O caso Valencia CF: um clube sem rumo pt.2
Esta é a 2ª parte do artigo dedicado ao momento delicado vivido no Valencia CF, e podes ler ou reler a primeira nesta link.
Para 2022/23 as expectativas não eram muitas, dado o historial. O treinador apresentado, Gennaro Gattuso não foi um upgrade a Pep Bordalás, o que desiludiu de imediato os adeptos. Peter Lim tratou de vender as estrelas da companhia Carlos Soler e Gonçalo Guedes, não contratando elementos com a mesma qualidade para o seu lugar. André Almeida e Samuel Lino têm potencial, mas estão longe do nível dos seus antecessores.
É uma equipa extremamente desequilibrada, com poucos nomes com capacidade de representar o clube. Possivelmente José Luís Gayá, Hugo Guillámon, Yunus Musah e Mamardashvili sejam os elementos com maior qualidade, numa equipa com muitos emprestados: Samuel Lino, Moriba, Kluivert, Nico González ou Ozkacar, que somam muitos minutos. O valor de mercado da equipa do Valencia é de 249,5 Milhões de euros, porém muito sustentando pelos 40 milhões que Gaya vale e os 25 da tripla Guillámon, Musah e Mamardashvilli. É a sétima equipa com o maior valor de plantel da La Liga, mas muito longe do top 4. É igualmente o plantel mais jovem das Big 5, com uma média de idades de 23,9 anos. A grande problemática é que os melhores jovens estão emprestados e os elementos experientes são de qualidade duvidosa, não permitindo um crescimento mais sustentado aos restantes.
Janeiro poderia ser o mês de redenção de Lim, pelo menos em 2022/23, adquirindo uma série de jogadores, algo que Gattuso passou semanas a pedir. Como é óbvio não chegou um único jogador. Saúl ainda foi apontado e quase fechado, porém não existiu orçamento salarial para pagar os seus rendimentos, mesmo que o salário fosse dividido com o C. Atlético de Madrid. Apesar de Saúl ter qualidade, seria mais um jogador por empréstimo, o que mostra a incapacidade financeira do Valencia, que não consegue adquirir um atleta a título definitivo. Gattuso bateu com a porta após a confirmação da não chegada do internacional espanhol. O antigo internacional italiano apesar de não ser um treinador brilhante, não teve “ovos para fazer uma omelete” e a sua decisão é mais do que compreensível. Independentemente de quem chegar, a situação estará para piorar, porque o ambiente é terrível. Os adeptos não podem fazer nada para alterar o rumo da situação, já que Peter Lim tem 70% das ações.
Para adensar esta situação, o Nou Mestalla continua a ser um problema. O novo estádio até era desnecessário, pois o Mestalla foi reestruturado em 1994. As obras do Nou Mestalla deveriam já estar completas há muitos anos e é um tema que aflige as finanças. Ainda assim, em 2022 foi anunciado que o projeto seria continuado, após 13 anos paralisado, sendo hipótese de ser uma das sedes do Mundial 2030.
???️ @valenciacf ⚽️?? https://t.co/60UpKIt3qx
— Nuevo Mestalla (@nuevo_mestalla) June 24, 2022
Ao dia de hoje (2 de Fevereiro de 2023), o Valencia está fora da Copa del Rey, ocupando o décimo terceiro posto na La Liga. Irá jogar uma partida importante contra o Real Madrid CF, com Voro ao comando e sem perspetiva de chegada de um treinador para terminar a temporada. Outrora este seria o jogo grande da jornada, com um estádio lotado. A gestão de Peter Lim é cada vez mais comparada à de Jesús Gil y Gil, com manifestações quase diárias pedindo a sua saída. Se ao início o empresário salvou os “ché” devido à elevadas dividas que tinha, hoje em dia a situação é pior, não havendo capacidade de investimento, pondo-se até em causa se há dinheiro para pagar os salários.
