La Liga Scouting #10 – Guido Rodríguez (Real Bétis)
Sensivelmente a meio de Janeiro, chegou à La Liga mais um talento de grande qualidade. Perante a lesão prolongada de William Carvalho, o Bétis contratou Guido Rodríguez ao CF América, por cerca de 4,5M€. Formado no River Plate (onde acabou por nunca se assumir verdadeiramente como opção), o internacional argentino, de 25 anos, chega assim finalmente ao futebol europeu, depois de ter impressionado pelas “águilas“, e ainda nas suas passagens pelo Defensa y Justicia e pelo Tijuana.
Estreou-se pela selecção principal da Argentina em 2017, pelas mãos de Jorge Sampaoli. No entanto, e apesar das 9 internacionalizações, ainda não teve uma verdadeira oportunidade de se impor no meio-campo argentino, em parte pela qualidade das opções à disposição para aquela zona do terreno (com Leandro Paredes, do PSG, ou Éver Banega, do Sevilha, à cabeça).
A sua transferência para o Bétis, e para a La Liga, coloca assim Guido na “montra” europeia, e abre-lhe outras possibilidades para se estabelecer enquanto atleta de topo e para uma carreira de elevado sucesso, condizente com a igualmente elevada qualidade que apresenta dentro das quatro linhas.
Como joga Guido?
Guido Rodríguez é um médio-defensivo “moderno”. Apesar de possuir um perfil morfológico interessante para a posição (1,85m, com uma boa capacidade para resistir ao choque e para levar a melhor nas disputas individuais), é com a bola nos pés que o argentino marca a diferença pela positiva.
Associa-se com facilidade através do passe e tem uma capacidade fora do comum de ditar e gerir o ritmo do jogo, sobretudo em equipas que priorizem a organização em termos ofensivos. Actuando à frente da defesa (preferencialmente só, como vértice mais recuado de um triângulo no sector intermédio), recebe de cabeça levantada e distribui de forma curta ou mais longa, sempre com alta eficiência no passe. Não sendo jogador de grandes “adornos”, Guido joga de forma simples mas objectiva, não assumindo riscos desnecessários nem arriscando acções nas quais não se sente perfeitamente confortável. Na ausência de William Carvalho (que possui um perfil relativamente semelhante ao seu), estes aspectos poderão ser fulcrais para o bom funcionamento do meio-campo do Bétis.
Defensivamente, e até pelo carácter natural do jogador sul-americano, demonstra disponibilidade para trabalhar sem bola e não se esconde dos duelos individuais, seja arriscando no desarme, seja disputando a bola no ar. Mais do que pela sua capacidade física, no entanto, é pela leitura de jogo e capacidade de antecipação que recupera a bola na maioria dos lances. Guido combina de uma forma relativamente incomum a típica agressividade sul-americana com uma inteligência e um rigor posicional acima da média, e isso faz do argentino um jogador com um perfil muito apetecível para equipas de elevado nível. Dá nas vistas pela técnica no posicionamento e no desarme. Com uma perfeita colocação e orientação dos apoios na grande maioria dos lances, e juntamente com a sua capacidade de ler e antecipar o jogo, Guido possui facilidade em recuperar inúmeras bolas, principalmente através da intercepção de passes adversários.
Em termos técnicos, há que obviamente destacar a sua capacidade de passe. Seja de forma mais curta ou mais longa, a precisão está sempre lá. Acompanha esta capacidade com um bom 1º toque, que lhe permite muitas vezes ludibriar adversários apenas orientando a recepção para fugir ao desarme. Embora de forma mais ocasional, também utiliza o drible como recurso para quebrar linhas, e também aí demonstra alguma qualidade (embora a eficácia da acção já não seja tão elevada). Não é aquilo que se possa designar de “criativo” no sentido mais comum do termo, não sendo propriamente acima da média na capacidade de encontrar soluções “fora da caixa”. No entanto, possui uma variedade substancial de recursos técnicos que lhe permitem ser objectivo e eficaz no seu jogo, sobretudo porque os utiliza de forma pensada e ponderada.
É também na tomada de decisão que encontramos uma das grandes virtudes de Guido. Com bola, posiciona-se de forma a ver todo o campo de frente na maioria dos lances, podendo assim definir com maior qualidade, e garante fluidez na circulação de bola. Para além disto, há a destacar ainda a sua meia-distância e a capacidade de chegada à área, que melhoraram substancialmente nos tempos que passou na Liga MX, provavelmente pelo facto de ter actuado quase sempre num meio-campo a 2, o que lhe permitiu evoluir também em vários aspectos do seu jogo, transformando-o assim num médio bastante completo.
Desde que chegou, e apesar da lesão de William, Guido tem sido suplente na equipa comandada por Rubi. No entanto, é de esperar que o argentino acabe por encontrar o seu espaço no 11, e que possa assim oferecer à equipa uma panóplia de soluções bastante úteis, sobretudo no plano ofensivo. E não só o Bétis, como também qualquer adepto da La Liga, ganhariam com essa possibilidade, dado que os “verdiblancos” trouxeram, neste mercado de Janeiro, mais um grande talento para o futebol espanhol.