João Neves no PSG: 70 milhões de euros é assim tão pouco?

Ricardo LopesAgosto 18, 20246min0

João Neves no PSG: 70 milhões de euros é assim tão pouco?

Ricardo LopesAgosto 18, 20246min0
Ricardo Lopes olha para a chegada de João Neves no PSG e se a quantia paga pelos parisienses foi bem ou mal aplicada

João Neves foi confirmado recentemente como reforço do PSG, deixando nos cofres do Benfica um valor fixo de 60 milhões de euros, que pode chegar aos 70, mediante o cumprimento de objetivos. Além disto, o emblema da Luz recebeu de volta Renato Sanches num empréstimo válido por uma no, sem encargos. Esta mudança gerou uma reação negativa por parte dos adeptos das águias, que apontavam aos 120 milhões de euros da cláusula de rescisão do jovem internacional português, considerado o melhor jogador do plantel em 2023/24. Pelo menos, o que se esforçava mais era de certeza. E a verdade é que há cada vez mais profissionais como João Neves. Por várias ocasiões mostrou que sentia como poucos o símbolo do emblema do seu coração, dando a cara em momentos complicados, quando elementos com outro arcaboiço não prestavam declarações. Mesmo com o drama familiar que o envolveu, João Neves nunca deu as costas à luta, numa época tão criticada.

Pensando assim, é complicado afirmar que o negócio de João Neves foi positivo. Porém, há mais fatores que envolvem a temática e que nos podem fazer mudar de opinião com relativa facilidade. Olhemos para o ponto de vista do PSG. Os franceses queriam contratar um novo centrocampista para acrescentar qualidade à posição, que deverá perder Manuel Ugarte, que não funcionou a 100% com Luis Enrique. João Neves encheu as medias do projeto, trazendo a intensidade e a garra que faltava. Contudo, apenas tem uma época completa enquanto profissional. Já vimos em outros casos, que fazer uma movimentação de capital tão elevada, quando o atleta tem apenas um ano (ou pouco mais) de experiência no futebol sénior, pode dar errado. O exemplo de João Félix é o mais ilustrativo. 124 milhões de euros, que provavelmente o Atlético de Madrid se arrepende de ter dado e que poderiam ter sido investidos em jogadores com mais experiência. João Neves está avaliado em 55 milhões de euros pelo Transfermarkt e o PSG decidiu não cometer uma loucura. Além disso, já tem a experiência de contratar no mercado português, algo que em 2023/24 não lhe foi favorável. Manuel Ugarte foi comprado por 60 milhões de euros (quando tinha um valor de 50) e não se deu totalmente bem na capital francesa, estando com as malas feitas para outro projeto. Gonçalo Ramos também foi contratado à Primeira Liga, por 65 milhões de euros e estava avaliado em 50, tal qual como o médio uruguaio. O PSG não foge muito deste método, pelo menos no que ao mercado português diz respeito. São investimentos elevados, mas com relativa cabeça. Porque é que com João Neves haveria de ser diferente?

Também temos de olhar no prisma do próprio Benfica. Mesmo sendo um clube do futebol, não nos podemos esquecer que se trata de uma empresa e que o objetivo é fechar o ano no verde. O que os encarnados têm investido não é para os bolsos de qualquer um. No presente mercado chegaram:

  • Vangelis Pavlidis: 18,5 milhões de euros
  • Jan-Niklas Beste: 8 milhões de euros
  • Benjamín Rollheiser: 9,5 milhões de euros (esteve emprestado em 2023/25)
  • Álvaro Carreras: 6 milhões de euros
  • Leandro Barreiro: custo zero, mass com prémio de assinatura e comissão ao agente

Não é a saída de Casper Tengstedt (que até foi por empréstimo) ou a de Paulo Bernardo que pagam estas entradas, sendo que a maioria destes atletas vêm com um salário bastante potente. A ida de Rafa Silva para o Besiktas aliviou a folha salarial, mas a renovação de Ángel Di María não saiu barata, seguramente.

O Benfica está obrigado a fazer uma grande venda a cada verão, de modo a conseguir ter um ano financeiramente seguro e estável, além de poder apetrechar o seu plantel com nomes de peso. Os casos de FC Porto e Sporting não são diferentes, embora os de Alvalade em 2024/25 tenham o dinheiro da Champions League, algo que fará falta aos dragões, que contam com menos ativos atrativos aos olhos dos tubarões europeus.

Rui Costa tinha duas claras hipóteses para venda: João Neves ou António Silva. O defesa central esteve longe da perfeição em 2023/24, com vários erros. No Euro 2024 a sua imagem ficou algo danificada devido ao Portugal x Geórgia. Sobrou para João Neves, que apenas valorizou no último ano. A direção do Benfica decerto desejaria os 120 milhões de euros da cláusula de rescisão, mas o médio (ainda) não vale isso e o PSG, mesmo com a loucura cometida por Neymar a vir-nos à cabeça, sabe negociar. Além disto, o timing era ótimo. Sabia-se que este seria um mercado em que o Benfica faria dois ou três bons investimentos, sendo que o mesmo ainda não acabou, e o mesmo tinha que ser alimentado. E se João Neves fizesse um 2024/25 para esquecer ou tivesse uma lesão?

E é precisamente pela perspetiva de João Neves que vamos terminar. O médio ama o Benfica, não pediu para sair, é obvio. Contudo, todos os jogadores querem ganhar os títulos mais importantes, ao mesmo tempo que detêm um contrato que os faça viver folgadamente e ajudar as suas famílias. João Neves somou aqui o melhor dos dois mundos. Fala-se que o seu salário será de cinco milhões de euros e estará muito mais perto de vencer a Champions League, do que se se tivesse mantido no Benfica. E se tivesse uma lesão grave? Seguramente as coisas podiam-se complicar para ele. Os emblemas iriam olhar para casos como o de Renato Sanches e retirariam o seu interesse ou fariam propostas bem inferiores. Embora muito improvável, também podemos olhar para o cenário de João Neves ser um one season wonder e aproveitou para dar já o salto, algo que outros não fizeram, como Ferro. O internacional português sabia que tinha aqui uma oportunidade para tentar algo mais e passar a ter mais oportunidades no onze inicial de Roberto Martínez. Além de que um regresso ao Benfica daqui a alguns anos é uma porta que fica totalmente aberta, como está nos casos de João Félix ou Bernardo Silva.

João Neves tem todas as condições para se assumir como um dos melhores médios do mundo e para ser avaliado nos tais 120 milhões de euros. No entanto, vendo todos os prismas, analisado as variáveis, os 70 milhões assentam que nem uma luva ao Benfica, que ainda recebe Renato Sanches para a posição. Se o mesmo estiver em forma, pode relançar a sua carreira. Este foi um negócio complicado para Rui Costa, que sabia de antemão que João Neves não renderia mais do que aquilo que foi pago. Como o vendeu, os adeptos criticam-no, mas as finanças estão no verde. Se o tivesse mantido, os aficionados gostariam um pouco mais dele (o que não é difícil, dada a sua fragilidade no universo benfiquista), mas o Benfica fecharia o ano com prejuízo.


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