Como é que o Valencia pode recuperar? O primeiro passo seria afastar Peter Lim, que só tem feito dano ao clube (um pouco a recordar o caso do Málaga CF), o que de si só já seria um processo extremamente complexo, a envolver tribunais e um período de tempo muito extenso. O seguinte seria projetar algo a longo prazo. O Valencia está muito longe do topo da tabela e a nível organizativo razoavelmente distante das equipas de meio de tabela/ luta pela qualificação para a Conference League. É necessário um bom projeto desportivo para voltar a colocar o emblema “ché” no topo. Um exímio diretor desportivo (deixar sair Alemany foi um erro) seria um primeiro passo obrigatório.
Em seguida contratar um treinador de qualidade e que pense em ficar por Valência nos próximos anos, evitando trocas de treinadores que possam danificar o projeto. Um pouco como Rúben Amorim é para o Sporting. Existem treinadores espanhóis com capacidade para tal como Andoni Iraola ou Rubén Albés, porém os mesmos têm contrato com respetivos clubes (um treinador não pode estar em duas equipas distintas ao longo da época desportiva). A constituição do plantel teria de ser bem trabalhada. É impossível libertar todos os jogadores sem o nível necessário em apenas um mercado, sendo necessário 4 ou 5 janelas. Ainda assim, alguns dos bons valores teriam de ser bem vendidos, porque é urgente fazer dinheiro em quantidade. Realizar contratações pontuais e aproveitar a boa formação que existe terá de ser o caminho, para colocar as finanças no “verde”.
? Gayà: “Hoy es duro para todos, pero tenemos que pensar en el siguiente partido”#VCFAthletic ??#CopaDelRey
— Valencia CF (@valenciacf) January 26, 2023
Os adeptos teriam de compreender que seria um projeto a longo prazo, com frutos em 4 ou 5 anos. A crise de resultados não iria desaparecer de um momento para o outro. Os aficionados teriam de esquecer as lutas pelas qualificações para a Champions nos próximos anos. O objetivo inicial seria colocar o Valencia saudável de um ponto de vista económico e social. Só é possível obter resultados consistentes após a estrutura e finanças estarem mais estáveis. A luta do Valencia este ano deverá ser a manutenção, com ou sem Peter Lim. Nos anos seguintes a meta a alcançar seria ficar pela metade da tabela com vista a algo mais, com o lançamento de jogadores da equipa B e adquirindo elementos que possam fazer a diferença (ter um bom scouting seria vital), com o dinheiro que a venda de jogadores que neste momento estão no plantel permitisse. Não seria descabido realizar boas movimentações no mercado interno, comprando atletas que queiram fazer parte de um emblema histórico, e esquecendo provisoriamente o que existe em outros campeonatos, nomeadamente aqueles onde os jogadores têm salários demasiado elevados.
Um percurso assim dependeria em vasta parte dos adeptos e da qualidade do pessoal adquirido, tanto para dentro, como para fora das quatro linhas. Estas pessoas não estão em equipas de renome, com os seus trabalhos estáveis, porque jamais irão rumar a Valência para um clube praticamente falido. Haveria que se realizar uma intensa busca para todos os quadros, o que seria uma tarefa árdua, mas obrigatoriamente necessária. Claro que tudo isto só seria possível com o primeiro passo: a saída de Peter Lim.
Se no início do século, o Valencia era a melhor equipa da sua região, neste momento o Villarreal já o ultrapassou sem relativa dificuldade, apenas mostrou ser um clube muito mais organizado e com capacidade de montar um elenco que agradasse à sua massa associativa. Enquanto Peter Lim estiver a prejudicar o clube, o mesmo estará mais perto da segunda divisão (e todas as consequências que esta descida acarreta) do que do topo do futebol espanhol.
?️ #Mestalla está listo
⚽ El equipo está preparadoGanemos este partido JUNTOS ??#VCFAthletic ??#ADNBroncoyCopero pic.twitter.com/w6Hf7JV9cx
— Valencia CF (@valenciacf) January 26, 2023