Super Liga Chinesa 2018 – Outsiders e candidatos ao trono
Com o passar dos anos, o futebol de elite na Republica Popular da China vai aumentando os níveis de competitividade. A hegemonia do heptacampeão Guangzhou Evergrande Taobao perdura, mas, mais do que nunca, é necessário refletir sobre o futuro de uma equipa que tantos troféus venceu nas últimas temporadas. São vários os factores em causa, como alertámos anteriormente (Saiba mais aqui), e um deles é, precisamente, a forte concorrência de outros clubes que entraram em cena de forma destemida.
CRÓNICO CANDIDATO
Shanghai International Port Group (SIPG)
Agora comandado por Vítor Pereira, sucessor de André Villas-Boas no comando técnico, o Shanghai SIPG tem uma nova oportunidade para almejar o título de campeão. Desde os últimos 2/3 anos que as Águias Vermelhas incomodam o líder de forma constante. Os confrontos diretos continuam a não ser muito favoráveis, é certo, mas isso deve-se, em grande parte, à experiência do seu rival.
Agora, e após um trabalho esplêndido de AVB no que toca à construção do plantel e à introdução de dinâmicas colectivas (Saiba mais aqui), Vítor Pereira tem um teste de peso em suas mãos. Isto porque a principal ambição do presidente, Chen Xuyuan, é a de ser campeão nacional e, num futuro próximo, levantar o troféu da Liga dos Campeões Asiáticos.
Analisando o elenco, o técnico português não sofreu nenhum revés de peso. A saída mais alarmante foi a de Wei Shihao – neste caso, o clube decidiu não avançar para a sua aquisição em definitivo -, para o Beijing Guoan, jovem avançado de 22 anos, que deixou excelentes impressões assim que solicitado na temporada transacta. Em termos de chegadas, a de Darío Conca, após empréstimo ao Flamengo, é a mais significativa, e, embora o seu nome não esteja incluído na convocatória para a competição milionária, não deixa de ser um elemento experiente, com muito conhecimento sobre o futebol chinês e a própria equipa.
A época para o ex-técnico que em Portugal deu nas vistas, sobretudo, ao serviço do FC Porto, começou da melhor forma possível. Em duas partidas para a AFC Champions League, soma já duas vitórias bem conseguidas. A primeira, diante dos tailandeses do Chiangrai United, por 1-0, garantiu o acesso à fase de grupos da prova. A segunda, frente aos atuais campeões japoneses, o Kawasaki Frontale, por 0-1, permitiu atingir a liderança do Grupo F devido ao empate entre Ulsan Hyundai e Melbourne Victory.
Relativamente ao sistema de jogo e ao onze titular, Vítor Pereira optou por manter a base de 2017. A única alteração no seu 1-4-3-3 face ao de André Villas-Boas até ao momento, é a inclusão de Yu Hai no lado esquerdo da defesa. Fu Huan transitou para o banco de suplentes enquanto que Wang Shenchao, capitão, ocupou o lado direito.
Em termos tácticos e de sistema de jogo, o Shanghai SIPG tem demonstrado uma maior competência naquilo que é a pressão alta em bloco e a reação à perda da bola. Será, certamente, uma equipa mais pragmática e disciplinada, ao invés de praticar um futebol extremamente ofensivo e intenso como na campanha anterior.
A escolha do onze será sempre um desafio nas competições internas dada a regra que pende e muito a favor dos jogadores sub-23, mas o Shanghai SIPG tem todas as condições para atingir o sucesso. É necessário, acima de tudo, uma maior consistência exibicional e não falhar nos momentos-chave da época porque um pequeno deslize inverter o rumo dos acontecimentos facilmente. Vítor Pereira tem um desafio interessantíssimo pela frente, porém, a tolerância é cada vez mais reduzida, não fosse este um clube sedento de títulos.
OUTSIDERS
Tianjin Quanjian
Depois de um ano sensacional sob a liderança de Fabio Cannavaro, o Tianjin Quanjian, recém-promovido justamente no ano de 2017, terminou na terceira posição da tabela classificativa e assegurou, pela primeira vez na sua história, a presença na AFC Champions League. Um feito notável que colocou o ex-internacional italiano num patamar bastante elevado levando o Guangzhou Evergrande a apostar no seu regresso de modo a suceder a Luiz Felipe Scolari.
Para o seu lugar chegou Paulo Sousa, ex-treinador da Fiorentina. Correm rumores de que o presidente do clube terá sido aconselhado por Marcello Lippi, atual seleccionador chinês, para que a sua escolha recaísse no português. Acontece que a sua oficialização surpreendeu o mundo do futebol devido ao simples facto de Sousa ter sido muito cogitado no continente europeu devido ao belo trabalho realizado na Serie A.
