LaLiga Scouting #41 – Alejandro Baldé (FC Barcelona)
A história recente do FC Barcelona possui um denominador comum nos seus períodos mais gloriosos: a aposta na sua formação. Ao longo dos últimos 30 anos, muitas foram as “pérolas caseiras” a despontar em Camp Nou que tiveram uma influência significativa nas maiores conquistas “blaugrana” e, perante os resultados desapontantes do último par de anos, o clube voltou a confiar nesses jovens para dar a volta ao insucesso.
Nascido e criado em plena Catalunha, Alejandro Baldé é um dos casos de um menino que nunca conheceu outro clube na sua carreira que não o Barça. Aclamado desde tenra idade como um dos talentos de maior potencial da sua geração em “La Masía“, trepou rapidamente pelos escalões de formação até se estrear pela equipa principal “culé” a 14 de Setembro de 2021, na Champions League e logo frente ao “todo-poderoso” FC Bayern.
No entanto, Baldé tinha agora à sua frente Jordi Alba, um feroz competidor pelo lugar mais à esquerda na defesa e um nome consagrado entre a elite do futebol, acrescentando ainda a isso o facto de ser um dos capitães do clube.
Ora, depois de uma temporada bastante positiva, era de prever que Xavi Hernández apostasse na continuidade do veterano, gerindo porventura a sua utilização em função da sua condição física, sobretudo com a chegada de Marcos Alonso, proveniente do Chelsea. Perante este cenário, o empréstimo de Baldé afigurava-se como provável, de modo a poder assegurar tempo regular de jogo numa fase decisiva da sua evolução.
Porém, o treinador catalão tinha outros planos para o jovem lateral, e desde cedo fez questão de demonstrar que conta com ele não só para o futuro mas também para o presente. Baldé leva já 6 jogos enquanto titular na época actual, assumindo-se cada vez mais como o dono da lateral esquerda e correspondendo às elevadas expectativas depositadas em si.
A este ritmo, não é sequer de descartar totalmente a possibilidade do jovem espanhol se estrear pela selecção principal a curto prazo e marcar presença no Mundial do Qatar, em Novembro. O ex-técnico do Barcelona e agora seleccionador nacional Luis Enrique já deu provas de que não teme apostar na qualidade independentemente da idade, e a ascensão internacional do colega Gavi na “La Roja” pode servir de exemplo ambicioso para Baldé.
Todos estes sinais apontam para que o futebol espanhol e mundial se encontre na presença de mais um grande talento, capaz de marcar a bitola para a sua posição nos próximos anos.
Diversidade ofensiva: o futebol de Baldé
Com apenas 18 anos, Alejandro Baldé é já um portento, e o seu potencial é massivo.
Dotado de capacidades atléticas acima da média, é capaz de preencher todo o flanco esquerdo com facilidade, estendendo-se no terreno e apoiando regularmente o ataque de forma eficaz e impactante.
Seja através de movimentos sem bola que oferecem largura e profundidade, seja através de poderosas incursões em drible que batem adversários e quebram linhas, Baldé é um suporte constante para os seus companheiros mais adiantados, envolvendo-se ativamente no processo ofensivo da equipa.
Este perfil, de resto, é aproveitado e potenciado por Xavi no modelo de jogo que implementou em Camp Nou. Neste Barcelona, os corredores laterais funcionam de forma oposta: na direita, Jules Koundé actua como terceiro central e funciona como um elemento adicional nas primeiras fases de construção, só avançando pelo flanco ocasionalmente e deixando a linha para Ousmane Dembélé, que abre totalmente o campo e parte sempre da lateral para criar desequilíbrios.
Já na esquerda, Baldé tem liberdade para avançar com frequência, funcionando quase como um extremo em muitos jogos, enquanto o ala Raphinha possui, por sua vez, uma maior liberdade posicional e deriva para zonas mais interiores. Um sistema complementar, que confere estabilidade atrás e retira rendimento das melhores características de cada jogador à frente.
O seu estilo assemelha-se bastante ao do canadiano Alphonso Davies, estrela do FC Bayern, pela forma como ambos confiam na sua velocidade estonteante para levar a melhor nos duelos individuais e nos desequilíbrios que criam com a bola nos pés.
Obviamente que Davies está já num patamar qualitativo claramente superior, mas o seu percurso evolutivo é também uma representação do caminho que Baldé poderá seguir, trabalhando progressivamente a sua capacidade defensiva (onde ainda apresenta lacunas, perfeitamente naturais pela sua juventude e inexperiência) e crescendo em confiança e tranquilidade, factores que por sua vez se irão reflectir em aspectos como a sua tomada de decisão ou a própria execução de algumas acções com bola (a capacidade de cruzamento, por exemplo).
Pela margem de progressão apresentada e pela importância que já começa a assumir no onze titular, o lateral-esquerdo parece ter chegado para ficar e resolver, inclusive, o que aparentava ser mais uma posição que, no médio/longo prazo, poderia representar mais um problema para os catalães.
Visto já como uma das sensações deste início de temporada em Espanha, Alejandro Baldé tem demonstrado que todo o burburinho criado em torno do seu talento é plenamente justificado. Com uma longa e muito promissora carreira pela frente, será certamente um nome incontornável da LaLiga ao longo da próxima década.