Euro 2024 – uma revisão táctica ao que se passou até aqui

Fair PlayJulho 7, 202413min0

Euro 2024 – uma revisão táctica ao que se passou até aqui

Fair PlayJulho 7, 202413min0
Com as meias-finais do Euro 2024 no horizonte, Paulo Meneses regressa à fase-de-grupos e analisa o que se passou por lá

Uma das coisas mais fantásticas que temos assistido no Euro 2024 na Alemanha, são os estádios cheios, com milhares de adeptos dos países participantes. Para isso, a posição geográfica que Alemanha ocupa no centro da Europa, ajuda. Mas não só. O facto do país organizador ter investido muito nos últimos anos nas infra estruturas, é um dado adquirido.

Estádios como o BVB Stadion Dortmund, Düsseldorf Arena, Frankfurt Arena, Arena AufSchalke, Volksparkstadion Hamburg, Leipzig Stadium, Munich Football Arena, Stuttgart Arena, Cologne Stadium e o Olympiastadion Berlin – onde se vai realizar a Final do Euro 2024 – têm proporcionado um grande espectáculo de gerações e culturas distintas.

Curioso, que alguns destes grandes estádios são de equipas que jogam na 2ª divisão Alemã, o que revela o grande crescimento do futebol alemão nos últimos tempos. Desse modo, estamos assistindo a grandes espectáculos (dentro e fora de campo), só um detalhe que se escapa a todos os intervenientes da organização: as invasões de campo (demasiadas vezes) revela que, nem a grande capacidade de organização Alemã (na teoria), não tem sido capaz de prevenir ou evitar que tal suceda.

FASE DE GRUPOS

Depois de uma época exigente com muitos jogos e de alta intensidade nos respectivos campeonatos, penso que a maior parte dos jogos do Europeu 2024 tem apresentado jogos de alta intensidade e de imensa qualidade.

GRUPO A

No Grupo A, a seleção anfitriã abriu o torneio demonstrando grande poderio, com uma vitória de 5-1 frente à Escócia que se apresentou num sistema táctico 1-3-4-3 (5 defesas na fase defensiva). Com mais posse de bola e poderio ofensivo, era Kroos e Gundoğan quem pegaram na batuta e davam os tempos ao jogo ofensivo da Alemanha, Kroos numa fase mais de construção (na linha de 3 entre Central e Lateral Esquerdo), pautando os ritmos com bola, jogando curto para atrair o adversário, para depois fazer passes de media distancia (entre linhas) e passes longos – principalmente para Kimmich que dava amplitude na ala contrária.

A partir daí surgiam os problemas, com a qualidade de passe e cruzamento de Kimmich e a capacidade de 1×1 de Musiala, criaram muitos problemas à Escócia. Por seu lado, Gundoğan pisando espaços mais ofensivos, entre linhas, aparecendo de 2ª linha, fazendo desequilíbrios na estrutura defensiva adversária.

Na mesma jornada, a Suíça demonstrou que queria lutar pelo 1º lugar ganhando 3-1 à Hungria, num sistema táctico de 1-3-4-3 onde Xhaka, o capitão, demonstrou uma grande capacidade futebolística e de liderança, para levar a equipa à vitória, algo que foi seu apanágio durante a excelente temporada no Bayer Leverkusen.

Estava assim aberto o Europeu 2024, da melhor maneira, com 2 bons jogos. A Alemanha não conseguiu fazer o pleno no grupo, empatando o confronto com Suíça, onde se revelou um jogo muito difícil para os Alemães, empatando o jogo só nos minutos finais.

A Alemanha e Suíça qualificaram-se nos 2 primeiros lugares, sem surpresas, não só porque eram favoritas mas também porque justificaram com futebol de qualidade e exibições consistentes.

GRUPO B

 No Grupo B, com Espanha, Itália, Croácia e Albânia, penso que Espanha era a favorita para passar o grupo em 1º lugar, e depois Itália e Croácia, teoricamente e baseando-me no histórico de ambas, eram candidatas ao 2º lugar.

O 1º jogo da Espanha contra Croácia, demonstrou claramente que, Espanha está neste torneio como uma das grandes favoritas a ganhar o Europeu 2024. A vitória por 3-0 com um sistema táctico de 1-4-3-3, com construção desde trás aproveitando a qualidade de pés do Guarda Redes Unai Simón, com uma grande dinâmica no meio campo, com Rodri dando o equilíbrio à equipa, com Fabian Ruiz e Pedri a ocupar espaços mais adiantados, e com 2 flechas nas alas (Yamal e Williams), que vão dando “show” em cada bola que tocam, pelo descaramento e coragem que têm que, apesar da idade, não têm receio do adversário que enfrentam, tentando o 1×1 sempre que podem, e com grande eficiência criando grandes desequilíbrios e muitos problemas ao adversário.

