Mudanças de Inverno na “La Liga”: As novas caras do Futebol Espanhol
Tal como noutros anos, muitas equipas anseiam pelo mês de Janeiro que agora termina. “Novo ano, nova vida”, parecem muitos treinadores e dirigentes pensar, e o futebol espanhol não é imune a esse fenómeno.
De 1 a 31 de Janeiro (o já famoso “Deadline Day“), os clubes atropelam-se na ânsia de reforçar os seus plantéis com peças diferenciadoras para a segunda metade da temporada, colocar os atletas excedentários que por múltiplas razões não contam para o treinador ou até mesmo revolucionar por completo o seu grupo de trabalho. Nuns casos por necessidade aceitável e compreensível, noutros por pura má gestão e planeamento desportivo da época desde o primeiro dia, a realidade é que milhares de jogadores mudam de ares neste mês turbulento para o desporto.
2022 foi “mais do mesmo” no futebol europeu e, consequentemente, no futebol espanhol. E se é verdade que o líder destacado Real Madrid não viu necessidade de mexer no plantel (talvez motivado pelos resultados desportivos actuais), o mesmo não pode ser dito dos seus principais rivais, que viram partir e chegar múltiplos jogadores, na tentativa de encurtar a distância para o topo e/ou de, no mínimo, garantir a presença na Europa do futebol para a próxima temporada.
Renovação do ataque em Barcelona (ou a que foi possível…)
Depois do Verão de terror vivido na Catalunha, com a partida de Lionel Messi, era por demais evidente que o FC Barcelona precisava de marcar uma forte presença no mercado de Inverno. Eliminado da Champions League e a braços com a sua maior crise desportiva do século XXI, dos dias gloriosos dos “culés” resta agora um plantel decrépito, envelhecido e com poucas ou nenhumas figuras de proa do futebol actual.
Assim, Joan Laporta, o director desportivo Mateu Alemany e o treinador Xavi focaram essencialmente os fundos que o clube conseguiu disponibilizar (depois de um empréstimo milionário junto do banco de investimento Goldman Sachs, que financiou o clube e esta janela de transferências) na melhoria do ataque catalão. Ansu Fati continua a ser uma incógnita no plano físico, Sergio Aguero viu-se forçado a anunciar a sua retirada dos relvados devido a problemas cardíacos e a “saga Dembélé” parece encaminhar-se para terminar com a saída do talento francês a custo zero no Verão, por falta de acordo entre as duas partes.
A Camp Nou chegaram então duas caras já conhecidas do futebol espanhol. Ferran Torres era desejo de Xavi, e o extremo/avançado de 21 anos chegou por cerca de 55M€, do Manchester City, podendo ser inscrito devido à revisão em baixa do contrato de Samuel Umtiti com o clube. Capaz de actuar tanto pela direita como no meio, desempenhando a função de “falso 9” que tão boas memórias criou na Catalunha, Ferran tem aqui a oportunidade de se assumir como uma das figuras principais da reconstrução da equipa, oportunidade que o jogador também não quis desperdiçar.
Já perto do final da janela de transferências tivemos o regresso ao clube de Adama Traoré. O extremo chega por empréstimo do Wolverhampton, e procura criar uma nova imagem numa casa onde foi feliz durante a sua formação, mas onde nunca teve a oportunidade de se impor na equipa principal. Duas “caras novas” para aumentar o poderio ofensivo do Barça, às quais se poderá juntar ainda o avançado Pierre-Emerick Aubameyang (que, à data desta publicação, não era ainda oficial), proveniente do Arsenal.
Um claro “upgrade” às soluções já existentes no plantel.
Sai lateral, entra lateral: o mercado do Atlético
Nem tudo vai bem para os clubes de Madrid. Se o Real é líder isolado e caminha a bom ritmo para o título, o mesmo não se poderá dizer do Atlético Madrid. Os “colchoneros” ocupam o 4º lugar da tabela com 36 pontos, já a 14 do rival da capital espanhola, e Diego Simeone não tem tido vida fácil a nível interno, com a inconsistência premente de resultados da equipa.
Porém, nem isso provocou uma mudança significativa no plantel, até porque a crise desportiva nacional pode mais facilmente explicar-se pelo baixo rendimento e/ou falta de aproveitamento do talento já existente que propriamente pela ausência de qualidade individual. Muitos foram os rumores de saídas no plantel, fosse pelo término do contrato se estar a aproximar (no caso de Felipe, por exemplo) ou por interesse de clubes estrangeiros (casos de Yannick Carrasco ou de Renan Lodi), mas a única mudança ocorreu mesmo no lado direito da defesa.
Potenciado pelos seus recentes bolsos “milionários”, o Newcastle levou Kieran Trippier do Wanda Metropolitano por um valor a rondar os 15M€. Para o seu lugar, chegou de imediato o veterano dinamarquês Daniel Wass, do Valencia, que não oferecendo talvez a largura que o inglês garante no jogo, é capaz de aumentar a qualidade em espaços interiores e pode também ser utilizado no meio-campo, numa polivalência que Simeone já demonstrou valorizar substancialmente.
Acima de tudo, resta agora perceber se este mercado de Janeiro será o tónico de mudança que o Atlético necessita para voltar ao seu melhor nível e consolidar a sua posição nos lugares de acesso à Champions League, uma vez que o título parece já uma miragem.
Outras novas caras na “La Liga”: Corona chega a Sevilha
Mas nem só de Real Madrid, Barcelona e Atlético se faz a “La Liga“, e esta temporada é um exemplo claro disso mesmo. À data desta publicação, são os clubes de Sevilha que completam o pódio do campeonato espanhol, com o Sevilla bem próximo dos “merengues” (2º, com 46 pontos, a 4 do líder madridista) e o Bétis logo de seguida na tabela classificativa (3º, com 40 pontos).
Ora, estes bons resultados podem indicar uma tendência para consolidar os plantéis actuais e evitar mexidas significativas, mas nem por isso significam uma inacção total no mercado. E se o Bétis seguiu mesmo a via conservadora e manteve todo o seu grupo principal de atletas, sem adições, o mesmo não pode ser dito do rival Sevilla, que fez chegar ao futebol espanhol dois reforços “de peso” para a segunda metade da época.
Jesús “Tecatito” Corona, bem conhecido dos adeptos portugueses, deixou o FC Porto a 6 meses do término do seu contrato com os “dragões” e rendeu aos cofres do clube cerca de 3M€. No Ramón Sánchez Pizjuán, irá reunir-se novamente com Óliver Torres e com o técnico Julen Lopetegui – que se encontra a realizar mais um trabalho de muita qualidade em Espanha -, podendo actuar na lateral direita mas juntando-se, primordialmente, a um ataque que conta com nomes como “Papu” Gómez, Rafa Mir, Youssef En-Nesyri, Lucas Ocampos e o seu “colega” deste mercado.
Anthony Martial apresenta-se como uma contratação de um potencial valor brutal, dado o enorme talento do francês e a forma como poderá encaixar quase de forma perfeita no ataque “rojiblanco“. Há muito sem espaço e sem crédito em Manchester, este é no entanto o mesmo jogador que em 2015 custou cerca de 60M€ aos “red devils” e arrebatou o prémio “Golden Boy”, prova de um valor inquestionável. Procura aqui, aos 26 anos, relançar a sua carreira e provar que pode atingir o nível que todos lhe auguravam outrora.
Novas caras e inúmeros novos talentos para refrescar o futebol espanhol e subir o nível qualitativo do campeonato. A segunda metade da “La Liga 2021/22” apresenta-se mais imprevisível que nunca, e o mercado de Inverno acaba de aumentar a sua espectacularidade e o seu interesse.