La Liga: a fortaleza de Mendizorrotza

Bruno DiasFevereiro 25, 20195min0

La Liga: a fortaleza de Mendizorrotza

Bruno DiasFevereiro 25, 20195min0
Em Álava, província do País Basco, mora uma das equipas-sensação da La Liga. Vamos perceber melhor porquê, ao longo das próximas linhas.

O estádio de Mendizorrotza é um dos mais antigos estádios do futebol espanhol. Inaugurado em 1924, conta com 95 anos de uma longa história, ligados a uma instituição que já conheceu a realidade da quarta divisão espanhola e a realidade das competições europeias.

Os seus tempos de maior glória terão sido, provavelmente, aqueles em que assistiu à histórica caminhada do Alavés na Taça UEFA, na temporada 2000/01, e que terminou apenas na final, num jogo electrizante frente ao Liverpool, que acabou por terminar com a vitória dos “reds” por 5-4 (!). Nessa formação, pontificavam nomes como Javi Moreno, Astudillo, Jordi Cruyff ou o lateral romeno Cosmin Contra. Já lá vão 18 anos…

Mas avancemos no tempo. 1 de Dezembro de 2017. Abelardo Fernández, ex-defesa central que se notabilizou ao serviço do Barcelona, é o eleito para o comando técnico do Alavés. E começa, de imediato, a mudar a face do clube.

Abelardo tem tido um percurso muito positivo ao serviço do Alavés (Foto: theguardian.com)

Como joga o Alavés

O Alavés é uma das melhores defesas da Liga no seu reduto, juntamente com Real Madrid e Atlético. Em 12 partidas no Mendizorrotza, os comandados de Abelardo sofreram apenas 7 golos. Isto ganha ainda maior dimensão quando, nos últimos jogos, os adeptos do clube se têm, temporariamente, “divorciado” do mesmo, entrando já com os jogos a decorrer, em protesto com o horário dos jogos do clube na La Liga.

Para este registo defensivo, não é de todo alheio o facto de Abelardo ter construído uma equipa que se destaca pela sua organização nos momentos sem bola, pela qualidade que apresenta nas bolas paradas (defensivas e ofensivas) e pela forma aguerrida e abnegada de defender, que provoca muitas dificuldades aos adversários que pretendam invadir o bloco defensivo dos “babazorros“.

Alternando entre o 4x4x2 e o 4x3x3, Abelardo muito raramente abdica de dois médios de cariz mais defensivo ou até mesmo três, entre Manu García, Wakaso Mubarak, Darko Brasanac ou Tomás Pina, que conferem ao sector intermédio a solidez necessária para a consistência de um bloco que raramente se parte entre sectores. Esta solidez é, depois, consolidada pelo guardião Fernando Pacheco, na baliza, e por um quarteto defensivo que é normalmente formado por Martin Aguirregabiria (recentemente lesionado) à direita, Rúben Duarte à esquerda e Víctor Laguardia e Guillermo Maripán no eixo defensivo, existindo ainda o polivalente Ximo Navarro, que tem alternado frequentemente entre o centro e o lado direito da defesa.

Já no ataque, as opções são várias e de perfis distintos. Para a frente há Jonathan Calleri e o sueco John Guidetti, como opções mais móveis. Havia também Rúben Sobrino que, pela bela temporada que estava a realizar, foi recompensado com uma mudança para o Valencia no mercado de Janeiro. E há também Borja Bastón, goleador emprestado pelo Swansea e que oferece maior capacidade física e aérea entre os centrais adversários. Nas alas, Takashi Inui, Diego Rolán, Burgui, Jony e Twumasi procuram “municiar” os goleadores, depois do regresso a casa de Ibai Gómez, que voltou ao “seu” Athletic Bilbao em Janeiro, ele que era outro dos grandes destaques desta formação.

Sem grandes elementos individuais que capturem para si os “holofotes”, este Alavés vale essencialmente pelo seu colectivo, e esta fórmula implementada por Abelardo tem trazido excelentes resultados ao clube, que se encontra actualmente no 5º lugar da La Liga, com 38 pontos e vários argumentos fortes na procura de uma qualificação europeia.

 

A figura: Jonathan Calleri

Numa equipa em que, tal como referido imediatamente acima, não existem individualidades que sobressaiam acima do próprio colectivo, destacar-se-á principalmente Jonathan Calleri. O argentino, com 25 anos, é provavelmente o jogador de maior renome internacional na formação “albiazul“. Esta temporada tem sido indiscutível na frente de ataque, contando com 4 golos em 22 partidas. Um número que à primeira vista parecerá pobre para um “homem-golo”, mas que serve como mais uma prova do altruísmo e da valorização do colectivo que se sente nesta equipa.

Chegado esta época ao clube, depois de uma passagem pelo Las Palmas na época anterior, Calleri aporta ao jogo uma superior qualidade técnica, combinada com uma capacidade de aceleração acima da média e uma postura pró-activa sem bola, que o transformam num avançado complicado de marcar para qualquer defesa. A estas características, alia também um variado leque de recursos na finalização, principalmente com o pé direito, o seu predilecto. Apesar de não ser propriamente baixo (1,81m), o seu jogo aéreo será talvez o ponto menos forte entre aqueles que, de forma mais comum, são reconhecidos como prioritários para um bom finalizador. No entanto, Calleri compensa esse atributo com uma boa envolvência no processo de construção e criação da equipa, bem como com a sua constante predisposição para ser sempre o “primeiro defesa”, trabalhando de forma intensa no momento defensivo.

Não tendo ainda entrado naqueles que, normalmente, são os denominados “anos dourados” de um atleta, é de esperar que o argentino possa, eventualmente, aproveitar o bom trabalho no Alavés para voltar a subir a patamares superiores na sua carreira.

Jonathan Calleri é a principal figura individual deste Alavés (Foto: deportivoalaves.com)

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