Francisco Neto e a incapacidade de introspecção
Um empate, oito golos sofridos, dois marcados, duas derrotas, uma goleada atónita e um conjunto de atletas que mereciam o início de um novo capítulo e era. Porém, Francisco Neto, o ainda seleccionador nacional, continua cismado em que é a pessoa certa para o ofício, mantendo a postura que os resultados averbados nos últimos seis anos são naturais e que fazem parte de um desenvolvimento planeado e optimista. Mas e se não for assim? Chegou em 2014 ao comando da selecção feminina de Portugal e foi capaz de dar rumo a um conjunto que começava a despertar, apurando Portugal para o Campeonato da Europa pela primeira vez em 2017, um feito marcante e que fez barulho o suficiente para que mais atletas acreditassem ser possível ser futebolista profissional em Portugal.
Nessa participação do Euro 2017 realizado nos Países Baixos, Portugal somou também a sua primeira (e única) vitória, derrotando a Escócia por 2-1, lutando pelo apuramento para os quartos-de-final até ao último minuto da fase-de-grupos. Seguiu-se novo apuramento inédito para um Mundial e, infelizmente, aí começaram a surgir os primeiros problemas na forma como Portugal jogava. Apesar da vitória e empate conquistados nas antípodas, Portugal pareceu ficar aquém das suas capacidades, com um futebol pastelão, extremamente defensivo e que tinha pouca ou quase nenhuma acutilância ofensiva, ficando a equipa entregue aos momentos de génio individuais. Para Francisco Neto, Portugal esteve a um nível altíssimo e foi por causa de A ou B que o apuramento para a fase-seguinte não aconteceu, tentando se escudar das responsabilidades das exibições apagadas, das escolhas menos conseguidas e da incapacidade para montar uma grelha ofensiva de bom nível.
O Europeu de 2025 foi um retrato dos últimos anos, e que não vale a pena falar muito mais quando os jogos podem ser revistos por aqueles que tiverem interesse em fazer parte da reflexão. Poderão existir mil e uma desculpas para a derrota contra a Itália e empate ante a Bélgica, mas o futebol jogado não é resultado da jogadora A estar lesionada, ou B estar em fora de forma ou C ter sido castigada.
Se é verdade que garantiu os últimos três apuramentos para fases finais das competições da UEFA e FIFA, também é verdade que é notório a falta de qualidade na forma como a equipa gere a bola tendo protagonistas de outro calibre em comparação há 8 anos atrás, com a goleada massiva frente à Espanha no Europeu de 2025 ou as várias derrotas deprimentes na última edição da Liga das Nações a serem exemplos suficientes para perceber que algo não está bem.
Portugal para o mal e para o bem, tenta manter os corpos técnicos ad eternum numa tentativa de transmitir confiança, desenvolvimento e coesão, algo que na teoria é positivo, mas que na prática acaba por entrar em rotura quando os resultados são sistematicamente preocupantes. Voltando à Liga das Nações 2025, Portugal foi a selecção que mais golos concedeu durante toda a competição, consentindo um total de 21 golos com os 1-7 ante a Espanha e os 0-3 frente à Bélgica a serem um retrato perfeito do futebol actual de Francisco Neto.
Como é que é possível aceitar que só uma atleta do Torreense foi chamada ao Europeu? Como é que Ana Dias ficou de fora da convocatória final? As questões são várias e todas elas serão recebidas da mesma forma, com silêncio.
Percebendo que o seleccionador nacional quer continuar à frente do comando das Quinas, era fundamental que efectuasse uma autorreflexão antes de partir para os próximos dois anos de competição. Será que Francisco Neto tem receio do que será da sua carreira enquanto treinador principal se sair da selecção nacional? Ou tem receio de que quem venha a seguir não seja capaz de se conectar e perceber o que é o futebol feminino em Portugal? Independentemente das razões da vontade de ficar, o legado de Francisco Neto poderá sair completamente riscado se Portugal, sob seu comando, continuar nesta curva descendente ao jeito do que se passou com Fernando Santos. Por bem dos sucessos do passado, é importante perceber que talvez o futuro mereça outra solução e caminho.
Pedro Proença: "Francisco Neto tem feito um trabalho absolutamente extraordinário"
"Mister, daqui a quatro anos está aqui para rebentar isto tudo" pic.twitter.com/QAHRAfSead
— Cabine Desportiva (@CabineSport) July 12, 2025