Para 2018, o principal objetivo deve ser o de tentar chegar o mais longe possível em todas as competições e não estabelecer metas concretas. Porque o Tianjin Quanjian não pode viver na sombra do passado e, mais do que isso, tem a Liga dos Campeões em disputa, algo que abarca, obviamente, outro tipo de responsabilidades.
O plantel tem, de facto, imensa qualidade. Para além dos extracomunitários Baise, Kwon Kyung-won, Axel Witsel, Alexandre Pato e Anthony Modeste, Paulo Sousa tem soluções muito interessantes ao seu dispor. Não sofreu nenhuma perda de relevo e, por outro lado, reforçou-se muito e bem. Pei Shuai (Changchun Yatai), Song Boxuan (Beijing Guoan), Wen Junjie (Zhejiang Greentown), Pan Ximing (Tianjin TEDA) e, sobretudo, Yang Xu (Shandong Luneng), experiente avançado internacional chinês, são os principais nomes a ter em conta, visto que alargam o leque de opções e juntam-se a outros nomes de grande experiência como Wang Yongpo, Zhang Cheng, Zhao Xuri e Sun Ke.
Para competição internacional, o Tianjin venceu de forma categórica os seus adversários nos dois jogos disputados. O primeiro frente aos filipinos do Ceres Negros, por 2-0, e o segundo contra o também estreante Kitchee United, de Hong Kong, por uns expressivos 3-0.
O futebol de posse característico do técnico português de 47 anos vai-se notando aos poucos no seu 1-4-2-3-1. O faro goleador de Modeste, as movimentações de Pato, a técnica, capacidade de passe e construção de jogo de Axel Witsel são as maiores virtudes de uma equipa que tem todos os ingredientes para alcançar o sucesso novamente.
Hebei China Fortune
Manuel Pellegrini assumiu as rédeas do Hebei em agosto de 2016, numa altura em que a equipa, com Li Tie no cargo, somava resultados menos positivos. Para um treinador experiente como o chileno, 2017 seria uma tarefa árdua, mas ideal dado o potencial apresentado pela equipa. Com alguns ajustes e muitas aquisições, Pellegrini montou um conjunto à sua medida e assustou a restante concorrência.
Na verdade, com tantas caras novas no plantel era difícil perspetivar um arranque perfeito e o Hebei demonstrou algumas dificuldades dentro das quatro linhas. Os jogadores tardaram em perceber a estratégia delineada e as rotinas exigidas num momento inicial tanto que se augurou um futuro negro para o clube. No entanto, jornada após jornada, a formação sediada em Qinhuangdao foi assimilando as ideias do treinador e entrou num ritmo fantástico.
Plantel forte e muito equilibrado, começando pela baliza e terminando no ataque, o Hebei China Fortune ganhou enorme alento com as exibições de Ezequiel Lavezzi – o argentino demorou, mas ‘renasceu’ completamente –, Aloisio, Stéphane Mbia, Zhang Chengdong, Ding Haifeng, Yin Yongbo, Zhao Mingjian e Ren Hang e demonstrou uma dinâmica muito forte juntamente com os processos de jogo muito bem consolidados. O apuramento para o play-off da Liga dos Campeões esteve, inclusive, à porta, mas um super Tianjin Quanjian acabou por dissipar as dúvidas existentes.
Para a atual época, Pellegrini recebeu Javier Mascherano (Barcelona), Jiang Zhipeng (Guangzou R&F), em troca com Ding Haifeng, Hernanes, após o empréstimo ao São Paulo, e Gervinho, que recuperou de lesão. Acréscimos de tremenda qualidade a um elenco que por si só já demonstrava uma autossuficiência gigante. A saída mais alarmante foi a de Aloisio para o Meizhou Mexiand Techand, da China League One. O móvel avançado brasileiro detinha uma ótima veia goleadora e o seu entrosamento com Lavezzi no ataque deixou água na boca de todos os seguidores.
Na pré-época do clube, o 1-4-3-3 foi o sistema mais utilizado, embora o 1-4-2-3-1 possa também vir a ser escalado com frequência. Javier Mascherano, como pivot defensivo, assume a construção de jogo e é através dos seus pés que o jogo da equipa irá fluir. Em terrenos mais adiantados, essa função recai em Hernanes que, juntamente com a velocidade e as desmarcações constantes de Lavezzi e/ou de Gervinho, promete dar e muito trabalho às linhas defensivas contrárias.
Novo ano, nova vida e a ansiedade de troféus continua a pairar no seio do Hebei China Fortune.
Guangzhou R&F
O Guangzhou R&F de Dragan Stojković é, indubitavelmente, um must-see na Super Liga Chinesa. Isto porque se trata de um clube que não há muito tempo esteve muito perto da descida de divisão e que, com a entrada do ex-futebolista, tem crescido a largos passos. Perante uma grande reformulação no plantel, com a inclusão de vários jogadores experientes e, ao mesmo tempo, de jovens talentos, o treinador sérvio, de 52 anos, implementou uma filosofia muito própria e que a curto prazo tem colhido os seus frutos.
