La copa se mira y no se toca
Não é sobre Palmeiras, tampouco sobre Libertadores. É sobre um dos lemas mais conhecidos do futebol sul-americano. Afinal, la copa se mira y no se toca, não é mesmo?
Cantar vitória antes da hora é totalmente descartado. Todo torcedor que se preze sabe disso. Não é o palmeirense, não é o são-paulino. Simplesmente não se faz. O título é almejado, visto de longe. Comemorado e celebrado quando conquistado. Sofrido e chorado por dias e dias quando fica pelo caminho.
Por que com jogadores seria diferente? É sério. La copa se mira y no se toca. A mistura de português e espanhol que dita o ritmo do futebol no continente de nove (ou 11) títulos mundiais. É preciso respeitar a superstição, porque, por algum motivo, ela se mostra verdadeira em toda oportunidade que tem.
Antes de uma final, o troféu é o maior objetivo. Olhos lacrimejam sonhando com o dia em que você verá seu capitão levantando a taça. Em campo, quem tem a braçadeira foca o olhar no objetivo que é só um. Um de milhões. Um de 23 que estão ali carregando cores e corações nas costas.
Mira e mira. À distância. Com segurança.
A última coisa que alguém precisa num momento de tensão e de decisão é bater de frente com os deuses do futebol. Brincar com a sorte? Não faz sentido. Não tem motivo.
Alguns, porém, desafiam o destino. Batem de frente com a crença popular, almejando sentir aquilo que não sentirão. Mas eles não sabem disso. Afinal, o jogo ainda não aconteceu.
Toca y toca. Pero no juega y juega.
Depois que a bola rola, o destino é fatal. Em jogo equilibrado ou dominado. Nos pênaltis ou com gol no início. Goleada ou prorrogação. O final é um só. Apenas uma equipe pode levantar a Copa do Brasil, ou a Libertadores, ou até mesmo a Copinha.
E, pasmem, não é quem toca.
Vimos recentemente, com o Palmeiras, como o futebol funciona. No profissional ou na base. No país ou no continente “brasileiro”.
Entendendo o coração e sentimento da torcida, que teme, mais do que tudo, a famosa “parmeirada” (quando o time perde um jogo que só o Palmeiras é capaz de perder), o elenco soube jogar o jogo. Soube respeitar a taça o sonho. Esteve próximo, mas não se aproximou demais.
Se estivesse num museu, sempre atrás da linha vermelha no chão. Sempre a uma distância segura e correta da maior obra de arte que os olhos podem ver. Mesmo se a Mona Lisa não estivesse protegida por vidros e guardas. Respeitando, por bom sendo e obrigação, as limitações impostas pelos 90 minutos que ainda estão por ser jogados.
Em duas Libertadores. Em uma Copa do Brasil. Em uma Copinha inédita e histórica.
O adversário, porém, não soube agir. Por ingenuidade ou falta de fé. Não acreditou no dito popular. Na voz de tantos que avisaram.
– LA COPA SE MIRA Y NO SE TOCA!
Marinho pecou antes de 30 de janeiro. Gustavo Gómez levantou o troféu de verde.
Maicon cometeu o mesmo erro meses depois. E, desta vez, Felipe Melo ergueu o Brasil nos braços.
Gabriel Barbosa quis rever aquela que já tinha conquistado anos antes. Tirou a camisa no gol de empate. Mas o continente seguiu verde, branco e de sangue italiano.
Elder Campos, mais recentemente, sonhou com o principal título da base e a manutenção do meme. Viu Pedro Bicalho com o troféu em mãos e o fim da música que tantos cantavam.
Todos quebraram a regra básica do futebol sul-americano. O mantra que antecede grandes decisões. Nenhum aprendeu com os que vieram antes. Todos deixaram a lição básica para os que vêm.
Afinal, la copa se mira…