Porque é que o Real Madrid ganha? O Mundial explica

Pedro NunesJunho 30, 20185min0

Porque é que o Real Madrid ganha? O Mundial explica

Pedro NunesJunho 30, 20185min0
No Mundial da Rússia, há vários jogadores do Real Madrid que se têm vindo a mostrar autênticos líderes com as camisolas da seleção. A justificação do por quê da equipa espanhola ter vencido tanto nos últimos anos acaba por surgir de forma quase natural.

Na última vez que o Real Madird conquistou a ‘Orelhuda’, ficou um ambiente apreensivo acerca do poderio da equipa merengue. O jogo da Final ficou marcado pela bicicleta de Bale e pelos erros de Loris Karius, permanecendo uma pulga atrás da orelha de alguns adeptos em relação à qualidade de jogo dos blancos. Procurando justificações para este feito, a resposta que surge imediatamente é um tanto ou quanto óbvia – a qualidade superior dos seus jogadores.

Apesar de existir por detrás de uma equipa todo um trabalho de bastidores, são os futebolistas que tomam as decisões in loco. No entanto, os responsáveis pelo clube têm a difícil tarefa de decidir quem vai estar ali a tomar essas mesmas decisões. O Real Madrid tem a sua estratégia, que vai moldando consoante os objectivos delineados. No mundo dos negócios é habitual dizer-se que é coisa mais importante que uma empresa faz é contratar. Visto que estamos em altura de mercado, parece um bom momento para falarmos de aquisições.

De há uns anos a esta parte, especialmente na era Galática, o Real era o campeão do mercado. Era, por aqueles dias, a única equipa que contratava com o objectivo que as vendas de publicidade fizessem atenuar o investimento. Por isso, sempre que podia e conseguia, optava pelos jogadores mais mediáticos. Contudo, essa política tem tudo para dar para o torto caso a gestão de egos num balneário cheio de divas não seja feita.

Depois, passou de contratar vedetas para contratar o jogador da moda, mesmo que para isso tivesse de deixar sair jogadores completamente entrosados com a equipa, para outros poderem entrar. Ozil foi dos primeiros, ainda no começo da segunda década deste milénio. As suas prestações com a camisola alemã no mundial da África do Sul, fizeram o Real trazê-lo de Bremen para Madrid. Valeu de pouco ser um dos melhores assistentes que Ronaldo já teve na sua carreira pois, anos mais tarde, Angel Di Maria tinha que entrar e alguém tinha de sair. Ao argentino também de nada valeram as excelentes exibições com a camisola madridista. Em seguida, num verdadeiro efeito dominó, teve de ser recambiado para que chegasse James Rodriguez.

Mas o método não resultou em títulos. Então o Real mudou o paradigma das suas contratações – deixou de contratar sensacionalismo e vedetismo e passou a apostar em liderança, capacidade de decisão e mentalidade ganhadora. Como foi demonstrado na fase de grupos deste Mundial, através de vários exemplos.

Apesar de ser um oásis nesta Alemanha, Toni Kroos foi talvez dos únicos a tentar puxar dos galões pelos germânicos. Numa nação que, em termos históricos, tem em todos jogadores um líder nato, o médio foi dos que acabou por sair melhores neste descalabre. O momento mais significativo foi o seu golo à Suécia, onde assumiu o remate de uma posição onde 99% das vezes um livre é batido em forma de cruzamento. Kroos tinha errado no golo da Suécia e mesmo carregando a possibilidade de falhar novamente, o médio não teve qualquer tipo de hesitação na hora de se chegar à frente. É igualmente bom exemplo disso Modric e a sua braçadeira, enquanto está vestido com a camisola croata. O estratega tem liderado a seleção dos balcãs a uma campanha praticamente irrepreensível, num grupo complicado. Para a Cróacia, tendo em conta as combinações possíveis em termos de fase a eliminar, o céu é o limite.

Há outros casos mais discretos mas não com menos importância. Navas também se destaca numa equipa mais defensiva que ofensiva. Um contexto completamente contrário àquele que encontra nas balizas do Santiago Bernabéu mas em que o guardião mostrou mais uma vez figurar por entre os melhores do mundo. O também capitão Sérgio Ramos, juntamente com Carvajal e principalmente Isco, assumem o leme numa seleção espanhola que ainda tenta encontrar o seu rumo depois de uma troca de navegador. No caso mais específico de Francisco Alárcon, é notória a capacidade de dominar jogos por si só quando veste a camisola roja do seu país. É ali que se nota que o criativo podia bem ser a estrela de proa em qualquer equipa do mundo mas em Madrid o estrelato tem de ser partilhado. E finalmente Cristiano Ronaldo. Figura destacadíssima nesta seleção portuguesa, é ele muitas vezes o abono de família nos momentos em que Portugal se vê em dificuldades.

Para eles, é mais fácil um competição curta de 7 jogos, em que cada detalhe pode ser decisivo, do que uma maratona de 38 jornadas. Separados, ao serviços dos respectivos países, demonstram liderança e capacidade de, por si só, dominar uma partida de futebol de alto nível. Em Madrid, jogam todos juntos, e isso acabou por formar uma equipa que, nos últimos anos, foi praticamente imbatível. A explicação das 4 Champions em 5 edições é bastante simples. Basta juntar as peças.

Foto: Marca

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