LaLiga Legends #8 – Mesut Ozil (Real Madrid CF)
Os últimos 10 a 15 anos providenciaram-nos o pináculo do futebol espanhol e da LaLiga. Nunca o campeonato reuniu tamanho mediatismo, qualidade e reconhecimento global como nesse período, numa dimensão alcançada muito graças ao nível surreal de Lionel Messi e Cristiano Ronaldo, expoentes máximos de versões históricas e praticamente inigualáveis de FC Barcelona e Real Madrid.
Mas não eram só esses os “astros” que brilhavam nos relvados espanhóis e mundiais – como de resto temos visto nesta rúbrica -, e o destaque de hoje chega-nos novamente dentre o conjunto de futebolistas intemporais que os acompanhavam.
Recentemente retirado dos relvados – devido a sucessivas lesões que fustigaram o final da sua carreira -, Mesut Ozil terá sido, porventura, um dos mais fenomenais parceiros de CR7 em Madrid.
Nascido na Alemanha mas filho de pais turcos, realizou toda a sua formação nesse país, tendo chegado ao Schalke 04 com 16 anos. Seria, de resto, no clube de Gelsenkirchen, a sua cidade natal, que se estrearia no futebol profissional, em 2006.
O seu nome saltaria para a ribalta do futebol europeu no Werder Bremen. Aí, Ozil “explodiu” competitivamente, sendo preponderante para uma das melhores fases do clube alemão no século XXI. Numa equipa que também contava com nomes como Diego ou Claudio Pizarro, o “10” demonstrava que a Bundesliga começava a ser pequena para o seu talento.
Foi também isso que o Real Madrid viu em 2010 – depois de uma excelente campanha de Ozil com a selecção alemã no Mundial de 2010 -, e o resto… é história. Com os “merengues“, Ozil venceria 4 troféus, sendo a eterna LaLiga 2011/12 (com 100 pontos e um recorde de 121 golos marcados na competição) a conquista de maior destaque e gabarito.
Sairia do clube 3 anos depois, em 2013, para cumprir o “sonho” de actuar na Premier League, representando o Arsenal. Foi ao serviço dos “gunners” que passou a maioria da sua carreira (8 temporadas), tornando-se rapidamente numa das figuras da equipa e dos adeptos nas bancadas. Ficaria, porém, ligado a um período colectivo paupérrimo da equipa londrina, e seria ainda com ele no plantel que Arsène Wenger, o mítico treinador do clube, sairia do comando técnico após 22 anos.
O final de carreira chegaria com a mudança para a Turquia, primeiro para representar o Fenerbahçe e, depois, o Basaksehir. Em ambos os clubes, e já em claras dificuldades físicas, foi ainda capaz de demonstrar laivos do seu brilhantismo de sempre.
A sua carreira seria igualmente repleta de glória na selecção alemã, pela qual actuou 92 vezes entre 2009 e 2018, apontando 23 golos e representando o seu país nos Mundiais de 2010 e 2014.
Um génio, nem sempre totalmente compreendido mas muitas vezes aclamado.
O último dos mágicos futebolísticos: como jogava… Ozil
Mesut Ozil terá sido talvez um dos últimos grandes intérpretes da mítica posição “10” no futebol, hoje em dia praticamente extinta ao mais alto nível. Embora tenha actuado em inúmeros jogos e em algumas temporadas a partir de um dos flancos, foi na zona central que surgiu o seu auge futebolístico, logo atrás dos avançados e com ampla liberdade de movimentos, que lhe permitiam explorar os espaços entre linhas de forma exímia.
Falar de Ozil é falar de um jogador soberbo ao nível técnico, com uma panóplia de recursos ao alcance de muito poucos, capaz de fazer parecer fácil o que, muitas vezes, era de facto extremamente difícil.
Altamente confortável com a bola colada ao seu pé esquerdo, desequilibrava tanto em espaços curtos como em campo aberto, outro aspecto em que se destacava da esmagadora maioria, nos seus bons (e velhos) tempos no Santiago Bernabéu.
Vivia para fazer a sua equipa chegar ao golo, e não necessariamente para que fosse ele próprio a concretizar. Nunca foi especialmente dotado na finalização (apesar de contar com vários golos magníficos no seu legado), mas tornava esta mais simples e descomplicada para os seus companheiros, até nos maiores palcos e contra os melhores oponentes.
Astuto em cada segundo de jogo, o criativo alemão era o mestre do disfarce. O seu estilo pouco ortodoxo tornava-o imprevisível nas suas acções, e Ozil sabia-o. Dono de uma aprimorada leitura de jogo, antecipava os movimentos dos adversários directos e utilizava-os para seu benefício, afastando-os da bola com recepções orientadas, arrancadas curtas mas explosivas e um jogo de cintura tão subtil quanto eficiente.
Capaz de aguentar a posse da bola até à última fracção de segundo possível, fixava vários adversários em seu redor, atraía naturalmente as atenções e depois soltava no timing perfeito. Numa era em que defrontou por várias vezes o Barcelona de Pep Guardiola, onde Sergio Busquets, Xavi Hernández e Andrés Iniesta manipulavam os seus rivais com facilidade, este traço distintivo de Ozil era o contraponto ideal para um Real Madrid que procurava responder com um estilo mais vertical, veloz e eficaz.
E era precisamente em campo aberto, tal como referido acima, que Ozil também assumia grande protagonismo. Às recuperações de bola de Xabi Alonso ou Sami Khedira, rapidamente se seguiam momentos de transição em que estes procuravam o médio-ofensivo no campo, para que ele conduzisse e lançasse ataques rápidos e letais, potenciando da melhor forma as potentes armas que eram Cristiano Ronaldo ou Ángel Di María neste capítulo do jogo.
Incrivelmente completo, o médio conseguia impactar todo o jogo ofensivo das suas equipas a um nível excepcional.
Numa carreira longa e de grande sucesso, mas que poderia ter sido ainda mais grandiosa, foi em Madrid e na LaLiga que Mesut Ozil atingiu o ponto mais alto do seu futebol, coleccionando uma legião de fãs que o seguiriam daí em diante. Um artista que esculpia autênticas obras de arte com a bola, e uma lenda futebolística de pleno direito.