Três ideias que poderiam mudar e melhorar o futebol brasileiro
Começo de Brasileirão é sempre a mesma coisa – as equipas começam a ver o calendário apertar com várias competições paralelas a se acumular, e quem não tem elenco sofre com isso. Contusões, expulsões e imprevistos sempre podem acontecer, e com eles vem a desagradável escolha entre priorizar campeonatos ou esfacelar os clubes, uma característica do atual futebol brasileiro.
O técnico Abel Ferreira é um dos mais ferrenhos críticos do atual modelo. Supercampeão de várias competições pelo Palmeiras, o português se adaptou bem ao futebol brasileiro, sem deixar de criticá-lo por conta dos seus sucessos. Afinal, uma equipa que avança em todas as competições pode chegar ao extremo absurdo de disputar mais de 80 jogos ao ano.
Na Europa, equipas de elite que chegam às finais de suas ligas jogam cerca de 60 a 65 jogos por ano. Na América do Sul, a média é a mesma. Assim, fica sempre a pergunta – afinal, quem são os vilões do futebol brasileiro? Porque as equipas que mais investem acabam por ser as que mais sofrem com o louco calendário tupiniquim? A resposta parece difícil, mas é mais fácil do que se imagina.
Peguemos por exemplo os estaduais. Estes são os grandes vilões do futebol do Brasil. Afinal, são cerca de 20 datas que levam os clubes à glória regional de ter um título estadual. Que na prática só serve para encher as salas de troféus. Os estaduais (apesar da regra ter mudado nesta época) não classificavam para nenhuma outra competição. Felizmente em 2023 corrigiu-se esse erro e os estaduais voltaram a ranquear os clubes para a Copa do Brasil.
Mesmo assim, ainda são cerca de 20 datas que se arrastam de janeiro a abril, com muitos jogos que não valem absolutamente nada em termos de classificação ou de ranqueamento nacional de clubes. E como se tudo isso não bastasse, muitas equipas de menor expressão só conseguem montar times para disputar os estaduais, e a partir de maio não participam de mais nenhum torneio, voltando ao relvado somente em janeiro do ano seguinte. O Água Santa, vice campeão paulista em 2023, é o maior exemplo disso.
Mas como então resolver essa equação? Como fazer os campeonatos voltarem a ser competitivos e ocuparem todas as datas do calendário da época sem prejudicar os clubes que mais investem? Vou mostrar três ideias que poderiam mudar radicalmente o futebol tupiniquim e voltar a colocar o Brasil como protagonista no mapa mundi do desporto rei.
1. O fim dos estaduais. Fim. Extinção.
A primeira ideia é acabar de vez com os campeonatos estaduais, os grandes vilões da bola no Brasil. Os regionais hoje servem apenas para as equipas das séries B, C e D do Brasileirão exporem seus jogadores na vitrina para que os grandes clubes do Brasil e fora dele possam fazer negócios com as jovens promessas. A extinção dos estaduais acabaria de vez com jogos modorrentos e sem graça, que só servem para preencher o calendário e atrasar a vida dos clubes mais poderosos, que derrubam seus técnicos e acabam com seus planejamentos após maus resultados nestes certames.
Aí você pode pensar – “ok, mas se acabarmos com os estaduais, o que os clubes iriam fazer no período de janeiro a abril?” – é aí que entra a segunda ideia, que é uma Copa do Brasil gigantesca, inchada e fortalecida.
2. Copa do Brasil, a democracia do futebol. O segundo campeonato mais importante do país.
A Copa do Brasil (CB) é o campeonato que deveria substituir os obsoletos torneios regionais. A CB duraria o ano inteiro, porém seria dividida em duas etapas: uma de maio a dezembro, a correr em paralelo com o Brasileirão, e outra de janeiro a abril, com formato similar ao Campeonato Mundial, com fase de grupos e jogos eliminatórios até a grande final, que levaria o campeão à Copa Libertadores do ano seguinte.
Na primeira etapa da Copa do Brasil, todos os clubes de todas as divisões (com exceção dos oito primeiros colocados da Série A do Brasileirão) se enfrentariam regionalmente, com grupos e jogos de ida e volta. Dessa forma, as equipas que hoje não tem competições a disputar de maio a dezembro teriam vários jogos a fazer ao longo do ano. Além disso, não seriam necessários grandes deslocamentos, pois os grupos e os jogos seriam divididos por regiões geográficas do país. Os clubes que ocuparam as oito primeiras posições do Brasileirão Série A entram no torneio apenas na segunda fase, que começaria em janeiro do ano seguinte. Assim, não ocorreria a punição imposta hoje aos clubes que mais investem.
3. A Segunda fase da Copa do Brasil e o Brasileirão com quatro divisões
Ao final da primeira fase da Copa do Brasil com equipas de todas as divisões do Brasileirão divididas regionalmente, teríamos em dezembro um total de 24 equipas classificadas para a segunda fase, que iniciaria após as férias, no final de janeiro.
É nesse ponto que entrariam as grandes equipas, ou os oito primeiros da Série A do Brasileirão. Ao todo, teríamos 32 equipas que representariam as melhores do país a disputar uma vaga na Libertadores no ano seguinte. A segunda fase da CB começaria em janeiro e terminaria em abril, a substituir assim os campeonatos regionais que atualmente ocorrem nesse período. O regulamento da segunda fase seguiria o modelo do Campeonato Mundial.
Assim, teríamos um torneio de altíssimo nível no início da temporada, a valer uma vaga na Libertadores. E a partir de abril teríamos o início do Brasileirão em suas quatro divisões, nos mesmos moldes atuais. Os jogos do Brasileirão seriam nos fins de semana, enquanto a Copa do Brasil teria suas partidas nos meios de semana. Os pequenos jogariam o ano inteiro e os grandes não seriam prejudicados pelo calendário.
Com essas três simples mudanças, teríamos um calendário bem sucinto, no qual as pequenas equipas jogariam em alto nível durante todo o ano, e as grandes equipas seriam poupadas do desgaste do atual e cansativo calendário. Como diz a música, “sonhar não custa nada”…