LaLiga Legends #7 – David Villa

Bruno DiasMarço 16, 20236min0

LaLiga Legends #7 – David Villa

Bruno DiasMarço 16, 20236min0
A edição #7 do "LaLiga Legends" mantém o foco nos dianteiros espanhóis, e num dos jogadores mais subvalorizados do futebol em anos recentes.

É natural que, num desporto onde o golo é o momento de maior êxtase e de extravasar de emoções, aqueles que mais vezes os marcam se assumam como os principais protagonistas. Quando pensamos nos mais icónicos jogadores do desporto, são principalmente os avançados que mais rapidamente nos assolam à memória.

Porém, mesmo dentro dos atacantes, há também aqueles que acabam por “passar despercebidos”, e que nem sempre recebem o reconhecimento que fazem ou fizeram por merecer. Esse é o caso de David Villa, possivelmente o melhor avançado espanhol de sempre (com fortes argumentos para discutir esse epíteto), mas que facilmente cai no esquecimento aquando do debate sobre os grandes avançados do futebol mundial nos últimos anos, apesar de tudo aquilo que alcançou na sua carreira.

Carreira essa que começou ao serviço do Sporting de Gijón, em 2001 e com apenas 19 anos. Villa chegou dois anos antes a Gijón, tendo realizado toda a sua formação no modesto Langreo, clube da cidade de onde o jogador é natural, nas Astúrias.

Ao serviço dos “rojiblancos” apontou 41 golos ao longo de duas temporadas, rendimento que lhe valeu a transferência para o então recém-promovido Saragoça, em 2003. Já na LaLiga, manteve esse mesmo rendimento durante mais duas épocas, com 32 golos em 73 jogos do campeonato.

Números que demonstravam estarmos na presença de um goleador regular e consistente, e que saltaram à vista do Valencia. Os “chés” cobriram a sua cláusula de 12M€ e levaram Villa para o Mestalla, onde “El Guaje” saltou definitivamente para a ribalta. Ao serviço do clube, apontou 129 golos em 225 partidas, transformando-se num ídolo dos adeptos, conquistando com total mérito um lugar entre os melhores avançados do mundo e estreando-se também pela selecção principal espanhola.

Perante estes anos dourados, a oportunidade no FC Barcelona surgiu com naturalidade. Seria em Camp Nou que o avançado espanhol ganharia os maiores troféus de clubes da sua carreira, como a Champions League em 2011, no seio de uma das melhores equipas de todos os tempos. Seria também aqui que Villa começaria a descair da zona central para a esquerda do ataque, evoluindo ainda mais o seu futebol e completando-se enquanto jogador ofensivo.

Já em fase descendente da carreira, mas ainda com muito golo nos pés, Villa faria ainda uma temporada bastante capaz no Atlético Madrid (13 golos em 36 jogos), antes de se lançar numa “última dança” pelo mundo: a uma breve passagem pela Austrália (ao serviço do Melbourne City), seguir-se-iam quatro épocas de muito sucesso nos EUA, com muitos golos apontados pelo New York City FC, antes do adeus definitivo aos relvados, representando o Vissel Kobe do Japão.

(Foto: marca.com)

Só que, para além do enorme sucesso obtido nos diversos clubes pelos quais passou, Villa ainda engrandeceu a sua dimensão com o seu percurso na selecção espanhola. Ao serviço da “La Roja“, “Maravilla” conquistou tudo o que havia para conquistar, sendo peça essencial da geração de ouro de Espanha, dona de uma hegemonia mundial entre 2008 e 2012, com as conquistas do Euro 2008, do Mundial 2010 e do Euro 2012.

Tudo incluindo o marco mais histórico para qualquer avançado espanhol: com 59 golos em 98 partidas, Villa mantém-se ainda hoje como o maior “artilheiro” da história da selecção em jogos oficiais, constituindo-se assim como um nome incontornável do futebol de “nuestros hermanos“.

 

O protótipo do avançado completo: assim jogava Villa

No século XXI, poucos foram os avançados que ofereceram tanto ao jogo como o espanhol, dado que os golos eram apenas uma parte da contribuição de Villa para as vitórias das suas equipas.

Capaz de actuar a partir dos três corredores na frente de ataque, possuía a rara capacidade de acrescentar qualidade de diferentes formas e feitios, consoante o corredor em que se encontrava. À direita, aproximava-se da zona central e procurava espaços entre linhas para criar desequilíbrios na defensiva adversária. Já no centro, arrastava consigo os centrais, procurava diagonais para os corredores laterais e criava espaço para que os seus companheiros invadissem as zonas de finalização com qualidade.

(Foto: bleacherreport.com)

Porém, era a partir da esquerda que Villa realmente brilhava. Dono de uma superior leitura de jogo, movimentava-se quase sempre de forma perfeita tendo em conta aquilo que o jogo e os seus companheiros pediam. Era um terror para a marcação adversária, deambulando constantemente por zonas do terreno onde conseguia confundir as referências individuais dos oponentes e surgindo em profundidade nos momentos certos, de forma tão oportuna quanto sorrateira.

Tecnicamente muito evoluído, o espanhol era não só eficaz na finalização como criava também oportunidades de golo para si próprio, através de uma boa panóplia de recursos no drible e de uma agilidade claramente acima da média, que lhe permitia esgueirar-se por entre os defesas no último terço e em zonas de finalização.

Para além disso, Villa era ainda e sobretudo um mestre do remate. Dotado de uma precisão aprimorada ao detalhe e capaz de finalizar de vários ângulos e formas, com ambos os pés, visava com regularidade e sem preparação a baliza adversária, apanhando os oponentes desprevenidos com gestos técnicos pouco ortodoxos. Adicionalmente, era ainda capaz de marcar através da sua meia distância, recurso que desenvolveu cedo na sua carreira e que esteve na base de alguns dos melhores golos apontados pelo espanhol ao longo dos anos.

A sua versatilidade posicional e a sua variedade de recursos ao nível da movimentação tornaram-no num avançado incrivelmente valioso para a interpretação do famoso “tiki-taka que Pep Guardiola desenvolveu em Barcelona, com Villa a destacar-se individualmente durante uma parte desse período, sendo esse talvez o auge da sua história futebolística.

Subvalorizado, os momentos decisivos e as conquistas de David Villa cimentam o seu lugar como um dos melhores avançados espanhóis na história do futebol, e como uma lenda de pleno direito na LaLiga e no futebol espanhol e mundial.


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS