LaLiga: O Renascimento de Antoine Griezmann
Aos 31 anos de idade, poucos duvidarão do valor de Antoine Griezmann enquanto futebolista de classe mundial. O currículo do francês é inegável e fala por si mesmo, com múltiplos troféus conquistados no futebol espanhol e ao serviço da selecção francesa, pela qual já se sagrou campeão mundial, em 2018.
Porém, a sua carreira tem conhecido alguns altos e baixos em anos recentes, nomeadamente a partir do momento em que se transferiu do Atlético Madrid para o FC Barcelona, no Verão de 2019. Percalços e dificuldades que, no entanto, não abalam a dimensão de um autêntico “craque” da última década do futebol.
Esta é a história do seu “renascimento” para a alta roda.
Talento geracional: o auge de Griezmann em Espanha
Nascido em Mâcon, província francesa na região da Borgonha, Griezmann possui, desde logo, ligações familiares a Portugal, uma vez que o seu avô materno era português (e actuou inclusive no Paços de Ferreira).
Porém, foi em Espanha que o francês construiu toda a sua carreira futebolística, de forma progressiva e com uma evolução e impacto constantes na LaLiga, de tal forma que o avançado se constitui, actualmente, como um dos melhores marcadores da competição ainda em actividade, com 165 golos em 440 partidas.
Produto da formação da Real Sociedad, faz a sua estreia pelos bascos em 2009. Porém, é apenas na época 2013/14 que Griezmann realmente desponta e explode para o futebol espanhol, ocupando cada vez mais zonas centrais, atacando melhor a área adversária e aumentando exponencialmente a sua produção. O seu registo de 20 golos e 5 assistências conferem-lhe um peso fulcral nos resultados da Real, e o seu rendimento torna-se impossível de ignorar pelas melhores equipas.
Quem leva a melhor é o Atlético Madrid, que paga 30M€ pelos seus serviços. Griezmann mais do que corresponde a este valor, maximizando o seu potencial e sendo uma das maiores figuras dos anos dourados do clube treinado por Diego Simeone na Europa do futebol.
O nível fenomenal que evidenciou época após época não deixou os colossos europeus indiferentes, que ao longo dos anos viram no francês uma estrela com a qual poderiam aproximar-se da vitória nas principais competições. E é precisamente essa ambição que motiva a grande mudança na carreira do avançado, quando em 2019 o Barça aborda o jogador e o Atlético com uma proposta praticamente irrecusável.
Griezmann dava assim o salto para o topo do futebol mundial.
Ascensão e queda: a aventura na Catalunha
Contratado por um astronómico valor de 120M€, Griezmann chegou a Camp Nou com a dura missão de assumir um lugar de destaque num trio atacante de luxo, juntamente com Luis Suárez e Lionel Messi. Trio esse que, em conjunto com Neymar, construiu um legado histórico e difícil de igualar na Catalunha. Neymar saiu em busca de um papel principal em Paris, e nomes como Philippe Coutinho ou Ousmane Dembélé não foram capazes de carregar esse legado com distinção.
Perante um fardo tão colossal, o jogador colapsou. Griezmann nunca foi capaz de demonstrar ser, consistentemente, o mesmo jogador que era em Madrid ou na selecção francesa. Os rasgos de genialidade foram aparecendo, mas agora de forma esporádica e isolada. O seu impacto nas partidas diminuiu e o francês pareceu até esconder-se do jogo em vários momentos. O seu rendimento nos relvados caiu e, com ele, caiu também a imagem de craque mundial que havia construído nas temporadas anteriores.
Um dos possíveis factores para a desilusão está relacionado com o perfil futebolístico do próprio jogador. Habituado a usufruir de grande liberdade posicional entre a direita do ataque e a zona central, o francês rapidamente percebeu que em Barcelona esse espaço pertencia de forma inequívoca a Messi. Tal facto levou a que tanto Ernesto Valverde como Quique Setién utilizassem Griezmann regularmente a partir da esquerda ou até mesmo como a principal referência do ataque, no centro, castrando assim grande parte da sua criatividade e capacidade de desequilíbrio.
Esta “tempestade perfeita” resultou na perda de rendimento e, consequentemente, de confiança do francês. Num Barça a atravessar uma crise financeira, Griezmann começou a sobressair cada vez mais como um problema para o clube, atingindo assim o ponto mais baixo da sua carreira entre a elite.
O regresso de Griezmann… a casa
Como em tantos outros casos, a melhor solução passou então pelo retorno à zona de conforto.
A 31 de Agosto de 2021, Griezmann regressa ao Atlético Madrid após acordo entre os dois clubes para um empréstimo. Foi a declaração definitiva de um negócio falhado a toda a linha por parte do Barcelona, que agora emprestava o jogador de volta para o seu clube anterior por uma verba a rondar os 10M€ e com uma opção de compra obrigatória de 40M€ (mediante objectivos), quando apenas dois anos antes havia gasto o triplo desse valor na sua contratação.
As vicissitudes inusitadas do negócio não ficariam, de resto, por aqui. O início da temporada actual marca um cenário aparentemente saído de uma qualquer série de animação: como a obrigatoriedade do empréstimo só se concretizaria caso o francês actuasse por mais de 30 minutos num determinado número de jogos, a direcção do clube deu indicações a Simeone para que apenas utilizasse o francês a partir do minuto 60 de cada partida. Griezmann transformou-se então no “super suplente” dos “colchoneros“, até que ambos os clubes chegaram a um acordo definitivo sobre a transferência, por cerca de 20M€.
O regresso ao Atlético, desde logo, recuperou a confiança de Griezmann para níveis mais próximos daqueles que regularmente apresenta na selecção francesa. Munido de um estatuto e reconhecimento que não possuía em Barcelona – quer dos adeptos, quer do treinador -, conquistou de novo espaço na equipa, voltou a actuar atrás de um “9” declarado, voltou a ter liberdade para explanar todo o seu futebol. Griezmann voltou a ser… Griezmann.
Simeone conhece muito bem o jogador, e nem mesmo a presença de João Félix, semelhante no perfil e nas zonas do terreno que pisa e contratado por valores históricos ao Benfica (curiosamente, idênticos aos que fizeram Griezmann rumar a Camp Nou), afectaram o espaço do avançado francês nas opções do conjunto de Madrid. Pelo contrário, o crescimento do francês nas quatro linhas ajudou a que o “copo transbordasse” na relação entre o português e o treinador, levando à saída (temporária, via empréstimo) do primeiro para o Chelsea.
Em crescendo de rendimento, o avançado conta já com 7 golos e 9 assistências em 29 jogos, e promete continuar a elevar o nível de um Atlético que procura recuperar a sua melhor forma em todas as competições.
Antoine Griezmann está assim de regresso às noites de alegria e felicidade em campo, e isso só podem ser excelentes notícias para o Atlético Madrid, para os seus adeptos e para os adeptos da LaLiga em geral, que voltam a poder assistir a um jogador de um nível magnífico.