demosntrando não ser suficiente”. A vitória em Chaves, de acordo com Rui Vitória, é merecida, apesar de o golo ter apenas surgido aos 90+1m num lance fortuito de Seferovic após cruzamento de Rafa.

O entoar das sirenes

Eis que então chega a deslocação a Vila do Conde, para defrontar o Rio Ave liderado pela sensação Miguel Cardoso. O Benfica, não destoando do seu modus operandi, conta já com 12 lesionados, entre eles Grimaldo, Júlio César, Fejsa e Salvio. O mote estava lançado para um jogo sofrido. Mas nada preparou os adeptos benfiquistas para o que tiveram de assistir no dia 26 de Agosto.

A equipa de Rui Vitória foi absolutamente banalizada em campo frente a um Rio Ave dominador, grande, com espírito positivo. Uma exibição de bradar aos céus em que o primeiro remate à baliza surge aos 40m da 1ª parte. Mais uma lesão, de Jardel, e a entrada do central mais espalhafatoso da Liga NOS, Lisandro López. Um auto-golo desse mesmo Lisandro, apesar de Varela ter sido o culpado, e um golo de Jonas num penalti discutível deram a divisão dos pontos entre ambas as equipas.

O técnico ribatejano afirma que não é preciso entrar em dramatismos, que não foi surpreendido, que se trata apenas de um percalço, tudo num nervosismo amplamente visível. Os adeptos encarnados também não saíram de Vila do Conde contentes, vaticinando uma época vergonhosa, a luta pelo 4º lugar, em reações amplamente exageradas.

Dramatismos ou não? [Fonte: MaisFutebol]

E a Estrutura prosseguia no seu silêncio ensurdecedor. Reforços precisavam-se e deles não havia notícias. Falava-se em Douglas para a lateral direita, um jogador mal amado em Espanha e no Brasil, Mile Svilar, um júnior de 17 anos para a baliza… Mas e os reforços sonantes? Onde param os Garays, os Gaitáns?

Chega o último dia do mercado e mais uma bomba nas hostes encarnadas: Konstantinos Mitroglou, avançado grego com 52 golos nas duas épocas em que esteve ao serviço do SL Benfica, é vendido por 15M (!), por metade do passe, ao Marselha. O adepto benfiquista não compreende, e com razão, a saída de um dos abonos de família mais carismáticos a pisar o Estádio da Luz nos últimos 15 anos.

Confirma-se Douglas, Svilar e Gabigol, jogador de conhecido mau temperamento, mas com um talento abismal, por empréstimo do Inter de Milão. Fecha o Mercado e os adeptos encarnados vêem as suas pretensões frustradas.

Reflexão necessita-se

No meio deste desastre encarnado, urge um repensar das prioridades da SAD encarnada e da postura da própria estrutura do futebol benfiquista. Após um Tetracampeonato inédito, as bases para o Pentacampeonato, apenas detido pelo FC Porto, estavam lançadas. A Liga NOS é menos competitiva de ano para ano e, teoricamente, bastaria a contratação de substitutos mais ou menos competentes para assegurar uma posição muito mais firme na luta pelo 1º lugar. Mas não houve substitutos à altura, nem lá perto. Bruno Varela não é, neste momento, guarda-redes para um grande, com uma instabilidade em campo que transparece a quilómetros de distância. A renovação de Eliseu não se compreende de um ponto de vista futebolístico, uma vez que a mediocridade do seu futebol é cada vez mais patente (relembrar jogo em Chaves com Matheus Pereira). André Almeida faz o que pode, mas não é nem nunca será um titular suficiente para um clube grande. Lisandro teve demasiadas oportunidades e demasiados anos para evoluir o seu estilo de jogo sul-americano e não o fez.

Se por um lado quem já estava no Benfica chega, quem chegou ao clube não convence, à partida. Svilar é uma incógnita, Krovinovic terá de se adaptar a uma realidade totalmente diferente, Gabigol terá de baixar a cabeça e trabalhar muito para tirar o lugar a algum dos jogadores da frente de ataque encarnado, e Douglas terá de lutar contra desconfianças típicas para com um jogador que foi incapaz de singrar no Gijón.

Espera-se que as parecenças com Preud’Homme não se fiquem pela aparência [Fonte: RTP]

Simultaneamente, a paciência encarnada para jogadores como Rafa esgotou-se (ainda que injustamente, visto que praticamente não teve oportunidades de jogo e, quando as teve, até conseguiu uma assistência para Seferovic em Chaves), e Rui Vitória insiste em jogadores que não se coadunam com um grande do futebol, como Felipe Augusto, um fetiche do treinador ribatejano, Salvio, que, apesar dos golos, é um jogador perdulário e egoísta, e Cervi, que estagnou o seu futebol e parece não conseguir passar de um jogador competente para um desequilibrador. Para isso, Rui Vitória dispensou Pedro Rodrigues, um substituto natural de Fejsa e um dos maiores talentos do Seixal, André Horta, num dos casos mais bizarros de gestão encarnada, e teima em não dar hipóteses de jogo a Rubén Dias, Zivkovic, Rafa e Jiménez, sendo estes últimos os pronto-socorros para a equipa quando já não há mais esperança.

A Estrutura desfez a defesa encarnada, o treinador não fincou pé e aceitou trabalhar com o que tinha, os reforços foram poucos e apressados, demonstrando uma falta de planeamento para além do plano A, e o discurso do Presidente desculpabiliza-se com o mercado e o passivo. Num mercado em que Dembelé é transferido por 150M€, Sigurdsson por 60M€, Klaassen por 30M€, Kyle Walker por 60M€, Neymar por 222M€, entre outros, parece que Ederson por 40M€ e Nélson Semedo por 30M€, o primeiro pelas suas características únicas e o segundo pela falta de qualidade mundial na posição de LD, assumem-se como negócios aquém do esperado, já para não falar dos 15M€ por Mitroglou (ainda que seja apenas por 50% do seu passe).

Como justificar a duplicação do passivo com a venda de 149 jogadores em 10 anos e valores tão avultados? [Fonte: Record]

Espera-se uma época dura, onde dois discursos se poderão preparar para Maio: “Conseguimos ser competitivos, mas não chegámos lá, após 4 anos de conquistas” ou “Mesmo sangrando a equipa toda, alguém há de assumir o lugar com qualidade“. Muita fé e crença,  pedida por uma Estrutura que, com o passar do tempo, se torna mais opaca, mais desligada da sua massa associativa.


One comment

  • jorge gomes

    Setembro 7, 2017 at 4:54 pm

    No final estarei atento ao pedido de desculpa desse autor.

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