Quadro táctico da LaLiga: o Villarreal CF de Quique Setién
Com presença assídua na metade superior da tabela em anos recentes, o Villarreal encontra-se já plenamente estabelecido na LaLiga, e enquadra-se dentro do lote de equipas que procuram assegurar um lugar europeu no início de cada temporada.
E não só para simplesmente conseguir uma participação honrosa e um prémio financeiramente apelativo: em 2021, o “submarino amarillo” conquistou mesmo a Liga Europa, vencendo o todo-poderoso Manchester United na final e alcançando uma inédita glória internacional. Esse sucesso europeu, de resto, teve continuidade na temporada passada, em que o clube esteve às portas de uma também inédita final da Liga dos Campeões, tendo apenas sido travado pelo Liverpool nas meias-finais da competição.
Porém, as coisas não começaram da melhor forma em 2022/23. Os maus resultados e as exibições pouco convincentes ditaram a saída do técnico Unai Emery, e para o seu lugar chegou um nome já sobejamente conhecido no futebol espanhol.
Quique Setién assumiu a liderança do conjunto da região de Castellón, com o objectivo de dar a volta aos resultados e colocar de novo o Villarreal na rota europeia. E, como sempre, tem procurado fazê-lo de forma personalizada e segundo os princípios de jogo em que acredita convictamente.
É verdade que o início foi periclitante, com a primeira vitória a surgir apenas no seu quinto jogo oficial, já com uma contestação audível entre os adeptos. Mas o técnico espanhol de 64 anos e a equipa foram capazes de superar essas dificuldades e entrar no bom caminho, ocupando actualmente o 6º lugar à 29ª jornada, com 47 pontos e a apenas 4 de distância de um 4º lugar que garante o acesso à Liga dos Campeões.
Um registo positivo, no topo de uma qualidade de jogo em franco crescimento e que merece destaque, sobretudo quando analisamos o “choque futebolístico” existente entre aquilo que eram as ideias de Emery e o que são as de Setién.
Fiel aos seus princípios: o futebol de… Setién
As equipas de Setién raramente abdicam de uma identidade baseada na posse de bola, procurando impor o seu próprio ritmo na partida e controlar as suas incidências. Este Villarreal não é excepção, e a sua chegada ao Benito Villamarín trouxe consigo uma forte mudança de paradigma, por oposição ao estilo mais pragmático e adaptativo de Unai Emery.
Desde logo, no sistema utilizado. Enquanto que o ex-treinador utilizava regularmente um 4x4x2, o Villarreal está agora normalmente disposto em 4x3x3 e é uma formação que privilegia mais a posse da bola, procurando dessa forma estar confortável na partida e partir para o ataque à baliza adversária. Este é, de resto, o princípio basilar do treinador em todas as suas equipas, mesmo que o sistema-base possa variar aqui e ali em função dos seus intervenientes (sendo a inversão do triângulo a meio-campo o exemplo mais evidente).
Para alcançar esta base, Setién consolidou um elemento fundamental no meio-campo, à frente da defesa. Dani Parejo, já na fase final da sua carreira (34 anos), recuou uns metros no terreno e passou a jogar de forma declarada como médio-defensivo. O espanhol, altamente experiente e reconhecido pela sua capacidade de passe e leitura de jogo, coloca agora essas qualidades ao serviço da equipa na saída de bola, oferecendo uma maior variedade de soluções a um conjunto que procura sair a jogar de forma apoiada a partir do seu guarda-redes, o veterano Pepe Reina.
Entre estas duas figuras, actua um quarteto defensivo normalmente composto por Juan Foyth à direita (mais posicional e comedido no apoio ao ataque) e Alfonso Pedraza à esquerda (de claro pendor ofensivo), com o capitão Raúl Albiol e Pau Torres (uma das “jóias” deste plantel) a formarem dupla no eixo central. Porém, é de notar que a rotação do plantel tem sido elevada devido ao calendário europeu, onde Setién optou por rodar a maioria do seu 11 em praticamente todos os jogos (os “amarillos” foram eliminados da Liga Conferência pelo Anderlecht, nos oitavos-de-final da competição).
No miolo, e junto a Parejo, os escolhidos são principalmente o francês Étienne Capoue, pela capacidade física e de chegada à área adversária que oferece, e o jovem Álex Baena, uma das revelações da temporada e de características mais ofensivas, capaz de se associar com os companheiros em espaços curtos. Há ainda jogadores como Ramón Terrats, Francis Coquelin ou Manu Trigueros entre as alternativas à disposição da equipa.
Já na frente, a aposta num ataque predominantemente móvel (até pelas características da maioria dos jogadores) tem levado a que nomes como José Luis Morales, Nicolas Jackson ou até o criativo Giovani Lo Celso passem pela posição 9, bem apoiados a partir das alas por Yéremi Pino ou Samuel Chukwueze. Há ainda o caso de Gerard Moreno, em teoria a principal figura do ataque mas que tem sido fustigado por alguns problemas físicos durante a temporada. Todas estas opções, novamente, têm sido tomadas numa óptica de elevada rotação, que tem marcado a gestão do clube nas diferentes competições em disputa.
Um plantel versátil e recheado de boas soluções com que Setién pode trabalhar. Ademais, é também um plantel adequado ao estilo mais técnico e criterioso com bola do técnico.
A figura: Samuel Chukwueze
Já havíamos falado previamente dele (no LaLiga Scouting), pelo que Samuel Chukwueze já não será propriamente um nome estranho para quem nos acompanha. Porém, certamente que por esta altura também já todos os fãs da LaLiga o conhecerão.
A chegada de Setién ao clube coincide com a afirmação definitiva de Chukwueze enquanto figura de impacto do conjunto “amarillo“. O seu talento era por demais conhecido, tanto quanto a instabilidade do seu rendimento. Porém, o jovem extremo nigeriano começa agora a dar sinais de crescimento e consistência no seu jogo.
Partindo principalmente do lado direito do ataque – para poder receber com espaço e encarar a zona central -, o esquerdino tem refinado a sua tomada de decisão, escolhendo agora melhor os momentos em que avança em direcção ao adversário directo e parte para a iniciativa individual, tão característica do seu jogo.
A capacidade de entusiasmar os adeptos e a energia electrizante com que explode em campo aberto continuam lá, e é dessa forma que Chukwueze continua a fazer diferenças na maioria dos seus lances. Faltará agora manter esta evolução e consolidar o peso das suas intervenções nos resultados da equipa, apesar desta época estar já a ser muito interessante neste aspecto (13 golos e 11 assistências em 41 jogos).
Uma pérola, que cada vez mais apresenta qualidade para brilhar nos maiores palcos do futebol.