FC Porto e os mercados questionáveis
Com a entrada em 2024, veio a abertura do mercado de inverno, aquele mercado adorado por treinadores que precisam de preencher um plantel desfalcado por lesões e odiado por adeptos e treinadores que têm receio de perder a meio da época algum dos seus jogadores mais influentes. Lembram-se quando ficámos há 2 anos sem o Luis Díaz porque o Liverpool assim o quis? É um mercado mais curto e com menos movimentações em relação ao de verão mas que mesmo assim já tem dado que falar, pelo menos em relação ao plantel do FC Porto. No mês passado, o Mister Conceição referia que se atravessava o tempo das vacas magras mas, se olharmos bem para os investimentos feitos nos mercados, parece que o problema é outro – más decisões/má gestão. Vamos recuar alguns mercados para justificar esta análise que terá por base os valores e estatísticas apresentados pelo Transfermarkt.
No mercado de verão de 2022 o FC Porto adquiriu um guarda-redes por 2.5M€ que até hoje ninguém sabe o propósito da sua vinda. Samuel Portugal aguarda ainda pela estreia que tarda em vir e a verdade é que ninguém sente a necessidade de o colocar em campo quando temos Diogo Costa como principal defensor das redes da equipa e Cláudio Ramos para o substituir se necessário for (ou para jogar nas taças).Enviaram o Diogo Leite para o Union Berlin (na altura por empréstimo) e investiram aproximadamente 20M€ no central do Braga – David Carmo – que não conseguiu tornar-se titular indiscutível e está neste momento na equipa B (despromoção motivada por aparentes opiniões proferidas pelo próprio e não muito bem aceites pelos seus superiores). Fez pela equipa principal até à data 27 jogos (25 como titular e 2 como suplente), tendo pelo meio acumulado várias presenças no banco e até na bancada do estádio.
Foram ainda buscar Gabriel Veron ao Palmeiras por pouco mais de 10M€, e apesar das promessa que parecia vir dali, devido às várias lesões ao longo da estadia dele no clube, acabou por fazer apenas 26 jogos pela equipa principal (5 jogos a titular e 21 como suplente) tendo marcado 1 golo e feito 5 assistências. Regressou agora ao campeonato brasileiro, tendo sido cedido ao Cruzeiro até ao fim deste ano civil.
SEJA BEM-VINDO, GABRIEL VERON! ✍️💙
O atacante de 21 anos é o novo reforço do Cruzeiro. O jogador chega por empréstimo do Porto, com contrato até o fim de 2024.
Que venham muitos gols e sucesso! ⚽#FechadoComOCruzeiro pic.twitter.com/WZrxfsnpNY
— Cruzeiro 🦊 (@Cruzeiro) December 27, 2023
Assim somado, só o que foi gasto nestes 3 jogadores que não renderam até agora no clube, podiam ter (e isto sou só eu a atirar uma hipótese para o ar) comprado um lateral com melhor qualidade. Um que corresse a ala como o Zaidu, mas com bom jogo de pés a acompanhar, boas características defensivas e excelentes cruzamentos para a área. E reparem, isto não é um ataque ao Zaidu, convenhamos que ele faz o melhor que pode/sabe com aquilo que tem. Não tem é mais que aquilo para nos oferecer.
Passando ao mercado de verão de 2023, os dois investimentos que parecem não ter funcionado foram o Nico González (produto desenvolvido na La Masia e adquirido por 8.4M€ pelo FC Porto) e Fran Navarro (comprado por 7M€ ao Gil Vicente).
O primeiro, somou até agora 14 jogos, tendo feito apenas 5 como titular e acabou por desaparecer completamente do radar algures no mês de novembro, quando deixou de ser convocado para os jogos. Correm rumores de que estará alegadamente insatisfeito com a sua pouca utilização e que pretende, ainda durante este mercado, procurar mais tempo de jogo na liga espanhola ou noutra que o queira.
Já Fran Navarro, que foi o primeiro reforço a ser oficializado nesse mercado, realizou apenas 10 jogos de Dragão ao peito (2 a titular e com 1 golo marcado na Taça de Portugal frente ao Montalegre) e já rumou até à Grécia para reforçar o Olympiacos de Carlos Carvalhal, pelo menos até ao final da época. Tendo em conta o jogador que foi na época passada no nosso campeonato, as expectativas sobre o que poderia acrescentar ao plantel de Sérgio Conceição eram até altas e não era bem este o caminho que se esperava.
🔴⚪✍🏻 Signed. Sealed. Delivered
Let’s go 𝑭𝒓𝒂𝒏! 🔥#Olympiacos #Transfer #Navarro pic.twitter.com/3ATfxkFhqO
— Olympiacos FC (@olympiacosfc) December 31, 2023
Dois jogadores que entraram num mercado e que (se os rumores sobre Nico se confirmarem) saem ambos no mercado seguinte, sem terem tido oportunidade de mostrar mais daquilo que supostamente tinham para oferecer.
Claro que temos outros jogadores que entraram nesses mercados e que correu tudo bem com eles, tendo sido bem integrados nos planos da equipa, isso não há dúvida!
Mas no campo das más decisões/má gestão destes últimos dois anos (e porque não quero recuar mais que isso para não me alongar) temos ainda as saídas a custo 0 de Mbemba, Nakajima, Uribe, Manafá, Nanu, Rodrigo Conceição, Fernando Andrade e Carraça.
Obviamente que nem todos nesta lista iriam render quantias avultadas aos cofres do clube, mas temos visto ultimamente uma dificuldade em renovar contratos que resulta nestas partidas a custo 0 e estamos na iminência de ver mais um a abandonar nessas condições. Mehdi Taremi já foi abordado noutros mercados e o clube optou por nunca o vender, deixando agora nas mãos dele a oportunidade de assinar livremente por quem quiser no final da época e sem render um único cêntimo ao clube que representa desde a época de 20/21.
Uma gestão um tanto ou quanto questionável se ainda acrescentarmos a decisão de vender Francisco Conceição ao Ajax por apenas 5M€ para o ir “resgatar”, apenas 1 ano depois, por empréstimo com opção de compra mais elevada que o valor pelo qual foi vendido inicialmente – 10M€ e ativada automaticamente caso cumpra, pelo menos, 45 minutos em 25 jogos.
Francisco Conceição de volta a Casa👉 https://t.co/CqvSq1lXF8#ImortaisPorDireito pic.twitter.com/FmSSM61V2S
— FC Porto (@FCPorto) September 1, 2023
São para mim um conjunto de situações que se têm verificado regularmente na gestão do FC Porto nos últimos anos que não correspondem de todo aos padrões a que o clube nos tinha habituado. E por isso fica a questão: estará realmente o Porto a atravessar o tempo das vacas magras, ou estará ele mesmo, à conta da sua gestão a criar esse cenário?