A Itália, com um sistema táctico de 1-4-2-3-1 qualificou-se em 2º lugar com 4 pontos.  Foi uma equipa sem grandes “floreados” no seu jogo, mas foi suficiente para qualificar-se. Com o seu Guarda Redes Donnarumma em grande forma e Jorginho no meio campo a organizar o seu jogo ofensivo. Tem-se falado muito das regras e da disciplina que Spaletti instaurou na Seleção Italiana, que não caiu muito bem no seio dos jogadores. No entanto, não sabemos se esse facto está influenciando o rendimento da equipa.

A Albânia. De Sylvinho, somou somente 1 ponto (empate com Croácia), mas em todos os jogos demonstrou-se muito competitiva. Nas derrotas contra Italia e Espanha, pela margem minima de 1 golo. O seu 1-4-3-3 demonstrou-se organizado, agressivo e bastante competitivo. No jogo contra Itália, surpreenderam com um golo madrugador, e fizeram suar a Italia para virar o jogo.

A Croácia, com Modric a comandar o jogo da equipa, não conseguiu qualificar-se para a ronda seguinte, nem como 3º melhor classificado. Trata-se de uma seleção com historial em Europeus e Mundiais, mas não demonstrou superioridade, por exemplo, no jogo contra a Albânia, que não foi além de um empate.

De destacar que a Espanha, não sofreu nenhum golo ainda, demonstrando uma consistência muito grande no seu jogo (de posição), que assenta também numa grande transição defensiva na hora da perda de bola.

GRUPO C

O grupo C, tirando a Inglaterra, poderíamos adivinhar que seria um grupo muito equilibrado. Com as seleções Dinamarca, Eslovénia e Servia a disputarem os 2º e 3º posto na tabela. Foi um grupo que teve somente 1 vitória (Inglaterra contra a Servia), o resto são empates. O que mostra o equilíbrio no grupo.

Dinamarca e Eslovénia qualificaram-se com 3 pontos cada uma, deixando a Servia em ultimo lugar na classificação. A Eslovénia vai defrontar Portugal, que costuma jogar em bloco baixo-medio num 1-4-4-2. É uma seleção muito forte fisicamente. É uma seleção que tem um grande guarda redes: Oblak (União de Leiria e Benfica). Sesko e Sporar (ex Sporting e ex Braga) são os 2 Pontas de Lança da equipa, demonstram ser versáteis e fortes no contra ataque.

GRUPO D

Penso que, toda a gente tinha uma grande expectativa com a França neste Europeu. Começou bem com uma vitoria contra a Áustria. Mas depois teve 2 empates – contra Países Baixos e Polónia. Toda a gente do futebol considera que a França tem, teoricamente, nomes de nível mundial. Por isso, na minha opinião, esteve aquém do esperado. Vamos ver agora nos jogos do “mata-mata”.

Não quero acreditar que, a França quis passar em 2º lugar para evitar “algum” adversário nos Quartos de Final.

No caso da Áustria, penso que foi uma das grandes surpresas, não só do grupo, mas também no Europeu. Depois da derrota contra a França, ganhou 3-1 contra a Polónia e 3-2 contra os Países Baixos. Passa desta forma em 1º no grupo. A França passa em 2º do grupo, e Países Baixos qualificou-se como um dos melhores 3º com 4 pontos.

GRUPO E

De uma forma inesperada, Roménia, Bélgica, Eslováquia e Ucrânia terminaram a classificação no grupo com 4 pontos.

O 1º jogo do grupo entre Roménia e Ucrânia, mostrou uma Ucrânia a jogar bom futebol, e a Roménia a ser eficaz. Curiosamente, e 2º alguns jogadores Ucranianos, os jogadores em campo não fizeram o que o Treinador da Seleção Ucraniana pediu.

De destacar que, a Roménia avança para a fase a eliminar de um Europeu pela primeira vez em 24 anos.

Em relação à Bélgica, penso que todos estávamos à espera de um pouco mais. No entanto, no futebol tudo é possível, e como acontece noutros grupos, as seleções estão todas muito equilibradas. A Ucrânia, no ultimo jogo contra a Bélgica, forçou e apostou tudo num golo que lhe daria a vitória e a classificação, mas não conseguiu ser eficaz. Por parte da Bélgica, quando Kevin DeBryune recebia a bola, com passes ou mesmo finalizações, a magia aparecia em cena. De facto, o Kevin DeBryune tem um talento incrível, se o colectivo o acompanhar, penso que a Bélgica poderá fazer algo bonito no Europeu 2024.

GRUPO F

 O grupo de Portugal, onde tínhamos seleções como Turquia, Chéquia e Geórgia, penso que toda a gente apostou que Portugal era o principal candidato ao 1º lugar, e sem derrotas. Depois, talvez apostaríamos como a seleção da Turquia qualificar-se em 2º lugar. E, no plano teórico, deixaríamos o 3º e 4º lugares para serem disputados pelas seleções da Geórgia e a Chéquia.

O 1º jogo do grupo a Turquia ganhou 3-1 à Geórgia com o seu 1-4-3-3 / 1-4-2-3-1. Foi um jogo muito dinâmico de ambas as equipas, um ritmo muito alto, com as disputas muito agressivas (no bom sentido). Foi um jogo intenso, com varias oportunidades de golo em ambas as balizas, com os 2 guarda redes a realizarem boas defesas.

