Cédric Soares e a tristeza de uma porta fechada

Ricardo LopesAgosto 4, 20246min0

Cédric Soares e a tristeza de uma porta fechada

Ricardo LopesAgosto 4, 20246min0
Cédric Soares revelou que o Sporting CP não teve interesse em recuperá-lo mas Ricardo Lopes deixa uma opinião sobre o despique entre partes

Cédric Soares encontra-se livre no mercado, depois de ter visto o seu contrato com o Arsenal dado como finalizado. O internacional português esteve presente no Canal 11, que trata de convidar (e muito bem) vários profissionais para falarem sobre as suas experiências e falar de futebol e do que se passa dentro das quatro linhas. É de facto entusiasmante ver futebolistas a explicar porque fizeram X ou Y, a descrever processos, a falarem sobre a própria experiência. E o lateral direito já passou por Itália, Inglaterra, além de ter vencido o Euro 2016. No fundo, tem história.

Contudo, Cédric Soares foi mais além, procurando ter os seus cinco minutos de fama em 2024, porque pouco ou nada tem feito que mereça digno realce por parte da comunicação social nos últimos anos, conseguindo obter a atenção dos aficionados do futebol português, ao falar de políticas de contratações.

A expressão que mais se comenta é a seguinte:

«É triste ver que o Sporting não tem a cultura de fazer regressar os seus ex-jogadores», afirmou. quando o tema da conversa era a ida de Nani para o Estrela da Amadora, pouco depois de revelar que a sua primeira opção para regressar a Portugal seria um regresso ao José de Alvalade, porta que está fechada, para muita mágoa de Cédric Soares, mas já lá vamos.

A política de contratações do Sporting, liderada pelo trio Hugo Viana/Frederico Varandas/Rúben Amorim, tem sido muito clara: comprar pouco, mas em qualidade. E tem tido os seus resultados. Contudo, temos assistido a certos regressos, como nos casos de João Pereira, Islam Slimani ou João Mário, que também foi defendido com unhas e dentes pelo seu antigo colega. A cultura de fazer regressar está presente. O próprio Nani já voltou ao Sporting em duas ocasiões distintas, sendo sempre acarinhado pelos adeptos. Afinal, é uma das peças mais importantes da história do clube, ao contrário de Cédric Soares, que está bem longe desse patamar. Foi alguém importante na sua fase, apenas isso. Aliás, atemos assistido a vários regressos sem ser nos leões. Ángel Di María para o Benfica, Pepe e Marcano para o FC Porto.

O ponto chave é que estes elementos devem regressar se têm capacidade para tal. Como é óbvio serão atletas mais maduros, mas que podem entregar experiência e qualidade ao balneário. Nani conseguiu-o fazer no Sporting das duas vezes que regressou. Hoje, provavelmente já não o conseguiria. Pepe voltou ao FC Porto e foi um pilar importante até ao último dia do seu contrato. Ángel Di María apresentou números muito interessantes em 2023/24 na Luz. Não vale a pena abrir uma vaga num plantel para um jogador sem capacidades, com a justificação de que já vestiu a camisola do emblema em questão. É gastar dinheiro sem qualquer justificação. Além disso, a nível salarial esses elementos vão sempre para o topo da tabela ou perto do mesmo. Certos regressos podem colocar em causa a saúde financeira de um clube.

É neste ponto que temos que voltar ao caso de Cédric Soares. Porque é que o Sporting não o quer de volta? Vamos ao nível financeiro. O internacional português estava na Premier League, onde os salários são substancialmente mais altos. De Alvalade saíram Sebastián Coates ou Antonio Adán, cujos ordenados estavam no topo. Porém, justificavam tais valores, foram importantes por vários anos e fundamentais para o Sporting regressar aos títulos. Os salários de topo estão destinados para estes jogadores, para os “Gyokeres”.

Cédric Soares está muito longe de o ser. O próprio lamentou, também ao Canal 11, que Rúben Amorim queria um extremo a atuar na ala direita. Contudo, mesmo que o antigo médio não o desejasse, o lateral não tem capacidade para ser titular no Sporting. Olhando a nomes, Geny Catamo tem sido o titular e está a crescer. Ricardo Esgaio, embora patinho feito, não tem um salário principesco e cumpre as funções. Iván Fresneda é um diamante a ser delapidado. Para haver espaço para Cédric Soares, dois destes atletas teriam que sair e isso seria má gestão. Valerá a pena colocar dois ativos no mercado para assinar com um jogador que está com 33 anos e não consegue fazer a diferença?

Também há que olhar para o momento atual de Cédric Soares. Por equipas seniores, descontando os desafios que fez em Sub-23, o lateral foi utilizado nos últimos dois anos em 17 partidas. Esteve cedido ao Fulham em parte do tempo e Marco Silva colocou-o em campo apenas em oito ocasiões. Ou seja, o seu rendimento em campo foi curto, daí também ter acabado por não renovar contrato com o Arsenal, que viu que Cédric Soares já não tinha capacidade para fazer parte do seu plantel. Fica inclusivamente difícil de fazer uma análise do estado atual do jogador, já que há poucos dados. O FBREF, uma página de excelência em anáse, não conseguiu produzir um Relatório de Observação de Cédric Soares, mas tem um para Geny Catamo e outro para Ricardo Esgaio.

Em suma, e não tocando no discurso em que Cédric Soares defende o colega e amigo do João Mário por ter rumado ao Benfica, assumindo que não tem que haver fidelidade para com um clube (partilho do pensamento, não da forma como foi dito), o jogador tem as portas do Sporting fechadas e isso claramente lhe causou algum choque e tristeza, tentando usar o exemplo de Nani como comparação, quando Nani regressou a Alvalade por duas ocasiões. Cédric Soares consegui ser a estrela do Twitter e dos comentários em sites e portais nas horas seguintes, por uma série de frases infelizes que o conseguiram colocar de novo no mapa. Poucos se lembraram dele nos últimos anos, mesmo sendo um dos heróis de 2016 (com importância, mas dos mais irrelevantes, comparando com Nani, Quaresma ou Renato Sanches, por exemplo). O lateral terá que compreender que a sua carreira está a chegar ao fim e que não pode regressar a Portugal a pedir vencimentos de topo. O mesmo refere que tem propostas e será interessante verificar qual será o seu futuro e se se vai conseguir manter nas Big 5, ou vai optar por um final alternativo, na Árabia Saudita ou na Turquia, onde a questão financeira nem se coloca em causa.

Cédric Soares poderia e deveria pensar no exemplo de João Pereira, que também passou pelo Benfica, mas que conquistou os aficionados dos leões. Regressou para ser campeão, fazer balneário e fechar a carreira. Até ficou por lá, sendo treinador da B. Nada mau para um clube que não tem cultura de fazer regressar os seus jogadores…


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