Amores platônicos, Brasileirão 2023 e o eterno “pode ser…”
Antes de iniciar esse texto, uma informação importante: a inspiração para escrevê-lo veio da coluna da jornalista Milly Lacombe, do UOL, intitulada “Um Brasileirão Muito Louco”, publicada no último dia 6 de maio. Dito isso, seguimos.
Amores platônicos carregam em si um “pode ser” eterno. Aliás, a razão da existência de um amor platônico é o “pode ser”. Afinal, quando o amor idealizado se torna realidade, ele deixa de ser platônico. Ele sai do “pode ser” para o “é”.
A questão é que a raça humana precisa do “pode ser” para sobreviver. É o “pode ser” que movimenta a vida. Afinal, desde o momento do nascimento, e até mesmo antes de ver a luz, o ser humano convive com as possibilidades. Pode ser que seja um menino, pode ser que seja uma menina, pode ser que nasça num lar abastado, pode ser que se torne uma médica, pode ser que more no exterior, pode ser o novo técnico da Seleção, e por aí vai.
Amor platônico = desejo, nem sempre correspondido
O amor platônico, para continuar nessa condição, não pode evoluir, não pode ter um desfecho. Mas às vezes acontece. E nesses casos, quando a evolução é boa, ele se torna uma história de amor. Mas quando evolui para o outro lado, temos uma desilusão amorosa, e o “pode ser” vira o “não é”. Em ambos os casos, quando a possibilidade desaparece, logo surge outro “pode ser” a ocupar o lugar deixado pelo primeiro, pois como já vimos, a humanidade depende do “pode ser”.
O futebol é um esporte praticado por seres humanos. Assim, não é exagero dizer que o mesmo “pode ser” que move a humanidade move também o desporto-rei. Afinal, todas as torcidas iniciam uma época na esperança de que seu time possa ser o campeão. E assim como ocorre com os amores platônicos, as esperanças se renovam a cada nova época. Ou às vezes nem esperam tanto tempo assim. No futebol brasileiro, a renovação da esperança, ou a mudança do “pode ser”, muitas vezes surge com a troca de um técnico. Tá aí a torcida do São Paulo, que andava triste e cabisbaixa com Rogério Ceni, mas que agora ri sozinha com Dorival Junior no comando. Pode ser que dê certo.
Já o que move o multicampeão Palmeiras, o clube localizado ao lado do Tricolor, o amor platônico é a renovação eterna do contrato de Abel Ferreira, que a essa altura já ocupa o cargo de “técnico mais importante da História do Verdão”. A torcida alviverde hoje é movida pelo sonho do bicampeonato mundial de clubes. Pode ser que dê certo.
No outro lado da cidade, o Corinthians quer paz. Após mais um início de ano turbulento, o clube está na incômoda zona de despromoção e vai estrear o seu quarto técnico em quatro jornadas do Brasileirão 2023. Luxemburgo chegou para tentar acalmar os ânimos e colocar ordem na casa, que está muito bagunçada. O Timão está em três competições importantes, Brasileirão, Copa do Brasil e Libertadores, e a torcida almeja voltar aos velhos tempos em que o Alvinegro obtinha conquistas importantes. Pode ser que dê certo.
Pode ser, mas também pode não ser…
Na Baixada Santista, o Santos quer 45 pontos, número mágico que os matemáticos de plantão dizem ser suficientes para uma equipa não ser despromovida. O Peixe passa por muitos problemas dentro e fora do relvado, e assim suas aspirações são bem mais modestas comparadas aos demais. Nos últimos anos, maus resultados no campeonato paulista apontavam para campanhas ruins no Brasileirão, mas isso não se concretizou. O Time da Vila conseguiu se classificar para a Copa Sulamericana e esse é outro dos seus desejos para a atual época. Pode ser que dê certo.
No Sul, Grêmio e Internacional querem voltar a ser protagonistas. O Inter é o atual vice campeão brasileiro, mas poucos se lembram disso num país que só valoriza o primeiro lugar. O amor platônico do Colorado é o título brasileiro, que não vem desde os longínquos anos 70. Já o Grêmio, por sua vez, voltou da Série B e quer reconquistar seu lugar ao sol. Pode ser que dê certo.
Em Minas Gerais ocorre situação semelhante. O Cruzeiro vem da Série B e sonha com a volta dos áureos tempos de protagonismo, enquanto o Atlético tenta reviver o recente bom momento em que foi o melhor time do Brasil. Pode ser que dê certo.
E no Rio de Janeiro… é onde tudo está mais divertido. O Flamengo continua seu amor platônico com Jorge Jesus, mas a realidade é outro Jorge, o Sampaoli, que tenta repavimentar a estrada rubro-negra rumo às glórias. O Vasco também retorna da Série B e sonha em namorar firme, talvez até casar definitivamente, com a Série A. Equanto isso, o Fluminense ressurge no cenário carioca, com apresentações absolutamente impecáveis e seu técnico a flertar com a CBF pelo cargo de treinador da Seleção Brasileira. Alheio à toda essa movimentação, o Botafogo corre por fora e deixa todo mundo pra trás. O Fogão lidera o Brasileirão com 100% de aproveitamento após a quarta jornada e sonha com o título. Pode ser que dê certo.
Brasileirão e Copa do Brasil
O Brasileirão 2023 promete ser uma das melhores edições do certame. As quatro primeiras jornadas já mostraram isso. Pra se ter uma ideia, neste momento (domingo, 7 de maio, 22h), o líder da competição é o Botafogo, seguido por Palmeiras, Cruzeiro e Fortaleza. Com uma vitória no próximo jogo, o Corinthians pode sair da zona de despromoção e o Flamengo ocupará o seu lugar. Pode ser que essas equipas reajam e voltem a ocupar as primeiras posições. Numa época em que todas as equipas grandes estão a disputar a Série A, o campeonato tem tudo para ser emocionante do início ao fim. Pode ser que dê certo.
E além de tudo isso ainda temos a Copa do Brasil, que também está eletrizante com 15 de 16 equipas na Série A em sua fase de oitavas de final. Os confrontos já foram definidos e a emoção está garantida. A Copa do Brasil sonha em superar o Brasileirão e o Brasileirão sonha em superar a Copa do Brasil. Pode ser que dê certo.
Ou pode ser que não…