A tragédia grega galega de um Deportivo “doente” e em perigo pt.2

Ricardo LopesJunho 28, 20236min0

A tragédia grega galega de um Deportivo “doente” e em perigo pt.2

Ricardo LopesJunho 28, 20236min0
Carregado de problemas, sem solução à vista, o Deportivo vive dias tristes e Ricardo Lopes olha para os problemas do emblema galego neste artigo

Na primeira parte do artigo foi analisada a má sorte que o Deportivo carregou no final da temporada. O clube manteve-se na Primera RFEF, permitindo a subida de Ferrol e Alcorcón, equipas do mesmo grupo dos blanquiazules. O Castellón, embora tenha obtido a proeza de conseguir eliminar o Deportivo, não conseguiu o acesso.

Porém, nem tudo são más notícias. Esta terça-feira ficou conhecida a divisão do terceiro escalão do futebol espanhol e é ligeiramente diferente ao do ano passado. A linha que divide o país em dois passou a ser na horizontal, passando a existir um grupo no norte e outro no sul. Caso se mantivesse como na temporada passada, o Deportivo teria o azar de enfrentar todas as equipas andaluzas, como o Málaga. Se a linha se tivesse mantido na diagonal, três das quatro equipas que desceram de divisão calhariam no grupo A e dificultariam ainda mais a vida ao Deportivo. Assim, somente Lugo e Ponferradina são adversários que vieram de cima, algo que já era bastante previsível se analisarmos a geografia.

Os galegos vão para a quarta temporada nesta divisão, sempre se assumindo como favorito a vencê-la, algo que é alimentado ferozmente pelos adeptos, que estão fartos de ver o clube tão mal e os rivais a conseguirem estar um passo ou dois à frente. Esta temporada, o Depor voltará a ser a terceira equipa da Galiza, já que o Celta de Vigo está na La Liga e o Ferrol foi promovido à La Liga Smartbank, trocando com o Lugo, que faz agora companhia ao Deportivo, Vigo B e Arenteiro, como equipas da Galiza neste escalão.

A pressão é possivelmente um dos pontos chave para a constante falha no objetivo. Aliás, toda a questão mental deverá estar associada ao insucesso do Deportivo. Quando se assina pelo Depor, existe de imediato uma pressão de querer vencer e uma obrigação de estar em primeiro lugar, como se o clube fosse um exemplo de sucesso. Neste momento, não o é e tem que mudar em vários pontos para o poder voltar a ser. Embora o comportamento da maioria dos aficionados faça parecer que é um clube de primeiro escalão, a verdade é que o Depor está somente no terceiro, com sucessivos falhanços no objetivo da subida, o que leva inclusivamente a um cansaço dos jogadores.

Uma “lavagem” no plantel seria ideal até para as questões mentais. Não deve ser fácil para os jogadores falharem o objetivo primordial em três temporadas consecutivas. O medo naturalmente apodera-se dos atletas na hora da decisão, já que nas suas memórias recentes só existem falhanços. Nem todos os jogadores estão presentes no plantel desde o primeiro tiro ao lado (2020/21), mas com a dinâmica de grupo é algo que pode ser transmitido.

Só existem dois atletas que se mantêm desde 2020/21: Diego Villares e Alex Bergantiños, mas de 2021/22 já são em maior número. Apesar de ser complicado para todo o plantel de 2022/23 não terem alcançado o objetivo, para os atletas que já o falharam por mais de uma vez, ainda deve ser uma sensação pior, dada a pressão que foi exercida para com os mesmos ao longo dos últimos anos e que não tem sido correspondida em resultados.

A verdade é que o plantel do Deportivo tinha algum desequilíbrio, mas no seu geral era bastante competitivo. Houve constantes mudanças nos últimos anos em termos de jogadores, mas a direção (ou neste caso o ABANCA) manteve a qualidade do plantel, permitindo-se fazer constantes “all-in”. Hoje em dia isso reflete-se num problema, porque as finanças do clube estão afetadas. As receitas que uma Primera RFEF dá são bastante inferiores ao que uma La Liga Smartbank tem para oferecer. Menos publicidade, menos canais televisivos interessados, um bolo para repartir com outras 39 equipas. É de loucos conseguir estar três temporadas com super plantéis, recheado de jogadores com plenas capacidades para estar um escalão acima.

A montagem do plantel de 2023/24 deveria ser o reflexo disso: algo mais pensado e humilde, com margem de progressão para que o Deportivo continue a sonhar com uma subida, mas de uma maneira muito mais interna, sem o gritar aos quatro ventos. O ideal seria assumir uma candidatura ao play-off, retirando alguma pressão. Os adeptos vão gostar? Claro que não, porque eles querem ver o seu clube no topo, mas terá que existir a compreensão de que as finanças são de um clube que se está a autodestruir.

A estrutura do plantel, ou seja, a sua pirâmide, terá que ser melhor pensada e executada. Há uma série de jogadores em final de contrato. Quiles (tem propostas da Segunda Divisão) já assumiu a sua saída do clube, além de Bergantiños, que se irá retirar e integrar a estrutura (foi proposta a sua adição ao conselho de administração, que neste momento ainda está a ser preenchido). Os outros jogadores cujos contratos estão no seu término são Edu Sousa, Antoñito, Lapeña Pepe Sánchez e Svensson. Raúl Carnero e Rúben Díez acabam os seus empréstimos e irão voltar ao seu clube de origem.


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