Borja: o jogador mais injustiçado da História do Palmeiras
América do Sul, Brasil, estádio do Morumbi, 06 de julho de 2016. Semifinal da Libertadores da América. São Paulo e Atlético Nacional brigam por uma vaga na finalíssima do torneio. Aos 82 minutos (ou aos 37 do segundo tempo para os brasileiros), o desconhecido avançado Borja, de pé direito, marca seu primeiro gol na competição. Cinco minutos depois, o mesmo Borja crava, de pé esquerdo, o segundo gol do Atlético Nacional sacramentando a vitória na primeira mão.
Uma semana depois, no jogo da segunda mão realizado na Colômbia, o sãopaulino Calleri abriu o placar logo aos 8 minutos de jogo. Com muito mais tradição e com o peso da camisa, dez entre dez adeptos tricolores acreditavam na reação sãopaulina e o caminho para a final estaria sacramentado…
Mas, como diz o poeta, “no meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho”. E a pedra no caso tem nome e sobrenome: Miguel Ángel Borja Hernandez, ou simplesmente Borja. Sete minutos após o gol tricolor, Borja recebeu em profundidade e bateu cruzado, com o pé esquerdo, empatando a partida. E aos 77 minutos de jogo, num gol de pênalti, Borja eliminou o Tricolor Paulista e colocou o Atlético Nacional da Colômbia na final. No jogo do título, contra o Independiente del Valle, o agora já conhecido Borja marcou o gol que valeu o título máximo – “A Glória Eterna” – à equipa colombiana.
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O excelente desempenho do avançado chamou a atenção das equipas brasileiras e o que se viu foi um verdadeiro leilão entre os clubes para decidir quem conseguiria trazer para seu elenco o goleador da Colômbia. Em fevereiro de 2017, o Palmeiras bateu o martelo e anunciou a contratação por 5 anos, por 10,5 milhões de dólares, com direito a uma calorosíssima recepção no Aeroporto Internacional de Guarulhos.
Os adeptos do Palmeiras estavam em estado de graça: o jogador que matara o rival tricolor no ano anterior agora vestia a camisa alviverde e iria disputar a Libertadores pelo Verdão. Sua média de gols pelo Atlético Nacional era impressionante: 0,63 gol/jogo. O Palmeiras era o campeão brasileiro de 2016 e agora contava em seu elenco com o principal jogador sul-americano. Comentaristas esportivos apostavam no Palmeiras como candidato principal a conquistar todos os títulos da jornada. Eles diziam – “o time já era bom, agora com o Borja…”
Mas o que se viu no relvado foi completamente diferente. Apesar de marcar um gol logo em sua estreia, quinze minutos após entrar no relvado, Borja demorou a se adaptar ao futebol brasileiro e sua média de gols em 2017 caiu drasticamente para míseros 0,27 gol/jogo. Em sete jogos do Verdão pela competição continental, Borja não fez nenhum gol. Os adeptos ficaram desconfiados, mas mesmo assim ainda acreditavam no potencial do agora ex-goleador colombiano.
E aí veio o ano da graça de 2018. Borja já estava mais adaptado ao futebol canarinho e não deixou a desejar: sua média de gols na Libertadores subiu para 0,75 gols/jogo. A título de comparação, é a mesma média que o atual atleta Marinho tem com a camisa santista na jornada 20/21. Além disso, foi dele o gol na primeira mão da final do Campeonato Paulista contra o Corinthians, em plena Arena Neoquímica (que na época ainda não tinha esse nome).
No jogo da segunda mão, a fatídica partida da interferência externa, Borja não marcou. E o Palmeiras perdeu o título em casa para o maior rival. Acredito que isso tenha um grande peso na insatisfação dos adeptos com o futebol de Borja. A torcida esperava que ele decidisse o jogo e trouxesse a Taça para o Palestra Itália. Mas isso não ocorreu.
Mesmo assim, 2018 foi o melhor ano de Borja no Palmeiras, quando conquistou a artilharia no Paulistão e se consagrou na Libertadores: em 12 partidas disputadas, Borja estufou as redes por nove vezes, e mais uma vez ganhou um prêmio pelo feito, como artilheiro da competição. Ele fez gols de todas as maneiras: pé direito, pé esquerdo, de cabeça, de pênalti. No Brasileirão foi pouco aproveitado, pois disputou a posição com o avançado Deyverson e por muitas vezes ficou no banco de reservas.
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Da mesma forma que Borja faz gols, Borja perde gols. Alguns deles incríveis. E definitivamente foi isso que fez com que parte da torcida não queira mais vê-lo a vestir o manto alviverde. Há inúmeros vídeos no YouTube que mostram os inacreditáveis gols perdidos por Borja. Situação semelhante ocorreu no começo da atual jornada com o atacante Rony, que hoje é abraçado pelos adeptos, mas no início de seus dias no Palmeiras perdeu muitos gols e chegou a ser chamado de Borja II.
Em 2019 Borja foi pouco aproveitado, mas mesmo assim somou mais dois gols na Libertadores, o que o alçou à condição de segundo maior artilheiro do Palmeiras na competição continental e brilhou bem menos do que na jornada 18. Deprimido por estar longe de sua família, pesavam contra ele as críticas dos adeptos, que o chamavam de caneludo e grosso, aliadas ao fato dos treinadores deixá-lo no banco de reservas. Tudo isso fez com que a diretoria negociasse o empréstimo do avançado ao seu clube do coração, o Júnior Barranquilla da Colômbia.
E não é que Borja voltou a brilhar em terras colombianas? Em apenas uma jornada no país vizinho, Borja já conquistou a artilharia e o prêmio de “Goleador” na Liga Dimayor, a Primeira Divisão da nação. A equipa do Junior também conquistou a Superliga Colombiana em 2020, ao vencer o América de Cali com gol do avançado na final. Os adeptos do Junior adoram o jogador, e chegaram a fazer campanhas nas redes sociais por sua permanência, quando do vencimento do contrato de empréstimo junto ao Verdão. A #BorjaNoSeVa foi uma das mais comentadas no Twitter.
O jogador que polarizou a torcida do Palmeiras. Melhor para os junioristas.
No Brasil os adeptos polarizaram-se em torno de seu regresso: enquanto parte da torcida não o queria de volta, outra parte (que inclui o colunista que vos escreve) torcia por seu retorno. Mas a diretoria preferiu prorrogar o contrato de empréstimo e mantê-lo na Colômbia, o que causou verdadeiro furor aos adeptos junioristas.
Borja não é um ás. Não é um jogador para criar jogadas. Não é o “cérebro” do time. Mas é o jogador que resolve. É o jogador que sabe fazer gol e o faz muito bem. De todas as maneiras, como vimos. É o vice artilheiro da História do Verdão na Libertadores. É jogador que cresce, e cresce muito, em jogos decisivos. É jogador que marca gol na final, no jogo eliminatório, na hora de “separar os adultos das crianças”, como dizemos por aqui. Mas a torcida do Palmeiras não gosta dele. Parte dos adeptos não o quer de volta.
Os colombianos agradecem. E comemoram. E levantam Taças.