Auditoria ao passado
Há uns meses, aquando das eleições no Futebol Clube do Porto assinava um artigo denominado de “Em abril, um furacão de mudança”. Uma reflexão sobre o futuro do Porto, um clube em parte dividido a nível de adeptos e com dificuldades financeiras fruto de uma má gestão passada. Agora, André Villas-Boas cumpre uma das suas promessas eleitorais: a realização de uma auditoria forense que investigou todos os gastos do clube num espaço temporal de 10 anos. Os resultados, sem grande surpresa, são a confirmação de más práticas, há muito enunciadas no espaço público, e até, atrever-me-ia a dizer o abuso de poder ou de fundos do clube. Na investigação realizada não há a atribuição de responsáveis dentro da SAD portista, no entanto refere-se que o clube da invicta foi lesado em cerca de 60 milhões de euros, dos quais 50 milhões pertencem a comissões pagas acima dos valores recomendados, estando o resto distribuído em bilhética e despesas de deslocação e representação (entre as quais para destinos paradisíacos a membros dos super dragões, joias e almoços).
Comunicado 🔵⚪
FC Porto apresenta conclusões da Auditoria Forense: um marco de transparência e um compromisso com o futuro➡ https://t.co/fO2UYHVaTe#FCPorto pic.twitter.com/2pUeK14rM0— FC Porto (@FCPorto) January 15, 2025
Estes valores, estou certo, chocam a esmagadora maioria não só dos portistas, mas também dos adeptos do futebol português. Representam práticas frequentes nos três grandes, principalmente nas comissões, que perturbam o crescimento económico sustentável e a contratação de jogadores realmente competentes e capazes, em detrimento de atletas favoritos pelos empresários que os representam. Villas-Boas marcou com um ato de coragem uma nova era no futebol português, que vai ao encontro das políticas que adotou no mercado de verão. O principal desafio para o jovem presidente prende-se em mostrar aos portistas nos próximos três anos e meio que realmente prima pela diferença.
Internamente, a auditoria é publicada numa altura em que os sócios serão chamados a votar a expulsão de Fernando Madureira, bem como dos restantes envolvidos na operação pretoriano. Uma proteção, tal como o nome da investigação denuncia, pretoriana não em nome do clube, ao invés dos interesses individuais que lesaram o Porto em milhões de euros. O cenário mais provável é que os arguidos em causa acabem por ser expulsos de sócio contribuindo para a total rotura com o passado.
Despacho da Mesa da Assembleia Geral 🔵⚪
Assembleia Geral Extraordinária realiza-se este sábado às 9h no Dragão Arena▶ https://t.co/siY251l9cQ#FCPorto pic.twitter.com/m04j8VE4NW— FC Porto (@FCPorto) January 17, 2025
A nível desportivo o Futebol Clube do Porto não vive a melhor fase. É certo que em comparação com a época passada está melhor colocado, no entanto o nível exibicional e a entrega dos atletas dentro das quatro linhas está muito aquém do esperado. O Porto depende só de si, no entanto o clima de tensão em torno da equipa é tal que a cada passe falhado a descrença acentuasse e a confiança em Vítor Bruno diminui. A máxima de que “o que importa é ganhar” parece ligeiramente menos importante hoje em dia, no entanto o presidente do Futebol Clube do Porto melhor que ninguém sabe que não basta corrigir os problemas de gestão é também preciso ganhar. Já conquistou a supertaça e está na luta pelo campeonato e pela liga europa (cenário ainda menos provável). O “ano 0” poderá servir de atenuante, mas a partir da próxima época a ausência de títulos de maior relevância poderá ser um problema no projeto de restruturação de André Villas-Boas.