Brasileirão Feminino 2022: a volta aos bons tempos do futebol
No Brasil do século passado, mais precisamente na década de 1980 e início dos anos 90, era comum a presença das famílias nas arquibancadas dos estádios. O Brasileirão Feminino 2022 começou e a partida inicial ocorreu no Allianz Parque, com presença de público. O Fair Play esteve lá e mostra as diferenças entre jogos das equipas masculina e feminina no futebol tupiniquim.
Arena grande, público pequeno
A primeira coisa que chamou muito a atenção foi o número de ingressos disponíveis. No site de compras (www.ingressospalmeiras.com.br), apenas alguns setores do Allianz estavam disponíveis para o público. O que era de se esperar, pois se todos os setores estivessem abertos, as pessoas ficariam muito dispersas, e isso poderia prejudicar o espetáculo. Assim, todos os bilhetes de entrada vendidos fizeram com que a plateia ficasse reunida num bloco compacto.
O crescimento do futebol feminino no Brasil é notável nos últimos anos. Apesar disso, ainda estamos muito longe da equidade com o masculino. Os corredores vazios do estádio mostram bem esse paradoxo: por um lado, a arena vazia (o público total foi de 1232 pagantes); por outro lado, o próprio uso do Allianz Parque para um jogo de primeira rodada do Brasileirão retrata o potencial da categoria para os confrontos futuros. Vale lembrar que o Palmeiras vai disputar a Libertadores feminina ao lado do super campeão Corinthians, a equipa a ser batida nesta época.
Futebol feminino, público feminino
E se no relvado as mulheres dominam, nas arquibancadas ocorre o mesmo. Pelos cálculos deste que vos escreve, cerca de 70% do público presente era formado por mulheres e muitas, mas muitas, crianças. Até nas torcidas organizadas (estavam presentes a Mancha Alviverde e a Acadêmicos da Savóia, que usa uma imagem estilizada da personagem Penélope Charmosa em sua bandeira da ala feminina. As mulheres dominaram não só a presença, mas também ficaram no comando dos instrumentos musicais e dos cânticos da torcida.
Aliás, sobre cânticos de torcida, fica aqui um ponto a melhorar – algumas músicas são exclusivas do futebol masculino e não deveriam ser usadas nos jogos do feminino. E não ́é por machismo ou coisa do gênero – é simplesmente pelo fato de que a música não se aplica. Não adianta a torcida cantar que “Libertadores eu sou tri”, quando a equipa feminina irá disputar nessa época a sua primeira Copa. Então fica a dica para as torcidas criarem cânticos próprios para o futebol feminino.
O Fair Play apoia e divulga o futebol feminino no Brasil. Em nosso webcast semanal “Ginga Canarinha”, entrevistamos Mário Guerra, mais conhecido como Professor, que falou sobre o projeto do Ska. Pois ele estava lá, juntamente com sua malta. Ele publicou no Instagram:
Além das mulheres, foi notória a presença de famílias no estádio. E um clima muito mais leve e amistoso nas arquibancadas. Situação que lembrou muito os jogos do futebol masculino no século passado, quando as torcidas organizadas não existiam e os jogos tinham torcida dupla, muitas vezes misturadas entre si, algo inimaginável nos dias de hoje nos jogos dos rapazes.
Mas e o jogo?
O Palmeiras fez valer o mando da partida e começou a pressionar desde o início do jogo. Assim, o gol surgiu logo aos 12 da primeira etapa, com Bia Zaneratto a brilhar mais uma vez e abrir o placar ao cabecear após cruzamento pela esquerda. As palestrinas continuaram a pressionar e o Palmeiras quase amplia no final do primeiro tempo.
Após o intervalo o jogo ficou menos corrido, com poucas chances de ambos os lados. Aos 37 da segunda etapa, Bia Zaneratto sofreu pênalti e Byanca Brasil bateu e a guarda redes Nicole rebateu, mas Byanca Brasil reaproveitou e cravou o 2-0 no placar.
No finalzinho da partida, as Vingadoras conseguiram diminuir o placar com gol de Bruna Cotrim aos 42 do segundo tempo. Assim, o jogo terminou com o placar de 2-1 para as Palestrinas, que agora enfrentarão a equipa do Grêmio no dia 12 de março, e as Vingadoras vão encarar o super campeão Corinthians pela segunda jornada do Brasileirão 22.
Um exemplo para o futebol mundial
Numa semana em que as notícias não foram das melhores, com a guerra a aumentar a temperatura em território europeu, conflito de torcedores em Minas Gerais e com uma briga de adeptos sem precedentes no México, olhar para a paz do futebol feminino é quase uma tarefa obrigatória.
Que tal olharmos para o Brasileirão Feminino e o usarmos como exemplo de conduta nas competições? Afinal, o futebol é só um desporto e deveria servir para educar, entreter e divertir, e não o contrário.
Que sigamos com esse modelo de alegria e paz em todas as competições!