Um olhar ao crescimento ao futebol feminino português
O crescimento do futebol feminino português é visível e tem sido uma viagem bonita de acompanhar. Ainda há várias coisas a corrigir seja pelos clubes, seja pela FPF e pela própria comunicação social: veja-se a polémica e a incerteza que rondou o Vilaverdense até ao início da Liga BPI; os ecrãs divididos que o Canal 11 teima em utilizar jogo após jogo; ou o relvado e as condições do balneário do Marítimo, que vieram a público recentemente. Há um longo caminho a percorrer, mas pelo caminho também se têm feito coisas bonitas e quebrado várias barreiras, que antes pareciam inalcançáveis. Comecemos pela transferência de Kika Nazareth do Benfica para o Barcelona, a troco de 500 mil euros; mais do que o dinheiro envolvido, que coloca a Kika no top cinco de transferências mais caras no mundo do futebol feminino, algo impensável no futebol português há duas/três temporadas.
Ter uma jogadora portuguesa, a jogar na equipa bicampeã europeia, é um feito inacreditável e um sinal não só do crescimento da jogadora portuguesa no mundo, mas também um sinal de que olham e valorizam cada vez mais o nosso campeonato. Por exemplo, nesta temporada a Liga Espanhola irá ter seis jogadoras portuguesas a atuar no seu campeonato: Inês Pereira ( RC Deportivo), Sofia Silva (Valência), Tatiana Pinto (Atlético de Madrid), Diana Gomes (Sevilha), Andreia Jacinto (Real Sociedad) e Kika Nazareth (Barcelona). Ainda em Espanha teremos Maria Ferreira e Rita Almeida a jogar no Villarreal e Iara Lobo nos escalões de formação, do Barcelona.
O aparecimento do FC Porto na modalidade vai ser também um boast enorme para o futebol jogado por mulheres ter mais atenção e mais visibilidade. Prova disso, são os 31.093 adeptos que estiveram no dia 1 de setembro no Dragão, para assistir à apresentação do primeiro plantel sénior da história do Futebol Clube do Porto. Um recorde nacional de assistência em Portugal, e que demonstra o quanto os adeptos portistas desejam e ansiavam pela entrada do clube na modalidade. A equipa irá disputar a terceira divisão e pretende chegar à Liga BPI em breve, tendo um plantel sustentável e a evoluir de patamar em patamar, até chegar à primeira liga.
Numa semana, onde pela primeira vez na história do futebol feminino nacional teremos duas equipas na segunda ronda da pré-eliminatória da Women’s Champions League, após Benfica e Sporting terem vencido os respetivos grupos. Depois de na temporada passada o Benfica ter vencido o Eintrackt de Frankfurt na fase de grupos da UWCL, nesta temporada foi a vez do Sporting vencer a equipa alemã, e estar presente na próxima ronda da competição. À partida este dado pode parecer irrelevante, mas nem há duas/três épocas parecia impossível competir contra elas. A Alemanha é uma da liga big 4 da Europa, e o Frankfurt é uma equipa com várias de internacionais alemãs, tendo sido terceira classificada do seu campeonato. Jogar, bater o pé e vencer estas equipas é um sinal da cada vez maior capacidade de as equipas portuguesas jogarem de igual para igual contra as equipas dos “Big 4”.
Foi notícia esta semana, que Portugal se candidatou à organização do Campeonato da Europa de 2029, uma notícia extraordinária e que iria ser uma montra e uma visibilidade enorme para o futebol feminino do país. Numa altura em que se espera que o futebol feminino possa estar consolidado, e em crescendo, seria fantástico poder receber as melhores da europa. Para além da visibilidade e da promoção que o país ia ter. A nível de estrutura acredito que temos estádios suficientes e com as dimensões necessárias. Ou seja, havendo vontade e uma boa capacidade de organização, acredito que a candidatura portuguesa possa ser aceite e vir a ser um sucesso.
Candidatura 𝗙𝗘𝗜𝗧𝗔 🔏 Portugal candidata-se a anfitrião do #WEURO2029! 🏆🌍 #PartilhaAPaixão
🔗 𝗦𝗔𝗕𝗘 𝗠𝗔𝗜𝗦 👉 https://t.co/O6df6BqrCJ
📸 @WEURO2025 pic.twitter.com/aZV0MGaxrG
— Portugal (@selecaoportugal) September 4, 2024
Porém até 2029, há várias coisas a melhorar no futebol português. Para além das condições oferecidas às atletas e aos clubes, é também necessário melhorar a forma como se vende o produto. Por exemplo, neste fim de semana estão a decorrer os oitavos de final da Taça da Liga, e só um dos três jogos teve transmissão e porque a mesma foi assegurada por um dos clubes que participava. A juntar a isto ainda temos os jogos da liga constantemente a ter os mesmos horários e a sobreporem-se. É verdade, que o mesmo acontece no futebol masculino e não há problema, mas o público do feminino é um público diferente e que por norma gosta de assistir a vários jogos independentemente de ser ou não afeto a esse clube. Apesar dos sinais muto positivos, ainda há muita coisa a melhorar no nosso futebol.