LaLiga Scouting #45 – Gabriel Veiga (Celta de Vigo)

Vigo tem sido palco, em 2022/23, de um dos melhores trabalhos técnicos na LaLiga, cortesia de um treinador português bem conhecido. Carlos Carvalhal assumiu o lugar em Novembro de 2022, após o despedimento do argentino Eduardo Coudet, e desde então fez o Celta Vigo escalar lugares na tabela e realizar um campeonato tão tranquilo quanto agradável de acompanhar. Com 26 jornadas decorridas, a equipa encontra-se na 10ª posição, com 34 pontos, a apenas 2 do 7º classificado Athletic e com aspirações legítimas, inclusive, a uma luta pelos lugares europeus.

Dentre o seu bom trabalho – e para além da lenda que é Iago Aspas por terras galegas – sobressai um nome: Gabriel Veiga. Praticamente um desconhecido há cerca de um ano atrás (apenas uma dúzia de curtas aparições pela equipa principal), o jovem natural da Galiza tem realizado exibições de altíssimo nível, destacando-se regularmente e estando a quebrar todos os seus registos estatísticos anteriores. São já 9 golos e 3 assistências em 25 jogos, números muito positivos sobretudo se pensarmos que falamos de um médio com poucas dezenas de jogos no principal escalão do futebol espanhol, e que só nas últimas semanas se tem revelado imprescindível no 11 do Celta.

Toda a sua formação, de resto, foi realizada no clube “celeste”. Curiosamente, e tal como nos seus tempos iniciais entre a equipa principal, também na formação Veiga passava um pouco “fora dos radares”. Porém, tudo isso tem mudado depois desta época fulgurante. Estreou-se pela equipa B do clube em 2019, com apenas 17 anos, e a estreia pela equipa principal chegou um ano depois, em Setembro de 2020, numa vitória caseira por 2-1 frente ao Valencia.

Já no que toca às selecções espanholas, “Gabri” é actualmente internacional sub-21 mas apenas por um único minuto, realizado num amigável em Novembro de 2022. No entanto, tendo em consideração a margem de progressão de Veiga e também algumas lacunas de talento que o futebol espanhol parece atravessar actualmente – depois de vários anos de gerações historicamente talentosas -, é bastante provável que a manutenção deste nível de rendimento possa levar o jovem de Vigo à selecção principal já a curto/médio-prazo, naquele que seria mais um passo significativo rumo ao topo do futebol espanhol e europeu.

Um percurso que se torna cada vez mais entusiasmante.

Como joga… Veiga

Gabriel Veiga é aquilo que vulgarmente se caracteriza, nos últimos anos, como um “box-to-box“. Um médio-centro de um perfil abrangente, capaz de preencher toda a zona central do terreno e de impactar o jogo em diversas vertentes.

Acima de tudo, é um jogador que olha sempre para o jogo de forma vertical. A sua tendência natural é a de fazer avançar a sua equipa no campo, seja através de passes verticais para os companheiros mais adiantados, seja através de arrancadas em condução, quebrando linhas e transportando rapidamente a bola até ao último terço.

Normalmente descaído sobre o lado direito, o jovem espanhol parte dessa posição para se aproximar com frequência dos seus avançados, na tentativa de os servir ou de encontrar espaço para a sua meia distância, uma das suas imagens de marca. De remate fácil e preciso, não precisa de muito para visar a baliza oponente e procura o golo com frequência, numa prova de grande auto-confiança em relação a este detalhe do seu jogo.

Outros dos aspectos que o caracteriza são os movimentos de ruptura sem bola. Partindo de trás, está constantemente atento a espaços entre os defesas ou nas costas da linha defensiva para atacar zonas de finalização. Muito activo, este perfil torna-o num jogador difícil de marcar pela liberdade com que se movimenta no relvado.

Mas não é só no plano ofensivo que Veiga acrescenta muito ao jogo. Focado e concentrado em todos os momentos, é perspicaz no capítulo defensivo e oferece consistência na zona central. Lê o jogo, sabe os espaços que deve ocupar, salta na pressão com intensidade e intercepta várias bolas no meio-campo defensivo ou até em terrenos mais adiantados, as quais aproveita depois para criar rapidamente perigo na baliza contrária. Um perfil que agrada a qualquer treinador, e que lhe garante também versatilidade, podendo actuar num meio-campo a 2 (como acontece no 4x4x2 actual de Carvalhal) ou a 3, em qualquer uma das posições do miolo (incluindo a 6, onde já jogou de forma ocasional).

No capítulo das melhorias, e para além daquela que será a evolução natural das suas forças, salta talvez à vista a capacidade em temporizar o jogo, que ainda não se encontra aprimorada. Até pelo seu estilo mais vertical, Gabri ainda tem alguma dificuldade em compreender os melhores momentos para acelerar ou abrandar a partida, o que o leva a cometer alguns erros na tomada de decisão. Porém, é justo realçar que esta característica beneficiará da experiência e maturidade que este menino certamente alcançará ao longo dos próximos anos da sua carreira.

Um diamante que começa a ser polido da melhor forma.

Com apenas 20 anos e uma panóplia de características muito interessantes para o futebol actual, Gabriel Veiga parece ter um futuro brilhante à sua frente. A sua actual cláusula de rescisão é de cerca de 40M€, e tendo em conta a sua tenra idade e a enorme margem de progressão que apresenta, é possível que em breve o relvado de Balaídos se torne demasiado pequeno para conter todo o talento deste prodígio.