A urgência dos resultados
Do campeonato dos “aflitos”, surge um pequeno clube a norte que se procura agigantar e manter o seu nome perto dos maiores palcos do futebol português. Com um investimento avultado, o Desportivo das Aves procura confirmar a permanência bem cedo. Contudo, será a pressa inimiga da perfeição?
O Aves iniciou a sua travessia pela primeira liga desde logo de forma atribulada, embora o calendário assim o fizesse prever. Se a primeira jornada já fazia prever uma derrota, em casa, frente ao favoritíssimo Sporting (0-2 foi o resultado final), o empate a duas bolas frente ao Paços de Ferreira soube certamente mais a derrota que a da sua estreia. A vencer por duas bolas em apenas 11 minutos, a equipa ainda treinada por Ricardo Soares viu a vitória fugir-lhe ao minuto 87 e assim perdeu uma oportunidade flagrante de se moralizar para novos resultados favoráveis. Da quase euforia ao desalento dos resultados negativos foi um piscar de olhos.
Seguiu-se a derrota em casa com o Braga (0-2) e no Bessa, por 0-1, terreno tradicionalmente complicado onde até o campeão em título Benfica perdeu já esta temporada. Uma vitória frente ao Belenenses ainda alimentou a continuidade de Ricardo Soares, mas as jornadas seguintes acabaram por confirmar a dificuldade do calendário avense. Uma derrota nos Barreiros frente ao Marítimo, um empate em casa com o Rio Ave e um novo empate em Portimão frente a um dos principais rivais diretos acabou por ditar o fim da linha para o técnico felgueirense.
De forma ponderada e consciente, qualquer seguidor do campeonato português percebe que os resultados alcançados perante os desafios enfrentados não são assim tão surpreendentes pela negativa, tendo até vários pontos favoráveis a retirar. O Aves bateu o pé a um Belenenses que tem feito um dos melhores arranques dos últimos anos, travou um Rio Ave que pôs um Benfica em sentido e por pouco não venceu em casa de um histórico de presença assídua na primeira liga como é o Paços de Ferreira. O próprio empate em Portimão está longe de ser um péssimo resultado, como a equipa de Vítor Oliveira vai tratando de demonstrar.
O problema maior deste Aves assenta numa política onde paciência e tolerância são termos dispensáveis no caminho a percorrer.
É na urgência de resultados, mais quantitativos do que qualquer outra coisa, que se baseia a política dos avenses. Porquê? Estávamos ainda em inícios de maio deste ano civil (aquando da confirmação da subida da equipa à primeira liga), quando o presidente do clube avense, em declarações à Lusa, garantia: “A SAD tem uma disponibilidade financeira que não vai deixar dúvidas de que vamos conseguir a manutenção”.
Ainda a época 17/18 estava longe de começar, numa nova e dura realidade, já Armando Silva transbordava de ambição e ilusão. Trata-se de um clube cuja SAD foi vendida a uma empresa portuguesa com sócios brasileiros e chineses (a empresa comprou 70% do capital da SAD por 750 mil euros) e que, para além do investimento no plantel principal, tem já projetos em execução para um centro de estágio e um hotel – esta operação implica um valor a rondar os 4,5 milhões de euros.
Ricardo Soares ocupou o lugar do autor da subida, José Mota, sabendo de antemão que o investimento envolvido lhe daria pouca margem de manobra se os resultados tardassem em aparecer. Com pouco mais de um mês no cargo, o treinador foi alvo da medida mais fácil quando as coisas correm mal: foi demitido em detrimento de Lito Vidigal.
Neste panorama, várias são as questões alarmantes que surgem: não fora precoce a saída de Ricardo Soares? Não estaria o plantel a começar a assimilar as ideias do treinador e a ganhar rotinas? Terá o novo técnico mais crédito perante resultados pouco positivos? Aguentará o vasto plantel avense esta avalanche de acontecimentos à sua volta, com a pressão de apresentar resultados no imediato? Até que ponto estará a SAD disposta a atuar em janeiro se o cenário continuar desfavorável?
Quem olha para o plantel do Desportivo das Aves vê jogadores já de créditos firmados na liga portuguesa, jovens com potencial emprestados pelos grandes, jogadores muito experientes e até internacionais.
A revolução no plantel foi tal que Nelson Lenho passou de capitão do Desportivo de Chaves para assumir as mesmas funções na turma avense. Paulo Machado, Braga, Vítor Gomes, Derley, Sami, Salvador Agra, entre outros nomes como os jovens Ryan Gauld (Sporting) e Arango (Benfica) demonstram desde logo que este não se trata de um clube com dificuldades financeiras, nem que procura os serviços mínimos para se manter na primeira liga.
A questão maior manter-se-á e só o tempo ditará o desfecho desta equipa: será o Desportivo das Aves uma equipa de descida anunciada ou uma agradável surpresa por acontecer?
One comment
Francisco Oliveira
Novembro 3, 2017 at 1:26 am
Na minha sincera e modesta opinião , o Aves não fez uma boa abordagem a nova realidade, pelo que vejo de futebol (…) um plantel que sobe a 1 Liga (ainda por cima, com muitos pontos de avanço) e que poderia ter sido Campeão sem supresa , oferece perfeitas garantias de fazer um campeonato tranquilo e não precisaria de mudanças tao aprofundadas como um plantel completamente novo , como e o caso (!)… vejam os casos recentes do Portimonense / Feirense e ate do próprio Chaves no ano passado !?
Investimento tao avultado corre o risco de desabar / mas ainda falta muito , isto e uma maratona!