O regresso do Rayo: futebol “espectáculo” de volta a Vallecas

Bruno DiasOutubro 30, 20216min0

O regresso do Rayo: futebol “espectáculo” de volta a Vallecas

Bruno DiasOutubro 30, 20216min0
Em 2021/22, o Rayo Vallecano está de regresso à "La Liga". O bairro de Vallecas volta a mostrar-se ao mundo através do futebol.

Muitos são os clubes que conferem à “La Liga” uma diversidade e uma verdadeira presença nacional por parte de quase todas as regiões no principal escalão do futebol espanhol. No entanto, poucos terão uma implantação tão específica numa comunidade como o Rayo Vallecano.

Originário do bairro operário de Vallecas, em plena cidade de Madrid, o clube não é apenas mais uma associação que tem no futebol o seu único indicador de relevância. Este passa até para segundo plano no que toca ao reconhecimento internacional do Rayo, amplamente visto como um clube sempre na vanguarda das lutas políticas e de causas sociais.

Desportivamente, não é pois de admirar que o clube apresente um palmarés algo modesto. Com apenas 19 presenças na “La Liga”, o Rayo não tem como tradição o patamar mais alto do futebol espanhol, e procura agora estabelecer-se definitivamente como um clube indiscutível entre a “elite”.

Para tal, chega à época 2021/22 com um novo “timoneiro”. Muito jovem (apenas 39 anos), Andoni Iraola notabilizou-se enquanto jogador como um lateral-direito de qualidade, que dedicou praticamente toda a sua carreira dentro das quatro linhas ao Athletic Bilbao.

Como treinador, procura agora atingir o mesmo patamar qualitativo, e a verdade é que o seu primeiro ano ao serviço do Rayo tem sido altamente bem-sucedido. Tendo assumido a equipa em Agosto de 2020, o basco conseguiu a promoção na sua época de estreia e, agora, coloca os “rayistas” num espantoso lugar após 11 jornadas, a apenas 5 pontos do líder Real Sociedad.

Respira-se alegria e saúde futebolística no bairro de Vallecas.

(Foto: marca.com)

 

Como joga o Rayo

Andoni Iraola não teme na hora de adaptar aquilo que pretende para a sua equipa em função da valia dos seus adversários.

Isto é dizer que, ao contrário de outras formações espanholas, o Rayo não entra em todos os jogos para aplicar a sua própria ideia futebolística, mas antes para promover uma utilização eficaz das suas forças e das fraquezas do seu oponente na busca da vitória.

Normalmente num bloco médio/baixo, da equipa de Iraola não se espera que domine o seu adversário através da posse de bola ou de um elevado volume de oportunidades de golo. A opção mais comum passará, isso sim, por defender de forma compacta e organizada, retirando a profundidade aos atacantes adversários e evitando ao máximo conceder espaços entrelinhas.

Uma vez com bola, o objectivo é o de procurar atacar rapidamente o espaço libertado por um adversário naturalmente desposicionado, utilizando para isso a velocidade dos seus extremos e a capacidade de atacar a profundidade dos seus avançados. Uma “fórmula” aparentemente simples, mas que os “rayistas” procuram executar da melhor forma.

Avançando para o alinhamento habitual do Rayo, e começando pela baliza, Dimitrievski é o guardião escolhido pelo técnico espanhol. No clube desde 2019 e aos 27 anos, o guarda-redes internacional pela Macedónia do Norte é um baluarte de consistência na defesa das redes. À sua frente, Iván Balliu (à direita, jogador que já passou por Portugal), Fran García (à esquerda), Alejandro Catena e Esteban Saveljich (no eixo central) formam o quarteto defensivo habitual, com “segurança” como palavra de ordem em todas as acções defensivas da equipa de Vallecas.

O guardião Dimitrievski (Foto: expectedscore.com)

No meio-campo, uma dupla de “combate” e equilíbrio, composta por Santi Comesaña e um segundo médio que varia entre Unai López, Óscar Valentín e Pathé Ciss, protege um terceiro elemento mais criativo e ofensivo (normalmente o veterano argentino Óscar Trejo), que se solta para surgir no apoio aos alas e ao avançado sempre que o Rayo consegue levar o jogo para terrenos mais afastados da sua baliza.

Já no ataque, pelas alas, Isi Palazón e Álvaro García exploram os momentos de transição ofensiva de forma sagaz e oportunista, e procuram apoiar o “9“, a referência frontal da equipa, de quem falaremos mais abaixo. Aqui há que destacar também a profundidade do plantel, com Martín Merquelanz, Sergi Guardiola e os “jokers” Bebé (bem conhecido do adepto português) e Randy Nteka a serem também utilizados com alguma frequência.

Um plantel globalmente modesto e sem grandes nomes de peso, mas que se encontra claramente adaptado ao contexto existente em Vallecas, onde um grupo unido de atletas ganha uma motivação adicional a cada resultado positivo. E o exemplo mais recente disso mesmo é, ele sim, um resultado de peso: o Rayo venceu o FC Barcelona em casa por 1-0 e “provocou” a saída de Ronald Koeman do comando técnico dos catalães, demonstrando assim que até mesmo os principais clubes terão dificuldades em passar em Vallecas.

 

A figura: Radamel Falcao

Não será necessariamente o jogador mais essencial ao funcionamento da equipa ou sequer o melhor jogador do plantel nesta fase da carreira, mas é sem dúvida a sua maior referência.

Aos 35 anos, Radamel Falcao decidiu regressar à “La Liga” para uma das suas últimas aventuras nos relvados, e escolheu o modesto Rayo como palco daquela que poderá muito bem ser “a última dança” do goleador colombiano nos relvados espanhóis.

A sua condição física necessita já de uma gestão especial nesta fase final da carreira, mas a verdade é que na movimentação dentro de área, no enorme manancial de recursos finalizadores e no jogo aéreo, Falcao continua a não precisar de muito para colocar a bola no fundo das redes da baliza adversária.

Em apenas 249 minutos, distribuídos por 6 jogos, o colombiano já apontou 4 golos, a uma média de um golo a cada 62 minutos, e o último foi aquele que garantiu a vitória sobre o “todo poderoso” Barcelona. Um registo tão impressionante quanto prestigiante e digno de um dos melhores avançados a actuar no futebol espanhol nos últimos largos anos.

Falcao é a “cereja no topo do bolo” de um clube honrado, familiar e representativo da sua comunidade. Vallecas volta a vibrar de orgulho bairrista pelo sucesso do seu Rayo.


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