Longe da Série A, o tormento do Cruzeiro continua

Rafael RibeiroJaneiro 17, 20215min0

Longe da Série A, o tormento do Cruzeiro continua

Rafael RibeiroJaneiro 17, 20215min0
O Cruzeiro não pode mais subir para a Série A do Brasileirão, matematicamente, e tem risco pequeno de cair para a Série C. O que houve?

Na 35ª jornada da Série B do Brasileirão, o Juventude venceu o Cruzeiro por 1-0, acabando com as chances matemáticas da Raposa garantir o acesso à primeira divisão do futebol nacional. Neste momento, permanece na 14ª colocação, com 44 pontos, e está apenas a seis pontos do primeiro colocado na zona de rebaixamento para a Série C, o Vitória, que possui 38. Apesar da possibilidade de queda ser refutada (faltam apenas 3 jornadas), a equipa mineira passará o ano de seu centenário na segunda divisão, convivendo com muitos erros dentro e fora do relvado para estar nessa posição.

O Fair Play analisa o que houve com o Cruzeiro, que passos errados foram dados e como a trajetória da Série B de 2020 culminou em uma das primeiras permanências de um time grande na Série B no ano seguinte após ter sido rebaixado. Isso porque apenas Fluminense (depois de uma série de polêmicas, e caindo inclusive para a Série C) e Bahia, ambos em 1998, caíram e não subiram no ano seguinte. O time de Minas Gerais se junta a estes nomes e o vexame pode ainda ser pior, repetindo o da equipa tricolor carioca.

Dentro do relvado: trocas de treinadores

O Cruzeiro teve, ao longo da Série B, três treinadores (Enderson Moreira, Ney Franco e por fim Felipão). Os dois primeiros tiveram aproveitamentos péssimos, não apenas pelo resultado das constantes trocas, mas também da péssima qualidade da equipa. Enderson ficou por 8 jogos (45,83% de rendimento, deixando o time no Z4). Ney Franco durou um jogo a menos (teve 33,3% de aproveitamento, e aprofundou as possibilidades de queda para a terceira divisão). Com Felipão, a situação passional contou, e o peso do treinador ajeitou (temporariamente) as coisas.

Felipão flertou com o acesso, mas a instabilidade da equipa fez o sonho não se concretizar. Quase que como um favor do técnico à equipa, desabafou ao dizer que, com este plantel, não há possibilidade de briga por acesso e nem por permanência na Série A, e que há muita dificuldade de entendimento dos jogadores em assimilar o que é passado pela comissão técnica. É pouco provável que continue a frente da equipa em 2021. Mesmo com uma multa altíssima (10 milhões de reais), se a decisão for em comum acordo, Felipão e Cruzeiro sairão livres para seguir seu caminho.

Felipão foi a salvação para o Cruzeiro não cair para a Série C (Foto: Rafael Vieira/AGIF)

Dentro do relvado: desempenho da equipa do Cruzeiro

Continuando o calvário cruzeirense, dois pontos importantes marcaram a campanha na Série B. Primeiramente, o desempenho ruim dentro de seus domínios. A equipa é a segunda pior mandante do campeonato, apenas atrás do rebaixado Oeste (o retrospecto é de 5 vitórias, 6 empates e 6 derrotas). Além disso, as contratações desenfreadas só aumentaram os problemas dentro e fora do relvado. Isso porque, nos jogos, poucas contratações fizeram a diferença, e a mudança de patamar esperada não aconteceu.

Nomes como Rafael Sóbis e Willian Pottker, Régis, Arthur Caíke, além do retorno de jogadores emprestados, como Manoel, Marquinhos Gabriel e Sassá estiveram muito aquém do que poderiam render. De todos, Marcelo Moreno pode ser considerado o pior, com apenas três golos em 26 jornadas. Muitos desses jogadores tem contratos e salários considerados altos para o padrão da Série B, e o que se espera para 2021 é, certamente, mais uma mudança completa na comissão técnica e jogadores, aumentando as dúvidas para a próxima época.

Marcelo Moreno chegou no início de 2020, pintou a camisola na pele, mas não rendeu (Foto: Bruno Haddad/Cruzeiro)

Fora do relvado: erros administrativos

O problema do Cruzeiro já começou grande na Série B de 2020. Punido pela FIFA por não quitar uma dívida financeira pelo empréstimos do médio defensivo Denílson em 2016, a equipa já iniciou a época com menos 6 pontos na tabela. Para piorar a situação, outra punição imposta pela entidade fez o clube não poder registrar atletas (pelo não pagamento de uma parte da compra do avançado Willian, em 2014). Alguns jogadores, como Giovanni e Ângulo, ficaram apenas treinando no Cruzeiro e só puderam jogar em Outubro.

Não houve preocupação com austeridade financeira. Tanto é que, já ao final de 2019 quando estouraram escândalos de uso de verba do time, o caminho seria de diminuir os gastos e agir com mais cautela, mas nada disso foi cumprido. Com as demissões, quebras de contrato e outras dívidas, o Cruzeiro chegou ao número de 1 milhão de reais em dívidas. E a cada novo diretor de futebol, novas trocas faziam o clube não render em campo e gastar mais fora dele (foram três diretores: Ricardo Drubscky, Deivid e André Mazzuco).

Para 2021, não há perspectiva, nem para os que estão no clube e nem para seus adeptos. Sérgio Santos Rodrigues, presidente do Cruzeiro no ano, adotou um discurso fora da realidade, exigindo a obrigação de subir para a Série A na época seguinte, e que o time pode brigar pelas conquistas do Campeonato Mineiro e da Copa do Brasil. Principalmente com as contas ainda maiores (e arcando com todas elas, feitas no passado) não haverá a possibilidade de novas contratações, e talvez o “fico” de Felipão poderá ser o único alento dos adeptos para brigar por títulos como disse o presidente. É esperar para ver.

O presidente Sérgio Rodrigues crê em títulos no centenário (Foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro)

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