Edinson Cavani, uma referência no ataque que merece o estatuto de lenda
Se há dados que normalmente pautam se um certo jogador teve ou não impacto na história do futebol são os títulos e golos, com Diego Maradona, Pele, Eusébio, Cristiano Ronaldo, Lionel Messi, Johan Cruyff, Frank Lampard, entre vários outros. Dos jogadores citados, a larga maioria atingiu pelo menos a marca dos 250 golos ao longo de toda a carreira e levantaram pelo menos um troféu em todos os clubes por onde passaram, atingindo o patamar de lenda e referência da bola redonda de pelo menos uma das nações pelo qual jogou/passou.
Perante isto, Edinson Cavani tem o direito de ver o seu nome relembrado no futebol uruguaio, italiano e francês, depois de ter concretizado 353 golos ao longo de 15 temporadas como futebolista profissional, tendo feito parte de algumas conquistas emblemáticas como a Copa América de 2011 pelo Uruguai (suplente na maioria das ocasiões), a Primera División pelo Danubio em 2007, sem esquecer os 19 títulos pelo PSG, naquele que é um dos maiores recordes de sempre feito por um só clube – Lionel Messi e Andrés Iniesta ocupam a os primeiros lugares na lista com mais de 35. Mas passando os golos e títulos, os feitos e as honras, merece Edinson Cavani um lugar entre a galeria dos avançados mais emblemáticos dos últimos 20 anos?
É, sem dúvida, uma discussão acalorada que entra em campo pois o ponta-de-lança dividiu paixões e ódios, seja pela forma como se expressava fora das quatro-linhas ou mesmo dentro das mesmas, lutando sempre para ser a referência quer no Nápoles e Paris Saint-Germain, o que motivou pequenos conflitos com colegas de equipa.
Mas os grandes avançados não “sofrem” quase todos das mesmas falhas a nível do traço psicológico? Zlatan Ibrahimovic é um perfeito exemplo de que existia na sua mente uma hierarquia dentro de qualquer equipa, independentemente quem jogava ao seu lado, tentando ocupar constantemente o lugar de spotlight algo partilhado por outros jogadores contemporâneos. Mas faça-se uma retrospectiva das qualidades de Cavani no decorrer toda a sua carreira, especialmente nas três temporadas que serviu o Nápoles, talvez o seu melhor momento enquanto jogador.
Para além dos golos, Cavani foi extraordinário na agilidade que conferia às acções dos napolitanos, tirando espaço e tempo aos centrais adversários, soltando-se rapidamente de uma marcação para desequilibrar completamente o tabuleiro de jogo e infligir um dano contínuo que elevou aquele Nápoles a contender da Serie A em 2010/2011 e 2012/2013, num dos elencos mais especiais e inesquecíveis do futebol italiano. Impôs sempre uma agressividade especial na luta aérea, com um sentido de posicionamento que facilitava constantemente a construção ofensiva da formação então treinada por Walter Mazzarri, combinando toda uma eloquência e “beleza” no atacar a grande área contrária.
Faltou-lhe irremediablemente o título da Serie A que poderia tê-lo rapidamente colocado num patamar de lenda do futebol italiano, mas os 104 golos em 138 aparições pelos Gli Azzurri, uma Taça de Itália (um dos últimos troféus conquistados) e uma bota de Ouro da Serie A são elementos suficientes para considerar que Cavani deixou um legado no Nápoles.
Em Paris, há um recorde que só Neymar Jr ou Kylian Mbappé (e sim este será um dos jogadores mais inesquecíveis dos parisienses) podem “roubar”, mas que para já pertence à estrela uruguaia: é o melhor marcador de sempre do clube. Seja no total, na Ligue 1 ou em competições europeias, Cavani tem o nome inscrito como o goleador supremo com a marca sólida e espectacular de 200 golos, tendo sido essencial nos seis títulos nacionais levantados nos últimos 7 anos (Thiago Silva e Marquinhos têm um a mais que o ponta-de-lança). Encantou as bancadas do Parque dos Princípes, fez golos e jogadas de antologia, foi uma das peças-chave da hegemonia do emblema da capital francesa e arrebatou títulos individuais que espalham a sua qualidade enquanto avançado e decisor.
Cavani pelo PSG atingiu quase o máximo do futebol europeu, tendo faltado claramente a conquista de um título europeu – ainda existe uma chance esta temporada de conseguir esse feito – para pertenecer inegavelmente à lista dos inesquecíveis, mas sem dúvida alguma é um nome que merece estar entre o bastião dos melhores goleadores no futebol europeu dos últimos 20 anos. Ou seja, a carreira do astro sul-americano não será mais saudada e recordada porque faltaram títulos blockbuster, apesar da percepção que nem Nápoles ou o Paris Saint-Germain são emblemas destinados a ocuparem um lugar de importância máxima nas competições europeias.
Pelo meio, há a selecção do Uruguai em que o prolífero goleador faz parte de um cruzamento de gerações que garantiu alguns dos melhores resultados dos últimos resultados dos últimos 30 anos, com a chegada por uma vez à meia-final (2010) e quartos-de-final (2018), sem esquecer a tal conquista da Copa América de 2011, ostentando uma posição alta tanto no ranking de melhores marcadores como número de internacionalizações: 2º (50) e 3º (116), respectivamente.
Com 33 anos, o futuro o Edinson Cavani passará por um “adeus” nos próximos dois anos e será curioso perceber se vai continuar marcar golos na Europa, ou se vai aceitar um cenário que renegou durante os últimos anos, de ir para ligas mais exóticas como a CSL ou MLS para garantir mais um quinhão antes da reforma. A verdade é que pode não ser neste momento importante no campeão em título francês, mas é um atleta que honrou e tem honrado o seu compromisso, demonstrando uma paixão inquebrável pelos parisienses.
Com um olhar crítico, os números do uruguaio merecem grande destaque, as conquistas foram várias mesmo que não possa ostentar um troféu da Liga dos Campeões e a qualidade técnica e táctica foi bem acima da média, conquistando adeptos, comentadores e treinadores, o que nos permite dizer que Cavani será postulado como uma das lendas vivas do PSG e do futebol uruguaio.