É desta vez que há regresso à Primeira, Famalicão?

Francisco IsaacDezembro 11, 20186min0

É desta vez que há regresso à Primeira, Famalicão?

Francisco IsaacDezembro 11, 20186min0
Desde 1994 que não há qualquer aparição do Famalicão na Primeira Liga mas pode ser que em 2019/2020 haja surpresa. Quem são os destaques, como jogam e o "futuro" do emblema nortenho?

O FC Paços de Ferreira continua em alta e apesar da derrota averbada há algumas semanas atrás, continua perene no 1º lugar da Ledman LigaPro perseguido não pelo GD Estoril-Praia, nem por a Académica de Coimbra (que no entretanto está a recuperar de uma fase conturbada), mas sim pelo FC Famalicão.

A formação nortenha é um suspeito pouco comum nesta luta pela subida de divisão, ultrapassando mesmo equipas que apresentarem plantéis mais conhecidos como o do Académico de Viseu de Manuel Cajuda (7º lugar e a 10 pontos do 2º lugar), SC Leixões (9º com apenas 10 golos marcados) ou do Arouca (penúltimo luar, uma das piores defesas e uma equipa completamente à deriva na Ledman Liga Pro 2018/2019).

SÉRGIO VIEIRA… O COMANDANTE DO FAMALICÃO

Mas quem são estes famalicenses que já na época passada tinham “namorado” com a subida de divisão e depois perderam a luta na abertura do mercado de Inverno? Comecemos por Sérgio Vieira, o técnico que assumiu este projecto em Julho passado, depois de uma experiência mediana em Moreira de Cónegos. O português de 35 anos foi demitido do comando do Moreirense, quando até nem estava a fazer um mau serviço de todo: 6 vitórias, 5 empates e 6 derrotas, empate contra o FC Porto e vitória frente ao Vitória Sport Clube.

Com 23 pontos conquistados e 31 golos marcados, Sérgio Vieira acabou demitido para no seu lugar entrar Petit, que faria bem pior e por muito pouco não consumou a descida de divisão. Todavia, quis o destino que o trabalho de Vieira fosse reconhecido na segunda liga com a chegada do convite do Famalicão, naquilo que seria uma estreia na Ledman LigaPro depois de passagens pelo Brasil antes de ir para o Minho.

O futebol de Sérgio Vieira está mais assente numa estrutura de contra-ataque estilizado, onde a manobra ofensiva não é descurada de todo. Existe o princípio de querer movimentar as linhas do meio-campo mais para o campo adversário, criando um bloco de pressão intenso aos médios da outra equipa, retirando qualquer paz e calma a esses para jogarem.

A extrema pressão imposta pelo par de pivôs, garante um ascendente importante ao Famalicão nos momentos de maior intensidade. Recuperação rápida pelos pivôs ou laterais, entrega aos extremos que se mexem com facilidade, avançado rapidamente pelas alas. Segue-se a opção por jogar pelo interior do campo, algo que cria sérias dificuldades para quem defende, muito pela versatilidade e poder de “imaginação” do ataque famalicense.

A defesa não sendo extraordinária nos processos ou não tendo aquela agilidade que o Paços de Ferreira ostenta, não deixa de se assumir como um “espinho” para quem queira demorar muito tempo a dar sequência às acções de ataque.

É por assim dizer um colectivo “uno”, difícil de enganar e que ganha sempre no jogo da paciência, aproveitando as oportunidades no ataque para transformar em golos. Contra-ataque letal, meio-campo recuperador, par de extremos criativo, laterais anti-invenção e par de centrais “mandões” e que não arriscam na saída de bola. Sérgio Vieira apetrechou este Famalicão para um patamar de elevada intensidade, muito similar ao que era o CD Santa Clara de Carlos Pinto na temporada passada.

Em termos de números: 8 vitórias, 2 empates e 2 derrotas, 20 golos marcados (4-2 ante o FC Porto “B” foi a vitória mais dilatada) e 12 sofridos (maior derrota na visita ao SC Braga “B” por 2-0) e 12 sofridos. 26 pontos, 2º lugar e pode fechar 2018 no topo da classificação… se sobreviver aos próximos dois jogos de exigência máxima: Académica de Coimbra e SL Benfica “B”.

UMA EQUIPA REFORMULADA COM APONTAMENTOS DE FELIZ E SILVA

O primeiro grande teste de fogo deu-se frente ao FC Paços de Ferreira com uma vitória por 2-1, numa clara mensagem enviada aos adeptos de que a luta pela subida não tinha “morrido” na época transacta.

Em termos de protagonistas, o Famalicão fez uma autêntica revolução no plantel da época passada para esta e o onze titular é um clara prova dessa afirmação, uma vez que oito dos reforços de Verão ganharam o lugar nas primeiras opções de Sérgio Vieira.

Se Rodrigo Defendi e Ricardo vieram de Paços de Ferreira depois de vários anos a jogar na Liga NOS, e Capela do Académico de Viseu, já Fabrício Simões voltou a um campeonato que conhece muito bem depois de um ano no Chipre. A grande surpresa está é na ascensão de dois desconhecidos para os adeptos portugueses: Hugo Gomes, ex-São Paulo FC, e Walterson Silva, ex-São Bento.

Os dois reforços canarinhos actuaram em divisões inferiores no Brasil, como a Série B (logo abaixo do Brasileirão), com Hugo Gomes a ter experimentado as equipas B do Maiorca e Granada. Apesar da estranheza inicial por parte de quem via os jogos, Walterson Silva e Hugo Gomes conquistaram o lugar de forma peremptória e sem espaço para grande discussão.

Gomes é um central duro, agressivo nos duelos e que facilmente auxilia o meio-campo defensivo na criação de um bloco pressionante mas que facilmente consegue recuperar a posição. Bom passe e apesar de não inventar na saída com bola, não deixa de ter toque de bola. Já Walterson Silva vai correspondendo com 6 golos em 11 jogos, onde se destaca o seu instinto felino dentro da área e capacidade de jogar nas alas, abrindo espaço para se criarem outro tipo de combinações difíceis de defender.

Entre a entrada dos reforços no 11, mantiveram-se algumas opções do ano passado como Jorge Miguel, Deni Hocko ou Feliz, com especial destaque para o extremo-avançado português. Feliz Vaz tem sido repetidamente a grande figura do Famalicão, com vários golos de elevada categoria, belos passes de abertura no ataque e um capricho na idealização de jogo de qualidade.

Se em 2017/2018 somou 5 golos e 10 assistências em 36 jogos, em 2018/2019 já vai em 3 golos e 8 assistências em apenas 11 encontros, demonstrando um gosto especial pela estratégia montada por Sérgio Vieira.

É, sem dúvida alguma, dos colectivos mais interessantes de se ver jogar na Ledman LigaPro, muito pela velocidade e mecanismos de jogo colocados em prática, para além da excelência na recuperação de bola e aproveitamento para fazer rapidamente problemas na área adversária.

Porém, o Famalicão já em 2017/2018 chegou mesmo a estar no top-3, isto à passagem da 14ª jornada. A queda foi abrupta logo de seguida, muito pelo cansaço acumulado e a ausência de Rui Costa no centro do ataque e dos 20 pontos conquistados em 12 jogos, seguiram-se várias derrotas, terminando no 14º lugar. Entre épocas há uma diferença de 6 pontos e os dois jogos que se seguem vão ajudar a medir o pulso a este Famalicão.

Está para subir? Ou será uma repetição da época anterior?


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