Fobia do Sucesso: Matt Le Tissier!

Brás AssunçãoMarço 6, 20244min0

Fobia do Sucesso: Matt Le Tissier!

Brás AssunçãoMarço 6, 20244min0
Um génio que não precisava de correr muito, Matt Le Tissier marcou uma e Brás Assunção fala do impacto do internacional inglês

A maioria da população procura sucesso e reconhecimento na vida. No futebol não é diferente, porém existem alguns casos que fogem desse estereótipo, e o artigo deste mês é sobre um inglês que levantou estádios com os seus fabulosos remates, mas que fugiu da fama e dos títulos. Desconhecido por muitos, principalmente pela geração Z, mas idolatrado por outros tantos que viram Matt Le “god” Tissier nos 90’s.

Nascido e criado na ilha Guernsey, que tem a particularidade de fazer as suas próprias leis, porque oficialmente não pertence ao Reino Unido, é um típico local conhecido por ficar no meio do nada, e serve para lavagens de dinheiro caprichadas. Mas os moradores recomendam a sua ilha para quem procura paz de espírito. E é nesta pacata ilha que a nossa lenda cresceu e que segundo o próprio, levou essa paz de espírito para a sua carreira profissional.

Deu nas vistas num torneio local, onde o Southampton logo lhe piscou o olho. Southampton  conhecido no mundo do futebol, como uma das melhores escolas da Inglaterra, onde jogadores como Alan Shearer e Gareth Bale se perfilam como bastiões, tal como Tissier. Alan Shearer, outra lenda que sou fã, partilhou balneário com Le Tissier e como um puxava pelo outro. Não sendo um avançado de área, atuando nas alas ou como falso 9, Le Tissier marcava muitos golos, e na época de 89/90 e 90/91 marcou 21 golos no total das competições. Números impressionantes para um jovem que adorava se divertir em campo, e marcar golos monumentais fora de área, levando inclusive o prêmio de melhor jogador jovem do ano, pela FA.

Os anos passaram e ao contrário do que se esperava, Matt Le Tissier continuava no Sul da Inglaterra, longe das equipas grandes, apesar dos seus números serem muito bons. Então surge a pergunta: Porquê de não ter acontecido tal salto?

Segundo o próprio, ele como qualquer jogador profissional queria ganhar troféus, porém gostava mais de ser o “god” dos Saints e provocar alegrias a um clube modesto como o Southampton. Gostava de arrancar sorrisos dos adeptos e provocar alvoroço com os seus portentosos golos. Teve propostas para sair vindas do United de Ferguson e do Tottenham, mas ele sabia que tanto em Manchester ou em Londres ele teria que dividir holofotes e as coisas poderiam facilmente descambar. Medos e visões legítimas, de quem sempre viveu tranquilo e com os pés bem firmes na terra.

Claro que este pensamento teve outros dissabores além dos títulos não conquistados. Falo da sua presença na seleção Inglesa. Foi apenas 8 vezes internacional, números muito abaixo do seu talento. Ao contrário do que li e ouvi em entrevistas, sejam elas daqueles tempos ou atuais, a sua concorrência não era assim tão forte. Havia Michael Owen e Alan Shearer, mas olhando para o restante dos avançados ingleses naquela década, Matt Le Tissier ombreava com os restantes, no mínimo. E olhem que falo de nomes como Les Ferdinand, Andy Cole, Robbie Fowler, Chris Sutton e Teddy Sheringham.

Esteve perto de ir ao mundial de 98, mas o selecionador daquela época, Glenn Hoddle, não o quis na comitiva e levou Les Ferdinand e Teddy Sheringham, além dos titulares Alan Shearer e Michael Owen, que tinha 18 anos em 1998. Essa mágoa de não participar num mundial tão importante fez mossa no seu futebol e nunca mais foi o mesmo. As lesões também foram aparecendo e, pouco a pouco, o brilhantismo foi-se apagando nos relvados ingleses. Piorando a situação, o futebol mundial estava a mudar e o seu estilo mais “lento” e técnico, dava lugar à força e à velocidade. Era os ares da mudança da Premier League, tal como a conhecemos hoje.

Para algumas pessoas, Le “god” teve fobia do sucesso, para outras foi uma lenda. Títulos são bons, mas não são tudo. O principal é entreter as pessoas e fazê-las felizes, e isso ele conseguiu! Filosofia estranha nos dias de hoje, onde a cultura da vitória é que importa, e se o jogo for aborrecido, que assim seja. Desde que se ganhe…

Algo que abomino completamente. Que apareçam mais Le Tessier´s nas nossas vidas, e que possamos chamar também de “god´s”.


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