O Mert Müldür fez o 1º golo da Turquia, foi uma obra de arte, um remate de 1ª fora de área sem preparação, de fazer levantar qualquer estádio.

Mikautadze ainda empatou para a Geórgia, mas depois o jovem Arda Güler fez o 2-1 através de um remate incrível fora de area, descaído para a direita, com o pé esquerdo. Também destacou-se no jogo como a figura do jogo, com pormenores deliciosos. A Geórgia ainda criou varias oportunidades para empatar, com a sua principal figura, o Nº 7 Kvaratskhelia, a desequilibrar, com magia e velocidade no ataque.

O 1º jogo de Portugal, não começou da melhor maneira. Portugal com um sistema de 3 centrais, contra um sistema da Chéquia idêntico, pareceu-me que foi um jogo muito táctico, as equipas encaixadas uma na outra. Apesar disso, Portugal ainda teve algumas oportunidades de golo, mas não foi eficaz.

E foi a Chéquia que aos 62 minutos que marcou por Provod, através de um grande remate de 1ª fora de área. Houve ainda um golo anulado. Depois de um bom centro para a área do Cancelo para o 2º poste, para Cristiano Ronaldo cabecear ao poste e na recarga, aparece Jota que marcou na recarga de cabeça. Mas era fora de jogo. Aos 69 minutos, centro de João Neves para o 2º poste, onde estava o Nuno Mendes que ganhou de cabeça e…auto golo. Estava feito o empate.

Portugal mexe na equipa, arrisca nas substituições (Portugal necessitava de mais velocidade nas alas, mais capacidade de desequilíbrio. Entrou Neto e Francisco  Conceição. E o 2º golo nasce com Neto a romper dentro de area, a centrar, erro do defesa adversário e Francisco Conceição a aproveitar para fazer o 2-1 já nos descontos.

Geórgia e Chéquia defrontaram-se na 2ª jornada e empataram a 1 golo, um jogo sem muita história. Portugal no seu 2º jogo, voltou ao “seu” sistema habitual de 1-4-3-3.  Portugal conseguiu realizar um ataque bem conseguido entre Rafael Leão e Nuno Mendes, depois de um bom cruzamento, aparece Bernardo Silva a fazer o 1-0. Bernardo fez um ótimo jogo, distinguido como o homem do jogo.

O 2-0 surgiu de um lance um pouco caricato, o defesa e o guarda redes Turcos não se entenderam, e aconteceu um autogolo.

O 3-0, através de um grande passe e visão de jogo de Cancelo, respondendo a uma desmarcação em profundidade de Cristiano Ronaldo, aparece Isolado com o Guarda Redes Turco, mas preferiu oferecer o golo a Bruno Fernandes.

Foi uma exibição segura, consistente da seleção Portuguesa, que controlou quase sempre o jogo com bola e sem bola. Para além dos 3 pontos (objectivo principal), esta exibição de bom nível, foi muito importante depois de um jogo algo cinzento contra a Chéquia, para dar confiança, para deixar boas sensações para os confrontos futuros.

A ultima jornada do grupo, a Turquia venceu a Chéquia por 2-1, marcando o golo da vitoria já nos descontos (90+4). Fazia assim 6 pontos para se qualificar para os Quartos de Final.

Em relação ao jogo de Portugal – Geórgia, acho que o golo sofrido muito cedo criou algum desconforto e destabilizou um pouco o tipo de jogo que Portugal teria que colocar em prática. Se no ultimo jogo, Portugal conseguiu ter essa calma, essa estabilidade emocional (também os golos e algumas exibições individuais de alguns jogadores, ajudaram nisso), neste jogo foi o oposto. Viu-se um jogo muito precipitado, a tentar sempre chegar ao último terço rápido, sem grandes decisões com muito critério.

Novamente, o 2-0 sofrido aos 57 minutos acaba por abalar outra vez a equipa.

Podemos falar de sistema tático dos 3 centrais, ou das escolhas do selecionador. A mim, parece-me que, numa seleção nacional, onde não há muito tempo para trabalhar dinâmicas do Modelo de Jogo, simplificar ganha ainda mais importância. E se, sentimos e vemos que a equipa rende mais e melhor num determinado sistema, damos continuidade. Os ajustes dos detalhes tácticos com um sistema táctico “mais simples”, também se podem adaptar segundo aquilo que queremos para esse jogo.

Outro facto que não foi positivo, na minha opinião, foi trocar 9 jogadores. Só o Diogo Costa e Cristiano Ronaldo jogaram de início. Para mim, trocar tantos jogadores é um erro, porque perdem-se rotinas, os jogadores que jogaram vão jogar sob pressão, dá-se a entender ao adversário que vai ser fácil. E num torneio tão curto como é o Europeu, as boas sensações (que havíamos recuperado no jogo contra a Turquia) são o mais importante no seio de uma equipa.

O mais importante nisto tudo, é estarmos todos com a Seleção Portuguesa, a torcer que passe cada eliminatória, que chegue à final e a ganhe.


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