O que houve com o planejamento do Atlético Mineiro?
O ano de 2017 está sendo marcado por uma queda na qualidade do campeonato nacional. Mais do que isso, se previa que times com maior investimento poderiam se destacar neste cenário, com a montagem de elencos caros e a manutenção de um planejamento a longo prazo. Como exemplo, Flamengo, Palmeiras e também o Atlético Mineiro entravam para esta seleta lista. A conquista do campeonato mineiro fez o Atlético Mineiro crer que este poderia ser um ano de muitas alegrias para o torcedor, e que o tal planejamento seria mantido.
Panorama atual
Seis meses depois, esta verdade já não existe, o time alvinegro oscila bons e maus momentos na competição nacional, depois de ter sido eliminado precocemente na Taça Libertadores da América nas oitavas de final para o inesperado Jorge Wilstermann da Bolívia, e tem de lidar com a perda do título da Primeira Liga nos pênaltis para o modesto Londrina, segundo jogo do time com o terceiro técnico no ano, Oswaldo de Oliveira.
O início empolgante
O elenco recheado de grandes nomes começou o ano sob o comando do técnico Roger Machado. Contratado em Novembro de 2016 após boa passagem pelo Grêmio, Roger se apresentaria em Janeiro de 2017 e já levaria o time a conquista do Campeonato Mineiro em embate contra o rival Cruzeiro, com direito a gols de Robinho e Elias, e artilharia de Fred, com 10 gols. Paralelamente ao estadual, o bom início na Libertadores credenciava o time a candidato ao título continental. O técnico foi coberto de elogios: time com excelente disciplina tática, equilíbrio entre defesa e ataque (principalmente pelo uso de três volantes), boas substituições (como a entrada de Cazares na final do Campeonato Mineiro) e o bom rendimento dos jogadores mais famosos (Elias, Robinho e Fred).
A queda de rendimento, resultados, e dos técnicos
Perdendo quatro de oito jogos como mandante no Brasileiro, passando duas rodadas na zona de rebaixamento do campeonato e pressionado por constantes vaias do torcedor, Roger caiu. Nem a boa campanha na fase de grupos da Libertadores fez com que seu trabalho continuasse. Em 43 jogos, foram 23 vitórias, nove empates e 11 derrotas. Ele deixou o clube então classificado para as oitavas da Libertadores, quartas da Copa do Brasil e ainda na Primeira Liga. A decisão precipitada da diretoria foi pouco questionada, mas evidenciava a falta de crença no planejamento elaborado para o ano, que possivelmente passava pela manutenção de Roger ao longo do ano.
O novo técnico escolhido para assumir o Galo foi Rogério Micale. Campeão olímpico com a seleção Brasileira no Rio 2016, Micale, que já havia trabalhado no Atlético nas categorias de base, assumiu o time para uma passagem rápida. Foram 12 jogos em 2 meses de trabalho. Quatro vitórias, três empates e cinco derrotas, acumulando as eliminações da Copa do Brasil e da Libertadores, objetivos grandes na temporada. Se para a diretoria e parte da torcida, Micale tinha parcela de culpa, não há como negar que a ruptura do trabalho anterior tenha influenciado nestas eliminações. A diferença entre o método de trabalho, as formas de jogar e as alterações no time considerado titular levam tempo para resultar em êxito. Tempo este que não foi dado ao treinador. Muitos ainda se perguntam se a escolha do técnico foi realmente acertada, afinal a rápida decisão de troca no comando e as diversas coletivas do presidente Nepomuceno para justificar o planejamento do clube só mascararam a confusão que ele se tornara.
O futuro do Atlético
“Vim anunciar que o Micale não é mais nosso treinador. Hoje era um jogo decisivo para a gente buscar essa vaga na Libertadores. Não posso aceitar perder para o Vitória por 3 a 1 em casa, a sétima derrota em casa. Já agradeci no vestiário. Futebol é resultado. A gente não pode brincar com mais nada”, disse Daniel Nepomuceno após mais uma rápida decisão de troca de comando. A medida desta vez traria uma nova característica: apostar em um técnico experiente, bem rodado, com capacidade de levar o time de volta aos seis primeiros colocados da competição nacional, classificação que leva o clube a próxima Libertadores.
Agora, faltando 12 jogos para o final do Brasileirão, Oswaldo também terá pouco tempo neste ano para implantar sua filosofia de trabalho. O time terá que melhorar principalmente sua eficiência ofensiva, já que os mineiros têm o quinto pior ataque da competição, sendo que Fred não marca há 11 jogos, e Robinho há 23 (desencantou no último jogo, contra o Atlético Paranaense, ao marcar dois). Mesmo em busca de uma vaga na competição continental, ainda existe uma pequena chance de rebaixamento, que pode se agravar se o time não vencer o São Paulo em casa pela 27ª rodada.
Se é fato que Oswaldo de Oliveira já pensa em 2018, cabe ao presidente e a diretoria pensarem ainda em 2017, tentar restabelecer a calma e a manutenção do trabalho atual, para que não haja nenhuma surpresa ao final do ano, e nem para o novo presidente do clube, já que novas eleições acontecerão ano que vem. Longe de cumprir com as metas estipuladas no começo do ano, o Atlético entra para o grupo dos times brasileiros que não conseguiram, mesmo com o alto investimento e alta expectativa, engrenar bons resultados e títulos em 2017.