Um Werder Bremen em crescendo, um benefício para a Bundesliga!
Na Alemanha, os clubes estão sempre habilitados a dar a volta aos seus destinos ou a passar maus bocados, como é agora o melhor exemplo o Hamburgo. Todos os clubes (menos o Bayern, se bem que, neste momento, não está na melhor posição) têm de estar sempre no seu melhor para conseguirem tirar dividendos daquele que é um dos campeonatos mais competitivos do mundo. Neste caso, o Werder Bremen esteve perto de disputar a segunda divisão, escapando época após época à despromoção já nos últimos suspiros das épocas.
Nos primeiros anos desta década, a equipa pouco mais conseguiu fazer do que assegurar a sua presença entre os grandes, mas sempre deu a sensação de que o Bremen pode e deve fazer melhor, essencialmente porque se sentia que era uma equipa desequilibrada, sempre sujeita a grandes goleadas e a perder a aura do Weserstadion, que tradicionalmente já deu pesadelos a muitas equipas. Depois de duas épocas algo mais produtivas (8º e 10º lugares nas últimas épocas), a época 18/19 pode ser uma que revela um Bremen disposto a lutar por algo mais, possivelmente as competições europeias.
O ano de 2010 marca o último em que o clube conseguiu fazer um campeonato condizente com a sua dimensão e da sua massa adepta na Alemanha, chegando a um terceiro lugar. Na passada década, entre 2000 e 2010, a equipa lutava constantemente pelo pódio na Bundesliga, ganhando o campeonato em 2004 e sendo, por diversas vezes, vice-campeã. O decréscimo de qualidade foi uma realidade e, com ela, vieram piores prestações. O pilar principal foi sempre Thomas Schaaf, treinador que esteve no clube até 2013, batendo recordes de longevidade, e, desde aí, o clube tem sido irregular no que ao comando técnico diz respeito, tal como as suas campanhas na liga têm tendência a começar mal e a endireitar-se na segunda volta.
Este ano, numa altura em que temos quatro equipas com 14 pontos, num campeonato cada vez mais equilibrado entre equipas de segunda linha da Bundesliga, a equipa está bastante bem apetrechada e motivada para fazer uma pequena surpresa, com as sete jornadas decorridas a darem muito boas indicações. Estes são os segredos.
Jiri Pavlenka, o muro checo na baliza
O checo é um grande guarda redes, apenas ainda não conquistou o seu espaço de forma afirmativa na sua seleção por existir outro excelente guarda redes em Tomás Vaclík. Ainda assim, no que toca a nível de clube, é um guardião que oferece uma enorme segurança às redes do Bremen e que tem uma elasticidade muito acima da média.
Ainda que a equipa não seja particularmente a melhor da liga no que toca a nível defensivo, tem sempre alguém na baliza que lhe permite livrar-se de muitas situações complicadas e que lhe permite melhorar, cada vez mais, os seus registos defensivos, estando no Top 5 das defesas com menos golos sofridos na passada temporada. É, certamente, um guardião para poder chegar a um nível mais alto na sua carreira, assim continue a conseguir ser um dos principais esteios da equipa verde. O seu rácio de defesas face a remates à baliza concedidos pela equipa está entre os 80 a 85%, algo que é de um guarda redes de topo e quem estiver mais atento à Bundesliga pode comprovar isso mesmo.
Desfrute aqui de algumas das melhores defesas do guardião na passada época e que revelam o que ele pode trazer às aspirações do clube para esta temporada, com o vídeo a ser cortesia do seu clube.
Ludwig Augustinsson, a locomotiva esquerdina
O sueco Augustinsson tem cada vez mais vindo a ganhar destaque na equipa tendo em conta a sua capacidade ofensiva e a sua capacidade de trabalho. Não é certamente pelo lado esquerdo da defesa que se encontram as maiores fragilidades do conjunto de Bremen, visto que o sueco é daqueles jogadores raçudos, que não param de importunar os seus rivais e que não lhe permitem espaço para pensar, estando sempre em alta rotação e correndo muito.
Além disso, Ludwig é ainda um mestre no que toca à sua capacidade de cruzamento, tendo estatísticas, em termos de rácio Cruzamento-Percentagem de Remates que rivalizam com as de David Alaba, o melhor lateral da liga, ou de Phillip Max, o jogador do Augsburgo, também lateral esquerdo, que foi o segundo jogador com mais assistências na passada época.
É um jogador que brilhou pela seleção sueca que chegou aos quartos do Mundial do passado verão e que está a ver a sua cotação a subir em flecha. No fim de tudo, os laterais esquerdos de grande qualidade não se encontram em qualquer lado, e as características de Augustinsson são as ideais para qualquer equipa que pretende ver a sua lateral esquerda bem protegida.
