La Liga Scouting #9 – Ezequiel “Chimy” Ávila (Osasuna)

Bruno DiasDezembro 17, 20195min0
A nona edição do "La Liga Scouting" traz-nos um sul-americano com uma energia contagiante e um talento que não deixa ninguém indiferente.

De um Osasuna modesto e sem grandes ambições para além da manutenção, chega-nos uma das boas surpresas da La Liga. Ezequiel Ávila chegou a Espanha em 2017, proveniente do San Lorenzo, para jogar no Huesca e na 2ª liga espanhola, e desde então não parou de subir e de evoluir.

Criado no problemático bairro de Empalme Graneros, em Rosario, na Argentina, é por demais evidente que a personalidade de “Chimy” Ávila reflecte na perfeição o contexto socialmente instável em que cresceu. Contexto esse que, muito provavelmente, moldou também o jogador que vemos hoje, e que não deixa ninguém indiferente ao seu estilo guerreiro, intenso, combativo e lutador.

Terá sido essa força mental – juntamente com a sua qualidade futebolística, como é óbvio – que levou o San Lorenzo a apostar nele, em 2015, contratando-o ao Tiro Federal, formação das divisões secundárias argentinas. Na formação “azulgrana“, talvez derivado da sua juventude e do facto de ter actuado maioritariamente como extremo, a partir do flanco esquerdo, o seu rendimento foi intermitente e mediano.

A sua chegada a Espanha, e ao Huesca, mudou a sua carreira para melhor. Mudou de posição, passando progressivamente a actuar apenas na frente de ataque, e os golos trouxeram confiança e revelaram todo o potencial do argentino. Actualmente a cumprir a sua segunda temporada no principal campeonato espanhol, a sua trajectória ascendente parece não abrandar, e o seu nome é cada vez mais reconhecido no panorama futebolístico.

 

Em campo, “Chimy” é…

…um “todo-o-terreno”. Sim, é verdade que Ávila não é um “box-to-box”, um médio-centro de combate. Não é o perfil de jogador ao qual associemos naturalmente esta descrição.

Ávila é, antes, um “todo-o-terreno” pela sua tremenda versatilidade na frente de ataque. Extremo de origem, é porém na frente de ataque, como avançado (sozinho ou acompanhado por um outro colega, de perfil mais posicional e tipicamente mais conotado com os jogadores dessa posição), que se tem destacado no futebol espanhol e nesta edição da “La Liga”. Na sua terceira temporada em solo espanhol, conta já com 23 golos apontados em todas as competições, entre Huesca e Osasuna. A temporada passada, embora tenha sido um insucesso em termos colectivos (o Huesca não conseguiu evitar a descida de divisão), foi um grande sucesso para “Chimy”, que apontou 10 golos em 34 jornadas e se revelou como o maior destaque da equipa de Aragão. Um sucesso que lhe abriu as portas do Osasuna, onde agora brilha novamente, com 6 golos em 16 jogos.

Tecnicamente acima da média, destaca-se sobretudo no capítulo do remate, potente e que surge com facilidade e sem necessidade de grande preparação. Ávila não hesita na altura de visar a baliza ou na tomada de decisão em geral. Algo que afecta, ocasionalmente, o seu discernimento com bola e a qualidade das decisões que toma nesse campo. Um defeito relativamente natural num jogador com este tipo de perfil, mas que será talvez o principal factor que ainda o impede de elevar o seu rendimento para outro nível.

Forte no drible (mais na condução de bola, que lhe confere uma verticalidade assinalável, do que no 1×1, aspecto em que não aposta com tanta regularidade como aquela que seria expectável num jogador da sua posição), tem também uma compleição física que lhe confere eficácia em grande parte das suas acções. De baixa estatura (1,72m), Ávila é no entanto capaz de aguentar bem o choque, e a combinação dessa mesma capacidade de choque, do seu baixo centro de gravidade e da sua alta rotação fazem com que o argentino ganhe uma bola parte dos lances que divide com os adversários.

Outra das grandes qualidades do argentino – e que desperta certamente o interesse de muitos treinadores – é a sua capacidade defensiva. “Chimy” encarna verdadeiramente o papel de “primeiro defesa” da equipa. Nunca desiste de um lance, nunca demonstra grandes sinais de desgaste e nunca foge às suas responsabilidades defensivas. Pela junção da velocidade e da agilidade que possui, tem facilidade em pressionar a saída de bola adversária, e acaba por forçar vários erros que resultam em recuperações da posse de bola para a sua equipa. Características extremamente valiosas no futebol moderno, e que estão impregnadas no ADN de Ávila.

No entanto, a sua característica distintiva é, sem dúvida, a intensidade que coloca em todas as disputas de bola e acções no jogo. Está sempre “ligado à corrente”, e isso revela-se uma característica de tremenda valia para a sua equipa, e que provoca inúmeras dores de cabeça aos seus adversários, pelo desgaste que a postura de “Chimy” em campo provoca naqueles que têm como missão travá-lo (se bem que “abrandá-lo” seria, provavelmente, um conceito mais adequado ao jogador…). O argentino contagia os companheiros de equipa pela entrega e crença em todos os lances, ganha inúmeras bolas que parecem perdidas e tem uma autêntica postura de liderança e de mentalidade positiva e vencedora em campo.

(Foto: as.com)Pela sua personalidade dentro das quatro linhas, e apesar de já não poder propriamente ser considerado um “jovem promissor” pela sua idade (faz 26 anos em Fevereiro), a probabilidade de que Ávila atinja patamares competitivos mais altos é elevada, assim continue a crescer como jogador e a apresentar um rendimento positivo e crescente dentro das quatro linhas. Já não é um “menino” irrequieto, mas nem por isso “Chimy” passa despercebido quando entra no relvado para fazer aquilo que melhor sabe fazer.


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