Mas o que é que distingue o Guangzhou R&F dos demais? Numa primeira instância, o investimento. Comparativamente aos seus rivais, os Leões Azuis mantêm um desenvolvimento saudável e de grande aposta na sua formação, não esquecendo, obviamente, as contratações necessárias de extracomunitários que reforçam, e de que maneira, a equipa. Em segundo lugar, a continuidade. Stojković caminha para a sua terceira temporada no clube e a sua autonomia é respeitada ao máximo pela estrutura diretiva. Por fim, em terceiro, a estratégia de jogo. O R&F é um dos conjuntos que melhor futebol pratica e é muito fiel aos seus princípios. Jogo assente na posse, com muito critério no passe e com muita exploração dos flancos.
Na presente época, alguns jogadores rumaram a outras paragens, com destaque para a saída de Jiang Zhipeng, capitão, para o Hebei China Fortune, mas a sua vaga fica prontamente ocupada por Ding Haifeng, outro lateral esquerdo de excelência, que efetuou o percurso inverso. Estrangeiros como Jang Hyung-soo, Apostolous Giannou e Sölvi Ottesen e outros da casa como Xiang Baixu, Tu Dongxu, Xiang Jiachi, Yang Ting e Zeng Chao, desfalcaram as escolhas de Stojković que se precaveu com a entrada de jovens na casa dos 20 anos de idade.
No campo, o Guangzhou adota um sistema de 1-3-4-3 na fase ofensiva e um 1-5-3-2/1-5-4-1 na defensiva. É uma equipa que gere bem todos os momentos do jogo e que tem uma proposta aliciante de futebol de ataque. Para além da qualidade dos defesas laterais – Tang Miao é um nome a reter –, a segurança de Júnior Urso no meio-campo, a técnica e irreverência de Renatinho e o golo de Eran Zahavi tornam esta numa das formações mais temíveis da prova.
Zahavi (27), melhor marcador da edição passada, e Renatinho (12) marcaram 39 dos 59 golos marcados pela equipa em 2017 e juntos somaram, ainda, 14 assistências.
Beijing Sinobo Guoan
O caso do Beijing Guoan é um pouco mais delicado, mas a sua inclusão no lote deve-se ao seu atual treinador, Roger Schmidt, que durante inúmeras temporadas serviu o Bayer Leverkusen. Para todos os efeitos, os Guardas Imperiais não só são o símbolo da capital do país, como contam com um historial de respeito no panorama nacional. No entanto, foi desde a decisão de não renovar o contrato de Gregorio Manzano, após o final da temporada de 2015, que uma crise desportiva acentuada assolou o clube.
O Beijing não é uma instituição que tradicionalmente movimenta montantes astronómicos em contratações, mas, ao longo de vários anos, foi conseguindo manter uma equipa competitiva sobretudo durante o legado do experiente técnico espanhol. Aos poucos, os erros de casting começaram a surgir em força, começando pela má escolha de treinadores e terminando na gestão irrisória do plantel. Apesar do momento negativo, a Sinobo Group adquiriu, em janeiro do ano anterior, cerca de 64% das ações do clube por uns impressionantes 754 milhões de euros, inserindo o Beijing Sinobo Guoan na categoria dos mais valiosos do mundo.
No meio de saídas e entradas, Roger Schmidt assumiu o comando técnico em julho de 2017, numa fase posterior aos abandonos de José Manuel González, o escolhido pela direção, e de Feng Xie. O clube terminou na 9ª posição da tabela classificativa e não deslumbrou em nenhum momento da época.
Agora, com a oportunidade de iniciar o seu trabalho do nível zero, Schmidt, juntamente com o português Rui Mota na sua comitiva técnica (Leia a nossa entrevista aqui) pode recolocar a equipa de Pequim de novo no topo. Recrutou o goleador congolês Cédric Bakambu ao Villarreal – será a figura a par de Renato Augusto e Jonathan Soriano, também ele um experiente ponta-de-lança e com muito golo nos pés – e reforçou a sua base com Hu Yanqiang (Liaoning FC), Wei Shihao (Leixões SC), Chi Wenyi e Chi Zhongguo (Yanbian Funde) e Liu Huan (Chongqing Lifan), para além de outros jogadores de futuro.
A sua aventura pela Alemanha, ficou marcada pela forma como conseguiu colocar o Bayer nas bocas do mundo. Uma equipa camaleónica, pela forma como variava com facilidade o sistema tático consoante o momento do jogo – o 1-4-2-2-2 era, contudo, o mais utilizado -, forte na pressão e na verticalidade do seu ataque. A dúvida persiste, mas a bola está do seu lado.