A classe de Klaassen
Davy Klaassen, depois de uma experiência falhada em Inglaterra, optou por um clube que lhe trouxesse garantias de jogar e de liderar, optando por descer um degrau. Neste caso, não poderia ter feito melhor opção. Aos 25 anos, está a revitalizar uma carreira que estagnou na passada época com o pouco tempo de jogo que teve.
O holandês chegou para fazer esquecer Thomas Delaney, que saiu para Dortmund, e, sendo um jogador diferente, de cariz mais ofensivo, está a adaptar-se que nem uma luva ao que Florian Kohfeldt lhe pede. Com golo, com passe e com visão de jogo, Klaassen é, neste momento, o cérebro do meio campo dos verde e brancos, dando-lhe um toque de classe e de Midas que anteriormente não possuía. Mesmo a capacidade de atrair um jogador como Klaassen revela que alguma coisa de positivo está Kohfeldt a conseguir montar no tempo presente em Bremen.
Esperemos que esta possa ser uma estadia a longo prazo no Norte da Alemanha, porque o centrocampista holandês pode tornar-se um símbolo do clube, tudo o que basta é querer e manter as suas capacidades físicas intactas.
A experiência de Kruse e a juventude de Eggestein
Max Kruse tem já um longo historial no que toca à Bundesliga. Hoje com 30 anos, é o capitão do clube e tem a missão de dar a mística que Tim Wiese, por exemplo, sempre emprestou ao seu clube do coração. É, também ele, um homem da casa, que tem um pé esquerdo sinónimo de grandes golos e grandes sonhos. Praticamente nunca jogando pela equipa principal do Bremen no início da sua carreira, mesmo tendo sido aí formado, é agora a principal referência do clube, isto depois de, ainda que tendo uma boa carreira, nunca ter chegado a um patamar mais alto, algo que lhe era reconhecido como possível nos primeiros anos enquanto sénior.
Não sendo o típico avançado, consegue percorrer toda a linha da frente do terreno e ser um quarto médio, entendendo-se muito bem em termos de movimentos com quem surge atrás de si e conseguindo sempre boas posições para definir as jogadas corretamente.
Para contrastar com a experiência de Kruse, temos a irreverência de Maximilian Eggestein, mais um homem da casa, este apenas com 21 anos mas já com mais de 70 jogos pela equipa principal do Werder Bremen. A verdade é que a escola do Werder Bremen é considerada como uma das melhores da Alemanha, tal é a quantidade e qualidade dos talentos que de lá saem, e Eggestein pode ser um dos que está melhor colocados para brilhar no contexto internacional.
Internacional sub-21 pela Alemanha, é o parceiro de Davy Klaassen no meio campo e complementa-o muito bem através da sua retenção de bola e resistência interminável, mesmo não sendo um jogador particularmente rápido. Como curiosidade, repare-se que temos o caso de dois irmãos na mesma equipa, com Johannes Eggestein.
A capacidade de metamorfose do técnico Florian Kohfeldt
Como já mencionado, o comando técnico do Werder Bremen vinha sendo um lugar ingrato para quem o assumia, isto nos últimos 5 anos. Muitas alterações no seu comando técnico levaram a alguma instabilidade na equipa e a rendimentos abaixo do esperado.
No último ano, a situação mudou drasticamente, com o clube a estar no penúltimo lugar no fim de outubro e a acabar por realizar uma temporada tranquila, acabando como a quarta defesa menos batida, e, nesta temporada, os objetivos e a capacidade de os alcançar são outros. Florian Kohfeldt, nos últimos 12 meses, trouxe capacidade de adaptação à equipa, estando ela sempre habilitada a mudar o seu sistema de jogo mediante o que a oposição traz para dentro de campo.
O 4-3-3 mais ofensivo, com apenas um pivot, acaba, ainda assim, por ser o sistema preferencial do Bremen, e tão bons resultados lhe tem trazido, principalmente porque a equipa está em constante movimento, não permanecendo em zonas fixas, está em constante rotação, confundindo as marcações dos adversários e, acima de tudo, porque existe uma perfeita sincronia entre técnico e jogadores. Para tal, muito contribui o facto de Kohfeldt estar no clube há já 11 anos, passando pelas mais diversas funções dentro do clube, desde treinador adjunto dos vários escalões a treinador principal dos sub 23.
A nível defensivo, a equipa tanto usa uma tática de cinco defesas ou como se fecha em losango, dependendo do levantamento feito pelo treinador, e é aqui que, de facto, a adaptabilidade mais se nota. Em alguns casos, recorre até a uma marcação homem a homem em todo o campo.
Se apenas tivesse contado a segunda volta da passada temporada, o Werder Bremen teria garantido a sua presença nas competições europeias da passada época. Este ano, com este excelente início de campanha, com 14 pontos em 21 possíveis, o clube promete fazer jus à sua rica história, com diversos títulos, e pode lutar afincadamente pelos lugares europeus, com Florian Kohfeldt a querer corresponder às expectativas que tem criado nos ávidos adeptos do clube do Norte da Alemanha.