Equipas brasileiras apostam no empreendimento de marcas próprias
É comum que equipas vejam em seus materiais esportivos uma boa forma de patrocínio, seja pelo valor pago por grandes marcas para a aquisição do direito de produção, ou mesmo pela arrecadação que as equipas terão com a venda de seus artigos, variando cada vez mais a forma de contrato entre as partes para que ambas saiam ganhando. Mas um dos fatores mais importantes a se levar em consideração é o vínculo que tal marca criará neste empreendimento, afinal são os adeptos que irão ditar o sucesso de uma nova linha de produtos, por exemplo.
Com isso em mente, além de outros pontos considerados frustrantes por algumas equipas, é que elas decidiram não mais assinar contrato com marcas de material esportivo, e sim criar a sua própria forma de produção, distribuição e venda de artigos esportivos, na aposta de que uma marca própria poderá criar um vínculo mais forte com os adeptos, cativar a venda de itens muitas vezes não fabricados por outras marcas, além de pensar no custo benefício de todo o projeto. O Fair Play cita quem aderiu na Série A do Brasileirão 2020:
Esquadrão (Bahia)
A marca própria do Bahia substituiu a Umbro em 2018, sendo a primeira a fabricar sua própria camisola, seguindo passos de times que já haviam criado sua marca, como o Paysandu, Santa Cruz e Joinville. Um detalhe que irá se repetir em muitas das equipas que seguem essa linha de empreendimento é o envolvimento dos adeptos. No caso do Esquadrão não foi diferente, e o design das camisolas usualmente conta com a partipação e votação dos adeptos para ser escolhido. Em 2020, o fato marcante para o Esquadrão foi assinar um contrato para fornecimento de material esportivo para o Vitória da Conquista, equipa adversária do próprio Bahia no Campeonato Baiano.
Leão 1918 (Fortaleza)
Criada em 2016 ainda na Série C, a marca Leão 1918 acompanhou a campanha de sucesso recente do Fortaleza. Com o vice da Série C em 2017 e o título da Série B no ano seguinte, estreou no Brasileirão Série A em 2019, mostrando a força da marca para seus adeptos. Assim como o Bahia, o Fortaleza também conseguiu, por meio de sua marca, implementar uma linha de loja e quiosques para a venda dos artigos, além do site oficial da marca para venda online. Ela substituiu na época a marca Kappa, e mesmo envolvendo grandes riscos para a equipa tomar esta atitude, já são praticamente quatro anos e um nome consolidado.
Vozão (Ceará)
Seguindo a tendência até mesmo de seu rival Fortaleza, o Ceará criou sua marca ao final de 2019, e estreia na Série A de 2020 a Vozão, marca própria baseada no Mais Querido, como é conhecido o time. Em seu lançamento, divulgou a camisa e outros materiais diretamente aos adeptos na principal praça da capital cearense, e diversificando ações de marketing, como desconto nas peças para quem for sócio torcedor do Ceará. Mesmo com a paralisação do futebol, tanto o Ceará quanto as demais equipas comemoram os números apresentados pelas marcas próprias se comparadas a outras (Vozão substituiu a marca brasileira Topper).
Green 33 (Goiás)
Deixando também a Topper, o Goiás anunciou para o segundo semestre de 2019 e início de 2020 a criação da marca Green 33, que será o material esportivo próprio da equipa. Seguindo a estratégia do Paysandu (como citamos acima, ao criar a marca Lobo para seu material esportivo) e também de outras equipas como o Paraná, a Green 22 representou para a Topper a perda de metade das equipas que patrocinava (também perdeu os contratos com Vitória (Kappa), Botafogo (Kappa) e Atlético Mineiro (Le Coq Sportif). E como nem tudo são notícias positivas, vale destacar o ponto negativo da apresentação da linha de produtos, que envolveu a divulgação de vídeos com “excesso” de sexismo, com mulheres em poses sensuais, e que causou uma imagem negativa para a marca logo em seu início.
Dragão Premium (Atlético-GO)
Rival do Goiás, o Atlético Goianiense lançou, para 2019, a sua marca própria Dragão Premium. O lançamento foi para já serem usados na Copa do Brasil do ano passado, em substituição à marca Numer, um braço da empresa Super Bolla. Assim como as outras marcas citadas, a Dragão Premium também tem a liberdade de criar uma linha completa, assim como uniformes de viagem, de treino e também camisolas para datas especiais, como a camisola rosa criada para a campanha Outubro Rosa, de prevenção ao câncer de mama.
1909 (Coritiba)
Referindo-se ao ano de fundação da equipa, 1909 é a marca própria do Coritiba, lançada já para o segundo semestre de 2018. O Coxa tinha contrato com a Adidas, mas esperava com a criação da marca um retorno financeiro melhor, com uma expectativa de aumentar em cinco vezes o valor ganho, já que tinha um contrato pouco proveitoso com a marca alemã, mesmo tendo anteriormente a ela um contrato também com outra gigante, a Nike. Um dos itens mais procurados foi a camisola de guarda-redes desenhada por um dos ídolos do clube, o guarda-redes Wilson.
Marcas conhecidas como Adidas, Umbro, Under Armour, além de empresas nacionais como Olympikus, Topper e Penalty acabaram perdendo espaço entre equipas por não flexibilizarem seus contratos, ou mesmo por não conseguirem suportar a demanda exigida por cada equipa, mesmo que cada uma tenha um mercado mais regionalizado. Soma-se a isso o fato de a marca esportiva dessas equipas mudar regularmente, sem que haja uma estratégia de marketing de longo prazo, e que não estimula o torcedor a investir nesses equipamentos. A marca própria é certamente um case de sucesso a se analisar.