Cinco técnicos estrangeiros que não serviram de exemplo para Jorge Jesus

Marcial CortezAgosto 20, 20206min0

Cinco técnicos estrangeiros que não serviram de exemplo para Jorge Jesus

Marcial CortezAgosto 20, 20206min0
Com a excelente performance obtida por Jorge Jesus na jornada passada, criou-se no Brasil uma ¨cultura do técnico estrangeiro¨. No entanto, os resultados negativos de outros forasteiros parecem mostrar que o ¨Mister¨ é a exceção, e não a regra, no quesito sucesso em terras tupiniquins. Confira na matéria cinco casos de técnicos de fora que não se deram tão bem por aqui...

Após o retrospecto sensacional do Flamengo na época de 2019, ampliou-se no Brasil a ¨cultura do técnico estrangeiro¨. No entanto, os números parecem mostrar que Jorge Jesus é a exceção, e não a regra, no quesito sucesso em terras tupiniquins. Num país em que os resultados mandam mais que os contratos assinados, os técnicos de fora sofrem as mesmas pressões decorrentes da falta de paciência dos dirigentes, da imprensa e dos adeptos brasileiros. Confira aqui cinco treinadores que comprovam a teoria da regra x exceção:

1. Ricardo Gareca – Palmeiras

Ricardo Gareca durante sua passagem pelo Palmeiras em 2014. Foto: Marcelo D Santis – Folhapress

O argentino Ricardo Gareca chegou ao Verdão em junho de 2014, e junto com ele trouxe alguns jogadores que caíram no gosto dos seus adeptos, entre eles o avançado Cristaldo, que hoje atua no México. Gareca foi uma inovação à época, pois o Palmeiras não vivia um bom momento e o presidente Paulo Nobre decidiu fugir do lugar comum ao arriscar um técnico forasteiro. A ideia não deu certo, pois a campanha foi abaixo da média. Em 13 jogos no comando do Alviverde, Gareca conseguiu quatro vitórias, um empate e oito derrotas. Apesar disso, dentre os adeptos verdes há quem diga que Gareca foi o técnico certo na hora errada, pois a equipa carecia de atletas com qualidade. O argentino atualmente comanda a seleção do Peru.

2. Paulo Bento – Cruzeiro

O português Paulo Bento no comando do Cruzeiro em 2016 Foto Washington Alves – Cruzeiro

Tão efêmero quanto Gareca, em 2016 o português Paulo Bento esteve à frente da equipa mineira por apenas 75 dias. A Diretoria não resistiu às pressões após sucessivos insucessos: em 17 partidas, obteve seis vitórias, três empates e oito derrotas, deixando o Cruzeiro na zona de rebaixamento do certame. Felizmente o Cruzeiro não caiu naquele ano, mesmo com uma das piores campanhas de um treinador estrangeiro. Paulo Bento atualmente é o treinador da Seleção Sul Coreana.

3. Edgardo Bauza – São Paulo

Edgardo Bauza em entrevista coletiva no comando do SPFC. Foto: Marcelo Zembrana – AGIF – Estadão Conteúdo

Bicampeão da Libertadores pelas equipas da LDU em 2008 e do San Lorenzo em 2014, o argentino Edgardo Bauza chegou ao Tricolor do Morumbi em 2016 com muita pompa e esperança. Famoso por utilizar bilhetinhos à beira do relvado, Bauza fez um bom trabalho no São Paulo. Ao todo, foram 48 jogos, com 17 vitórias, 13 empates e 18 derrotas. Ao contrário dos dois primeiros da lista, Edgardo Bauza não foi demitido. Ele pediu demissão por ter recebido um convite para treinar a Seleção Argentina, local no qual foi desligado algum tempo depois. Atualmente, está sem contrato, mas os adeptos tricolores ainda sentem saudade.

4. Jesualdo Ferreira – Santos

Jesualdo Ferreira no comando do Santos. Foto: Guilherme Dionízio

A equipa do Santos entrou na onda dos técnicos estrangeiros em 2019 e trouxe o argentino Jorge Sampaoli para comandar o time. Deu certo e o Peixe conseguiu o vice campeonato na época passada. No entanto, Sampaoli trocou de camisa no início de 2020 e o Time da Vila decidiu continuar com a estratégia de investir em treinadores forasteiros. E foi aí que o português Jesualdo Ferreira chegou à Baixada Santista. Sua performance no campeonato paulista, ao ser eliminado pela equipa da Ponte Preta, deixou diretoria e adeptos muito chateados e isso fez com que fosse demitido precocemente, antes mesmo de iniciar o Campeonato Brasileiro. Jesualdo treinou o time de Pelé em 14 partidas, com 6 vitórias, 4 empates e 4 derrotas.

5. Reinaldo Rueda – Flamengo

O colombiano Reinaldo Rueda em sua apresentação no Flamengo em 2017. Foto: Gilvan de Souza

Como se vê, o Flamengo não tem medo de arriscar com treinadores estrangeiros. O colombiano Reinaldo Rueda chegou em 2017 com uma Taça Libertadores no currículo, conquistada junto ao Atlético Nacional, equipa de sua terra natal. Reinaldo Rueda não fez feio no comando do Rubro-Negro: em 31 jogos, obteve 13 vitórias, 10 empates e oito derrotas. E conseguiu dois vice-campeonatos, a Copa do Brasil e a Copa Sul Americana. Reinaldo Rueda, assim como Edgardo Bauza, também pediu demissão ao invés de ser demitido como a maioria dos seus colegas. O pedido de desligamento ocorreu graças a um convite para treinar a Seleção Chilena, cargo que ocupa atualmente.

Mas afinal, Jorge Jesus é a regra ou a exceção?

Como vimos, a vida de treinador no Brasil não é fácil. Jorge Jesus atingiu índices inimagináveis para os treinadores estrangeiros que o antecederam. Em sua recente passagem pelo Rubro-negro, onde disputou 58 partidas, obteve 44 vitórias, 10 empates e apenas quatro derrotas. Seu índice de aproveitamento foi de 81,6%! Tal feito influenciou a imprensa, os adeptos e as demais equipas brasileiras. Por isso a obsessão do atual campeão brasileiro em buscar um outro técnico estrangeiro. Porém, será muito difícil para qualquer treinador do mundo atingir ou superar as marcas deixadas por Jorge Jesus. Arrisco-me a dizer que mesmo que o Flamengo trouxesse  Pep Guardiola, dificilmente conseguiria repetir o fantástico ano de 2019.

Quanto aos demais treinadores estrangeiros a atuar no Brasil em 2020, o português Augusto Inácio foi demitido em fevereiro após sete partidas no comando do Avaí, clube de Santa Catarina que disputa a Série B. Jorge Sampaoli está à frente do Atlético Mineiro e lidera o Campeonato Brasileiro após três rodadas, juntamente com o Internacional que também é treinado por outro estrangeiro, o argentino Eduardo Coudet. Ambos permanecem no Brasil pelo segundo ano consecutivo.

Assim, a pergunta torna-se cada vez mais difícil de se responder. Prefiro mostrar que Jorge Jesus não é nem a regra nem a exceção. É apenas um ponto fora da curva, mas que pode indicar uma tendência. Na linguagem televisiva, podemos dizer que ele é o ¨longa metragem que dará origem à série¨.

Vida longa aos técnicos estrangeiros e ao futebol brasileiro!

 


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS