A tragédia grega galega de um Deportivo “doente” e em perigo pt.3
Fechamos esta trilogia de artigos dedicado ao Deportivo de La Coruña que vive um momento crítico da sua história, e podes regressar à parte 1 e 2 nestes links.
Fernando Soriano, recentemente apresentado como diretor desportivo do clube, terá um bom elenco nas mãos para estudar o que fazer. Como referi antes, as finanças estão apertadas e sendo assim deveria haver algumas saídas. São jogadores que facilmente arranjam clube e que libertam salário para possíveis chegadas.
O processo de seleção que Soriano terá que fazer não é simples e não o deverá fazer sozinho, mas nas próximas semanas terá que estar resolvido. Como verificámos na primeira parte do artigo, o Depor tinha uma massa salarial de 3,2 milhões de euros (ou era isso que o ABANCA desejaria ter). É facilmente percetível que o saudável para o clube é um valor inferior ao que existia no final de 2022/23. A média que existia de orçamentos salariais em 2021/22, que não será diferente da temporada que agora finalizou, era de 1,2 milhões de euros, valor ao qual os blanquiazules se terá obrigatoriamente que aproximar, para o bem do seu futuro.
Estruturalmente o plantel tem que se organizar em quatro faixas, na minha opinião, que devem ser refletidas em termos salariais:
- Um ou dois jogadores absolutamente cruciais, que não saiam do onze em caso de normalidade. Para este caso já existe Lucas Pérez, que além de ser a estrela, é também o líder do balneário;
- Sete ou oito elementos que, não sendo estrelas, sejam titulares quase absolutos, com capacidade para tal. Ou seja, jogadores que ganhem grande parte do bolo salarial, mas que tenham qualidade e capacidade para colocar o Deportivo na senda das vitórias em todos os jogos, contra qualquer adversário;
- Sete ou oito atletas com boa capacidade para a Primera RFEF e que conheçam a divisão onde estão. Não sendo atletas titulares, vão sempre acrescentar algo, não ocupando uma grande fatia do bolo salarial, em comparação com o estrato anterior;
- Jovens a aparecer, que inclusivamente se podem afirmar no 11. Alguns destes atletas até podem atuar na equipa B, desde que treinem na equipa principal e estejam rotinados com esses jogadores.
Claro que para a montagem estas estruturas teriam que existir mais saídas do plantel, algo que deverá acontecer durante o Verão. Jogadores por empréstimo poderão ser uma boa opção, mas em diferentes moldes dos realizados em 2022/23, onde se contrataram jogadores com salários que o Deportivo não pode comportar neste momento, como Carnero ou Díez, além de serem atletas a entrar na sua fase de quebra de rendimento (nomeadamente o lateral esquerdo). Conseguir empréstimos de jogadores mais jovens e com parte do salário pago pelo seu clube mãe era o ideal.
A aposta na formação será algo que o Deportivo terá que executar, já que há qualidade na mesma. Para um orçamento salarial mais pequeno, a presença de jogadores da equipa B/juniores dentro do ritmo do escalão principal é fundamental. Rúben de la Barrera entregou muitos minutos a Trilli e a Yeremay, mas existem mais casos de atletas que devem ser promovidos, com qualidade para estar, nem que seja no banco de suplentes, de uma equipa da Primera RFEF.
David Mella, Diego Gómez, Braís Val, Kevin, Diego Barcia ou Svensson são atletas que inevitavelmente terão de entrar nas convocatórias a pouco e pouco, sendo que alguns estarão presentes desde o imediato. Com a sua inclusão no plantel principal, são menos os gastos realizados com jogadores que vêm de fora para serem suplentes. O Depor sempre conseguiu uma boa cantera e é nela que está uma das chaves da sua reconstrução. Não nos podemos esquecer que não existe grande capital pelo Riazor e a existência destes jovens, com os quais se tem de realizar contratos longos, pode ajudar a possíveis futuras vendas por quantias importantes. O Caso de Noel López é um exemplo recente, que somente rendeu 600 mil euros com a sua transferência para o Real Madrid e podia ter sido melhor negociado.
O que é certo é que o Deportivo não pode ter 25 titulares nem 25 elementos a ganhar como se fossem indiscutíveis. Mesmo 11 jogadores com este escalão é algo a ser evitado e que a espécie de pirâmide apresenta anteriormente reflete muito bem.
O treinador terá que estar de acordo com um plano sólido de reconstrução. O despedimento de Rúben de la Barrera foi uma decisão errada também nesse sentido, já que era um treinador que sentia (e sente) que o clube teria que estar num patamar acima, mas o processo deveria ser feito de uma maneira mais calma e tranquila, no longo prazo possível para um clube como o Deportivo (que são os dois anos). De la Barrera voltou a lançar jovens, praticava um futebol agradável, conseguia estar na mesma linha do adepto.
O ABANCA terá uma das grandes chaves nas suas mãos: conseguir elementos que façam este clube crescer de novo, para integrar a estrutura, que ficou praticamente vazia. Fernando Soriano foi o único elemento escolhido no imediato, mas até ao momento lemos mais sobre saídas do que sobre entradas. Tem que se ser ponderado na hora da eleição dos profissionais para liderar este projeto, mas estamos numa fase em que se esperava uma melhor organização, com a apresentação de um projeto com traços bem definidos e a chegada de reforços, mas à data em que se escreve este artigo, o Deportivo não tem sequer treinador oficializado.
Com este atraso, todo o processo irá arrastar-se, com os processos de observação, análise e negociação a terem que ser realizados num processo mais rápido e por consequência menos criterioso. Não me acredito que o ABANCA tenha alguma equipa a trabalhar exclusivamente para o mercado do Deportivo, já que aparenta que entregou as chaves de tudo a Fernando Soriano, mas falta-lhe o resto da estrutura para poder conseguir realizar o seu trabalho com certa qualidade. Estas decisões sem um treinador definido sã quase como um tiro no pé, já que os atletas devem encaixar taticamente no que é pedido pelo treinador.
2023/24 será uma temporada fundamental para o futuro dos blanquiazules. Marcará a diferença entre ser um clube que seguirá atolado em dividas, dependente das ações tomadas por responsáveis de um banco, ou se quer gradualmente libertar-se dessa amarra e conseguir voltar a pensar em escalar de uma maneira sustentável na estrutura futebolística espanhola.